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Republicanos iniciam campanha de 2016 agradando os charlatães e desequilibrados

Scott Walker, governador do Wisconsin e pré-candidato republicano à Presidência - Darren Hauck/Reuters
Scott Walker, governador do Wisconsin e pré-candidato republicano à Presidência Imagem: Darren Hauck/Reuters

Paul Krugman

21/02/2015 00h02

Scott Walker, o governador de Wisconsin, é supostamente um pré-candidato presidencial republicano em ascensão. Assim, na quarta-feira, ele fez o que, atualmente, qualquer republicano ambicioso deve fazer e jurou lealdade aos charlatães e desequilibrados.

Para as pessoas não familiarizadas, a frase "charlatães e desequilibrados" é associada a N. Gregory Mankiw, um professor de Harvard que serviu como conselheiro econômico chefe de George W. Bush. Na primeira edição de seu livro didático de economia best-seller, Mankiw usou essas palavras para ridicularizar os defensores da teoria do lado da oferta, que prometiam que cortes de impostos teriam efeitos mágicos sobre a economia a ponto dos déficits caírem, não subirem.

Mas, na quarta-feira, Walker, no que foi claramente um rito de passagem para uma candidatura séria, falou em um jantar no clube "21" de Manhattan, dado por três dos mais proeminentes defensores da teoria do lado da oferta: Art Laffer (da curva que leva seu nome); Larry Kudlow, da "CNBC"; e Stephen Moore, economista chefe da Fundação Heritage. A revista "Politico" apontou que Rick Perry, o ex-governador do Texas, participou de um evento semelhante no mês passado. Claramente, para ser um candidato republicano, é preciso cortejar um grupo poderoso de charlatães.

Assim, uma doutrina que até mesmo economistas republicanos consideram uma tolice perigosa se tornou a ortodoxia do partido. E o que torna esse triunfo político especialmente notável é que ele ocorre no momento em que os altos sacerdotes da doutrina estão estabelecendo novos padrões para um fracasso previsível total e épico.

Eu não estou falando do fato dos defensores da teoria do lado da oferta não terem visto a crise que estava chegando, apesar de não terem visto. Moore publicou um livro em 2004 intitulado "Bullish on Bush", afirmando que a agenda de Bush estava criando uma economia permanentemente mais forte. Kudlow zombava daqueles que alertavam contra as bolhas, que afirmavam que os preços inflacionados dos imóveis residenciais estavam prestes a sofrer um crash. Mas é possível argumentar que poucos economistas de qualquer doutrina previram plenamente o desastre que estava por vir.

Mas não se pode dizer o mesmo dos desdobramentos pós-crise, onde as pessoas que Walker estava cortejando passaram anos alertando sobre as coisas erradas. "Preparem-se para inflação e taxas de juros mais altas" era o título de um artigo de opinião de junho de 2009, no "The Wall Street Journal" , de autoria de Laffer. O que ocorreu foi a inflação mais baixa em duas gerações e as taxas de juros mais baixas na história. Kudlow e Moore previram estagflação ao estilo dos anos 70.

Para ser justo, Kudlow e Laffer posteriormente reconheceram que estavam errados. Mas nenhum deu qualquer indicação de reconsiderar suas posições, muito menos reconhecer a possibilidade de que os muito odiados keynesianos, que acertaram a maioria das coisas enquanto os defensores do lado da oferta erravam tudo, podiam saber algo. Kudlow descreve a não materialização da inflação descontrolada –algo que ele vinha prevendo desde 2008– como "milagrosa".

Outra coisa que vale a pena notar: como convém à sua posição na Heritage, Moore gosta de publicar artigos cheios de números. Mas seus números estão consistentemente errados; eles são dos anos errados ou não têm nada a ver com que as fontes originais dizem. E, de algum modo, esses erros sempre vão na direção que ele deseja.

Logo, o que diz sobre o atual estado do Partido Republicano o fato de a discussão da política econômica ser monopolizada por pessoas que erraram a respeito de tudo, não aprenderam nada com a experiência e nem mesmo apresentam seus números corretamente?

A resposta, eu sugeriria, vai além de uma doutrina econômica. De modo geral, a direita americana moderna parece ter abandonado a ideia de que existe uma realidade objetiva, mesmo quando contraria o que seus preconceitos dizem que deveria estar acontecendo. No que você vai acreditar, na doutrina de direita ou em seus próprios olhos mentirosos? Atualmente, a doutrina vence.

Veja outra questão, a reforma da saúde. Antes da Lei do Atendimento de Saúde a Preço Acessível entrar em vigor, os conservadores previram desastre: os custos de saúde subiriam, os déficits explodiriam, mais pessoas perderiam cobertura de saúde do que ganhariam. Todas as previsões foram erradas. Mas, na retórica deles, mesmo nos supostos fatos (nenhum deles verdadeiros) que pessoas como Moore colocam em seus artigos, eles simplesmente ignoram essa realidade. Ao lê-los, você pensaria que o fracasso funesto que previram erroneamente está de fato acontecendo.

E há a política externa. Nesta semana, Jeb Bush tentou demonstrar sua habilidade nessa área, apresentando sua equipe de especialistas –que são, é claro, as mesmas pessoas que insistiam que os iraquianos nos receberiam como libertadores.

E nem vou falar sobre a mudança climática.

Juntamente com essa negação da realidade vem uma ausência de prestação de contas pessoal. Na verdade, os supostos especialistas parecem ganhar pontos ao mostrarem estar dispostos a continuar dizendo as mesmas coisas independentemente de quão embaraçosamente errados se mostraram no passado.

Mas vamos voltar aos charlatães e desequilibrados econômicos. Claramente, o fracasso apenas os deixou mais fortes, e agora são "fazedores de reis" políticos. Tenha medo, tenha muito medo.

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