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Atenção: não vá direto da faculdade para a consultoria

Richard Branson

14/08/2014 00h03

P: Eu me formei na faculdade em empreendedorismo por uma instituição nigeriana. Graças ao meu curso, eu gerei várias ideias próprias de negócios. Mas amigos e colegas sempre me pedem para ajudá-los a desenvolver suas próprias ideias, ou me pedem conselhos para determinar a viabilidade de empreendimentos potenciais. Pelo que sei, esse tipo de conselho costuma ser dado por consultores de negócios. Logo, em vez de me concentrar em ser um empreendedor, será que devo me tornar um consultor?

–Charles Aduloju

R: Eu sempre me assusto ao ouvir sobre jovens passando para consultoria logo após a escola, sem terem acumulado muita experiência de trabalho no mundo real.

Dar esse tipo de salto não tem paralelo na maioria das profissões. Imagine embarcar em um avião e saber que o piloto no comando só voou em um simulador de voo. Você ficaria mais que incomodado! Igualmente, há um motivo para os cirurgiões cardíacos aspirantes passarem anos nas salas de operação como assistentes, observando outros cirurgiões, antes de operarem por conta própria.

Mas todo dia nós colocamos o destino de milhares de empresas, grandes e pequenas, nas mãos de pessoas que nunca dirigiram com sucesso uma empresa (muito menos espatifaram uma). Para piorar, qualquer pessoa pode  chamar a si mesma de consultora atualmente –nenhuma qualificação é necessária.

Antes de você dar o salto e entrar no mundo da consultoria de negócios, considere estas quatro perguntas que eu faria, caso um consultor batesse à minha porta à procura de um cliente:

1. Você já dirigiu uma empresa?

Após lançar centenas de empreendimentos ao longo de quatro décadas, eu sei por experiência que não há nada como botar a mão na massa quando se trata da administração de uma empresa. Quando você começa, a curva de aprendizado é acentuada, já que você precisa dominar uma série de campos ao mesmo tempo –da gestão da cadeia de fornecedores até o marketing, contabilidade, atendimento ao cliente. Eu não acho que exista um curso que possa realmente preparar um empreendedor para lidar com sucesso com todos esses aspectos importantes de um empreendimento.

Logo, como consultor, a menos que você seja um especialista em um nicho de mercado relevante para uma necessidade de consultoria muito específica, eu esperaria de você uma abundante experiência empresarial. E esse tipo de experiência não se resume ao entendimento básico do mundo dos negócios –também trata-se de habilidades fundamentais para lidar com pessoas. Mostre-me que você entende como inspirar, motivar e liderar os outros; este é o fator individual mais importante para o sucesso nos negócios.

2. Você sabe com é fracassar?

O fracasso é simplesmente indispensável para a experiência empresarial. No grupo Virgin, eu não acho que estaríamos onde estamos hoje se não fosse pelos muitos empreendimentos pequenos e grandes que não saíram tão bem quanto esperávamos. Lembra da Virgin Brides? Ou da Virgin Clothes? Esses empreendimentos figuram proeminentemente em nossa lista de fracassos épicos –mas eles nos ajudaram a criar empresas melhores.

O motivo é simples: há mais o que aprender com os erros do que com os sucessos. Entender o que deu errado, onde os instintos falharam, ou que fatores internos e externos foram responsáveis por tirar uma empresa dos trilhos são lições vitais nos negócios. O entendimento dos fracassos anteriores é chave para os sucessos no futuro.

3. Você tem coragem de dizer que uma ideia ruim é ruim?

No caso da Virgin Brides, nossa tentativa fracassada em entrar no setor de moda para noivas e casamentos nos anos 90, nós ingressamos em um mercado lotado, altamente competitivo, do qual sabíamos pouco, e nosso produto não atraiu clientes da mesma forma que outras marcas Virgin conseguiram.

Nós aprendemos que quando as pessoas saem à procura de um vestido de casamento, a tradição fala mais alto do que uma ruptura ousada, ao estilo Virgin, de modo que não éramos adequados ao mercado. De muitas formas, nós não fizemos nossa lição de casa –e também nos deixamos levar por expectativas exageradas.

Nesta situação, um bom consultor poderia ter erguido algumas bandeiras vermelhas desde cedo. Mas é preciso coragem para balançar o barco, e muitos consultores não gostam de confrontar seus clientes com verdades dolorosas.

4. Você está ávido por conhecimento?

Os negócios, os mercados e as sociedades estão evoluindo constantemente. Quando começamos a Virgin Records no início dos anos 70, nós vivíamos em um mundo analógico, fragmentado, vendendo discos de vinil que atendiam a nichos de interesse musical.

Quatro décadas depois, nós estamos em um ambiente de negócios globalizado, interconectado, com muito pouco em comum com o mundo em que a Virgin nasceu. As cadeias globais de fornecedores, o comércio eletrônico, a chegada das redes sociais e mudanças demográficas transformaram radicalmente a forma como fazemos negócios.

Para que um consultor seja bem-sucedido nesse mundo em rápida transformação, ele precisa ter a habilidade de se adaptar frequentemente, um zelo por aprendizado por toda a vida e uma disposição de abraçar um grau ainda maior de especialização do que antes. Pense nos exércitos de consultores que encontraram forma de ganhar a vida trabalhando na otimização de ferramentas de busca, avaliação de riscos sociais ou gestão de acionistas, para citar apenas algumas poucas opções.

Assim, Charles, ajude seus amigos a abrirem seus negócios. Mas antes de se tornar consultor, dê uma chance ao empreendedorismo.