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Após furto e pedido de "resgate", óculos de Lampião ganham esquema de segurança

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

12/01/2012 15h56

Dois dias após serem recuperados pela Polícia Civil, os óculos de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro “Lampião”, ainda não voltaram para exposição ao público no museu da Casa de Cultura de Serra Talhada, cidade no sertão de Pernambuco localizada a 414 km do Recife. Recuperada um mês após ser roubada, a relíquia terá um esquema especial de segurança antes de voltar a ser exibida.

Segundo o presidente da Fundação Casa da Cultura de Serra Talhada, Tarcisio Rodrigues, várias medidas serão adotadas a partir de agora para garantir a segurança ao patrimônio cultural existente no museu. Entre as ações previstas está a instalação de câmeras, que devem vigiar o local 24 horas por dia.

“Eu já encomendei e estou esperando para amanhã o projeto para instalação de câmeras. Acredito que entre 20 e 30 dias elas sejam instaladas”, disse, afirmando que o projeto custará entre R$ 10 mil e R$ 12 mil e será pago com os recursos previstos enviados pela Prefeitura de Serra Talhada, que mantém a fundação.

Outra medida a ser adotada pela direção do museu é a instalação de um disciplinador, que vai manter uma distância entre os óculos e o público. “Vou pôr essa corrente para o público não ter mais acesso à peça, como era antes. As nossas funcionárias também estão passando por treinamento para não repetir o mesmo erro e terem mais cuidados agora. As medidas valem não só para os óculos, mas para todas as peças que guardamos aqui, que têm um enorme valor cultural”, explicou.

O diretor da fundação também antecipou que vai pedir apoio da Polícia Militar para manter rondas nas imediações do museu durante as noites e madrugadas. “Ainda não fiz esse contato, mas vou enviar um ofício nos próximos dias solicitando essas rondas”, disse.

O pedido de resgate

Tarcísio Rodrigues não escondeu a surpresa com a forma como os óculos foram recuperados, na última terça-feira (10). “Chegou o rapaz aqui dizendo à funcionária da recepção que queria falar com o 'dono' dos óculos. Durante a vinda dele até minha sala, mandei chamar a polícia, que demorou uns 15 minutos para chegar. Nesse período, fui conversando com ele, enganando para que ele não saísse do local”, contou.

Durante a conversa, o acusado Manoel Mecias da Silva Santos, 20, teria tentado negociar o pagamento de uma recompensa para que os óculos fossem devolvidos ao museu. “Ele perguntou se eu queria negociar, que ele tinha pego os óculos com um amigo dele.

Perguntou quanto valeriam os óculos, que se não quisesse pagar, ele levaria para vender em São Paulo. Tentei explicar a ele que não iria conseguir vender, mas ele estava irredutível. Quando a polícia chegou, ele levou até o local onde estavam os óculos e confessou o roubo”, explicou Rodrigues.

O furto

Segundo a Fundação Casa da Cultura, os óculos foram furtados no horário de visitação, entre 18h e 22h, no dia 11 de dezembro. Os óculos do maior cangaceiro da história –e que viveu no início do século passado aterrorizando as cidades do Nordeste– são de ouro 16 quilates e têm selo de autenticidade.

A relíquia foi doada por um filho de um coiteiro [pessoa que acobertava e dava abrigo] de Lampião e é a única peça comprovadamente autêntica que o museu abrigava. "Essa peça tem uma importância histórica inestimável. Os óculos passaram por uma análise e ficou provado ser realmente de Lampião”, afirmou Rodrigues.

Os óculos foram tema de um documentário do canal de televisão "History Channel", quando foi comprovada a origem do acervo.