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Eleições determinam quem possui o poder, e não a verdade

Will Oliver/ EFE
Imagem: Will Oliver/ EFE

Paul Krugman

07/04/2015 00h03

O desempenho econômico da Grã-Bretanha desde que começou a crise financeira tem sido surpreendentemente ruim. Uma tentativa de recuperação começou em 2009, mas estagnou em 2010. Apesar de o crescimento ter sido retomado em 2013, a renda per capita real só agora está alcançando seu nível anterior à crise - o que significa que a Grã-Bretanha teve um histórico muito pior desde 2007 do que durante a Grande Depressão.

Enquanto o país se prepara para ir às urnas, porém, os líderes da coalizão que o governa desde 2010 estão posando de guardiões da prosperidade, como as pessoas que realmente sabem conduzir a economia. E, de modo geral, estão conseguindo se dar bem.

Existem algumas lições importantes aí, não apenas para a Grã-Bretanha, mas para todas as democracias que lutam para administrar suas economias em tempos difíceis. Falarei dessas lições em um minuto. Mas primeiro deixem-me perguntar como um governo britânico com um registro econômico tão pobre pode se sustentar sobre suas supostas conquistas econômicas.

Bem, você poderia culpar a fraqueza da oposição, que fez um trabalho absolutamente péssimo ao defender suas teses. Você poderia culpar a ineficácia da mídia noticiosa, que entendeu muita coisa errado. Mas a verdade é que o que está acontecendo na política britânica é o que acontece quase sempre, lá e em todos os outros lugares: os eleitores têm uma memória bastante curta, e não julgam a política econômica pelos resultados em longo prazo, mas pelo crescimento recente. Em cinco anos, o histórico da coalizão parece terrível. Mas nos últimos trimestres parece bastante bom, e isso é o que importa politicamente.

Ao fazer essas afirmações, não estou praticando especulação casual - baseio-me em um grande corpo de pesquisas de ciência política, enfocado principalmente em disputas presidenciais nos EUA, mas claramente aplicáveis a outros lugares. Essa pesquisa derruba quase todas as narrativas de disputa acirrada amadas pelos analistas políticos, não importa quem vença o novo ciclo, ou quem apele àssupostas preocupações dos eleitores independentes. O que importa principalmente é o crescimento da renda imediatamente antes da eleição. E eu disse imediatamente: estamos falando de algo pouco menor que um ano, talvez menos de um semestre.

Esse é, se você pensar a respeito, um resultado perturbador, porque diz que há pouca ou nenhuma recompensa pela boa política. Os líderes de um país podem fazer um excelente trabalho de administração econômica durante quatro ou cinco anos, mas ser derrubados pela fraqueza nos últimos dois trimestres antes da eleição. Na verdade, a evidência sugere que a coisa politicamente inteligente talvez seja impor uma depressão inútil ao país durante a maior parte de seu mandato, somente para deixar espaço para uma recuperação retumbante pouco antes de os eleitores irem àsurnas.

Na verdade, essa é uma descrição bastante boa do que fez o atual governo britânico, embora não esteja claro se isso foi deliberado.

A questão, portanto, é que as eleições - que supostamente deveriam tornar os políticos responsáveis - não parecem cumprir essa função muito bem quando se trata de política econômica. Mas alguma coisa pode ser feita contra essa fraqueza?

Uma resposta possível, que atrai a muitos analistas, poderia ser retirar a política econômica da esfera política e entregá-la a comissões de elite apartidárias. Isto presume, entretanto, que as elites sabem o que estão fazendo - e é difícil ver o que, nos acontecimentos recentes, poderia nos fazer acreditar nisso. Afinal, as elites americanas passaram anos nas garras do bowles-simpsonismo, uma obsessão completamente deslocada sobre déficits orçamentários. As elites europeias, com seu compromisso com a austeridade punitiva, foram ainda piores.

Uma resposta melhor e mais democrática seria buscar um eleitorado mais bem informado. Uma coisa realmente notável sobre o debate econômico britânico é o contraste entre o que passa por análise econômica na mídia - mesmo em jornais de ponta e em programas de TV voltados para a elite - e o consenso dos economistas profissionais. O noticiário muitas vezes retrata o crescimento recente como uma justificativa das políticas de austeridade, mas estudos feitos por economistas revelam que uma pequena minoria concorda com essa afirmação. As declarações de que os déficits orçamentários são a questão mais importante que a Grã-Bretanha enfrenta são feitas como se fossem simples afirmaçõesde fatos, quando na verdade são discutíveis, senão tolas.

Por isso as reportagens sobre questões econômicas poderiam e deveriam ser extremamente melhores. Mas os cientistas políticos certamente zombariam da ideia de que isto faria muita diferença para os resultados das eleições, e eles provavelmente estão certos.

O que, então, deveríamos fazer, nós que estudamos política econômica e nos importamos com os resultados no mundo real? A resposta, certamente, é que deveríamos fazer nosso trabalho: tentar entender as coisas e explicar nossas respostas da maneira mais clara possível. De modo realista, o impacto político geralmente será marginal, no máximo. Coisas ruins acontecem com boas ideias, e vice-versa. Assim seja. As eleições determinam quem tem o poder, e não quem tem a verdade.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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