Análise de fóssil raro de monstro jurássico aponta para descoberta de nova espécie
Talvez seja o maior quebra-cabeças já visto, mas, neste caso, ele não vem com instruções na caixa.
Centenas de ossos estão espalhados pelo chão, e Hilary Ketchum, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford, no Reino Unido, se oferece para remontá-los para mim.
Ela leva mais de uma hora para colocar todas as partes de Eva, o plesiossauro, em seus devidos lugares. Assim, é possível ver claramente a dimensão gigantesca do animal, com suas grandes nadadeiras e pescoço comprido.
Os plesiossauros dominaram os oceanos por mais de 100 milhões de anos antes de serem extintos ao mesmo tempo que os dinossauros.
Até hoje, ainda restam dúvidas sobre sua biologia, anatomia e evolução.
Fósseis raros
Plesiossauros são animais bem incomuns, diz Ketchum, que supervisiona espécimes geológicos no museu britânico.
"Eles são um tipo de réptil com parentesco com outros répteis, como dinossauros, crocodilos, ictiossauros e tartarugas, por exemplo, mas não sabemos exatamente onde se encaixam neste universo", afirma a cientista.
O animal foi encontrado por um grupo de arqueólogos amadores a partir de uma lasca de osso achada em uma pedreira.
"Um dia, um dos membros do grupo achou um pequeno osso de uma nadadeira em uma porção de argila. Depois de investigar mais, eles encontraram mais e mais ossos até descobrir o esqueleto completo", diz Ketchum, apontando para o esqueleto de 165 milhões de anos no chão ao seu lado.
"É muito empolgante, porque pensamos que se trata de uma nova espécie. Se não for, é algo bem incomum. Fósseis de plesiossauros são muito raros, especialmente um exemplar completo como esse."
Pedra jurássica
O fóssil foi achado na cidade de Peterborough, no leste da Inglaterra, por Mark Wildman e membros do Grupo de Trabalho Oxford, uma equipe formada por arqueólogos profissionais e amadores.
Eles o batizaram de "Eva", já que se tratou de seu primeiro grande achado. Mas seu sexo não foi identificado. O único fóssil de plesiossauro confirmado como fêmea até hoje foi encontrado com um bebê dentro.
Eva foi achada em 2014 em meio a uma camada de rochas jurássicas que esteve um dia sob um oceano e é conhecida por conter esqueletos de animais marinhos antigos, como plesiossauros e icitiossauros.
Essa camada, conhecida como Oxford Clay, se estende por uma faixa que corta a Inglaterra do sul ao nordeste e é exposta na superfície em pedreiras no entorno de Oxford, Peterborough e Weymouth, onde foram feitas muitas descobertas de fósseis durante a era vitoriana.
O fóssil de Eva foi doado pelos donos da pedreira Fonterra para o museu da Universidade de Oxford, onde funcionários passaram meses limpando-o e reparando danos.
'Ossos bonitos'
Em um laboratório ao lado do museu, Juliet Hay retira delicadamente a argila do crânio do réptil com um bisturi. O cuidado neste processo é necessário para preservar os delicados ossos e dentes.
É uma tarefa trabalhosa e que requer nervos de aço, mas essencial para preparar o crânio para novas análises.
Algumas semanas depois, no portão do edifício de Ciências da Vida da Universidade de Bristol, conheço Roger Benson, que está investigando o fóssil.
Conforme o crânio entra no aparelho de tomografia computadorizada, ele fala sobre a descoberta: "Acho que vamos ver alguns ossos bem bonitos".
'Animal inédito'
O crânio já passou pelo mesmo processo no Royal Veterinary College, em Londres, para análise da posição dos ossos e dentes dentro do bloco de argila.
Desta vez, a máquina de tomografia mais potente pode revelar os segredos de Eva e determinar se ela é de uma nova espécie.
"Está claro nestas imagens de alta resolução que temos em mãos ossos muito bem preservados que nos darão muita informação", diz Benson.
"Pelo que vimos até agora do seu corpo, sabemos que tem algumas características diferentes em comparação com outros animais que já vimos, então, é bem provável que seja um animal inédito para a ciência."
Ele afirma que novas análises dos detalhes do crânio podem ajudar a confirmar isso. Também ajudarão Juliet Hay a extrair ossos com mais precisão.
"É como montar um quebra-cabeça quando você tem apenas a foto na tampa da caixa", acrescenta.
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