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Desacordo e debate na gestão são saudáveis, mas deve-se seguir em frente

Richard Branson

10/10/2014 00h03

P: Você poderia fazer sugestões sobre como fazer uma parceria de negócios funcionar, quando seus parceiros não se olham nos olhos?

–Velma Ganassini

R:
Velma, nos negócios assim como na vida, você não se dará bem com todo mundo o tempo todo. Lidar com as diferenças à medida que surgem, ao mesmo tempo permanecendo aberta aos pontos de vista dos outros, é crucial para a construção de relacionamentos de negócios duradouros.

Em mais de 50 anos nos negócios, eu aprendi que ter um debate saudável sobre estratégia e direção é vital para que um negócio seja bem-sucedido, de modo que sempre encorajo meus colegas a me contestarem e se manifestarem se discordam de algum dos planos do grupo. O velho ditado de que "família que come junta, permanece junta" também se aplica aos desentendimentos nos negócios –uma equipe que contesta uns aos outros será bem-sucedida junta. Isso pode parecer um conselho ruim para líderes que acreditam que as equipes administrativas seniores devem sempre ser harmoniosas, mas eu discordo. É claro, você não pode bater cabeça permanentemente com seus colegas ou cofundadores, mas um debate ocasional é bom para todos e ajudará a aguçar o foco de sua equipe.

Nas reuniões dos gerentes seniores na Virgin, nós nem sempre concordamos imediatamente sobre quais investimentos serão feitos ou qual será o curso de ação. Por exemplo, em 1999, todos meus colegas seniores eram contrários ao nosso lançamento da Virgin Blue Airlines (atualmente Virgin Australia Airlines). Mas eu e outros apoiadores do empreendimento lutamos arduamente para seguir em frente, já que sentíamos fortemente que a companhia aérea se tornaria um negócio muito lucrativo –e que revelou estar certo. (Por outro lado, eu mantive nossas lojas Virgin Megastores abertas alguns anos a mais do que meus colegas queriam, e eles estavam certos.)

A longo prazo, desacordo e debate é saudável –organizações dirigidas por um presidente-executivo que comanda uma equipe de pessoas que só dizem "sim" dificilmente terá sucesso. Eu sempre me cerquei de colegas que pensam de modo diferente de mim e que trazem habilidades diferentes para nossas empresas.

Como escrevi em colunas anteriores, meus primeiros negócios foram fundados com Nik Powell quando éramos adolescentes. Nós complementávamos um ao outro bem –Nik era muito organizado e cauteloso, enquanto eu era mais um espírito livre. Nós aprendemos muito sobre como trabalharmos juntos ao criarmos a revista "Student", nosso negócio de venda de discos pelo correio e depois uma empresa de varejo –ele era o contraste perfeito para mim, já que eu constantemente tinha ideias para novos empreendimentos. Mas o relacionamento começou a ter problemas quando criamos a Virgin Records, nossa gravadora, e eu trouxe meu primo, Simon Draper.

Àquela altura, a Virgin tinha três fundadores e todos tinham muito trabalho a fazer, de modo que não tínhamos motivo para duvidar que nossa parceria continuaria. Mas, após alguns sucessos iniciais com Mike Oldfield e depois os Sex Pistols, nosso selo descobriu que os artistas mais novos não estavam vendendo tão bem. A recessão do início dos anos 80 cobrava seu preço e enfrentávamos a perspectiva de perder 1 milhão de libras por ano.

A Virgin tinha duas opções. A primeira era encolher a atividade de gravadora e consolidar, a tática defendida por Nik. Ele queria investir qualquer dinheiro extra que tínhamos na modernização da rede de varejo. A segunda opção, defendida por Simon, seguia o caminho oposto: investir em novos talentos e fazer nossa gravadora crescer, para assim sair das dificuldades. Ele tinha visto The Human League e também queria contratar Phil Collins, o que ele tinha certeza que reforçaria o elenco da Virgin Records.

Eu estava genuinamente em conflito sobre qual caminho seguir. No final, eu decidi que não conseguiríamos sair das dificuldades por meio de cortes e que deveríamos procurar por novos artistas para aumentar a venda de discos. Isso me obrigou a dizer ao Nik que ele perderia seu emprego, e que eu compraria sua participação acionária na Virgin. Nós passamos um bocado de tempo acertando um acordo, mas Nik e eu ainda somos bons amigos e ele passou a dirigir a National Film and Television School, uma das mais importantes do mundo.

Com o passar dos anos, eu tive desacordos fundamentais com minha equipe de gestão em algumas poucas ocasiões, mas em todas as vezes nós seguimos em frente, aceitamos os pontos de visto dos outros e, com sorte, aprendemos algo no processo.

Ao avaliar os motivos para você e seus parceiros não se entenderem, tente encorajar uma conversa real, para que vocês possam chegar à raiz do problema. Evite análises por PowerPoint, já que essas apresentações introduzem um tom quase robótico, não natural, que não ajuda quando estamos tendo uma discussão. E lembre-se que não há forma melhor de resolver uma diferença de opinião do que com um debate forte e com bom humor –e talvez uma bebida ou duas juntos!