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Após novo confronto em área reintegrada, manifestantes protestam em São José dos Campos (SP)

Do UOL*, em São Paulo

23/01/2012 12h08Atualizada em 23/01/2012 16h19

Após um novo confronto realizado na manhã desta segunda-feira (23) no bairro do Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos (92 km de São Paulo) –que passou por uma reintegração de posse ontem–, moradores do município fizeram uma manifestação contra a ação policial. Eles se reuniram na praça Afonso Pena no meio da manhã e chegaram a ocupar a rua em frente ao prédio da antiga Câmara Municipal. Houve  passeata e distribuição de panfletos.


As manifestações contra a desocupação, que também aconteceram em outros pontos da cidade, são organizadas por representantes de entidades sindicais e estudantis, além do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Já na capital paulista, o secretário-adjunto da Casa Civil, José do Carmo Mendes Jr., recebeu nesta segunda-feira uma comissão de ex-moradores da região. Eles se manifestaram em frente ao Palácio dos Bandeirantes contra a ação policial. "Atendendo à solicitação da comissão, foram agendadas duas audiências ainda nesta segunda-feira: às 15h, com a secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloísa Arruda, e às 17h, com o secretário da Habitação, Silvio Torres. As audiências ocorrerão nas respectivas sedes das secretarias", afirma a nota.


Os moradores que foram retirados do Pinheirinho voltaram a enfrentar os policias na manhã de hoje, mas ninguém ficou ferido. A situação continua tensa, mas não há mais registro de conflitos até o começo da tarde. A confusão começou logo após o início da retirada dos móveis das residências do assentamento. Segundo os moradores, algumas pessoas não foram permitidas a acompanhar a retirada dos pertences, o que provocou o confronto. Também houve confusão na fila do centro de triagem. Para dispersar os moradores, a polícia jogou bombas de efeito moral.

A polícia está lacrando os imóveis e colocando etiquetas nos pertences dos moradores, para que um caminhão da prefeitura recolha os objetos e os leve para um depósito da empresa Selecta, do investidor libanês naturalizado brasileiro Naji Nahas, proprietário da área.

A ação de reintegração de posse começou na manhã de ontem (22) e cumpre determinação da Justiça estadual de São Paulo em benefício da massa falida da empresa Selecta.

Na área ocupada irregularmente há oito anos viviam cerca de 6.000 pessoas, das quais apenas 600 procuraram centros de triagem da prefeitura alegando não ter para onde ir. O restante está pelas ruas do bairro Campos dos Alemães, próximo ao Pinheirinho.

Área é desocupada pela PM
em São José dos Campos (SP)

  • Arte/UOL

Após 29 horas da operação de reintegração, moradores ainda estão sendo atendidos pelas equipes de assistência social da prefeitura. A fila para atendimento, que está instalada nas tendas montadas no centro comunitário de Campos dos Alemães, é enorme. Centenas de pessoas aguardam passar pelo cadastro social.

“Estou na fila há quatro horas e até agora não consegui ser atendida. No meu barraco moravam sete pessoas. Estou abalada e triste com o que está acontecendo. Perdi minhas coisas e agora não sei para onde irei. Só tenho um número, só sou um número. É este aqui (mostrando o papel com a senha recebida enquanto desocupava a área ontem à tarde)”, disse a dona de casa Eliane Borges Figueira, 30, ao UOL.

Erdilei Alves, 24, e a mulher Ana Lúcia Alves, 24, foram alguns dos desabrigados que dormiram em uma igreja que serve de abrigo público. Eles ouviram uma suposta bomba que teria sido jogada durante a madrugada. “Estávamos deitados no chão quando vimos a explosão. Quase acertou uma equipe da assistente social que estava próximo da gente”, conta Ana Lúcia, que relatou ter passado a noite deitada no chão frio. “Não tinha colchão, não tinha nada no chão. Só o gelado”, completa.

Detidos e abrigados

Desde o início da operação, cerca de 30 pessoas foram presas, segundo a Polícia Militar, que informou ainda que nove veículos além de um carro da emissora Rede Vanguarda, afiliada da Rede Globo, foram incendiados. Durante a madrugada uma padaria de um vereador também foi incendiada, além de uma escola municipal.

A Prefeitura de São José dos Campos informa que cerca de 650 pessoas permanecem abrigadas num ginásio de esportes e numa escola do bairro Dom Pedro 1º, próximo ao local onde foi cumprida a ordem judicial de reintegração de posse. Também há moradores abrigados em uma igreja.

Segundo a prefeitura, foram cadastradas até agora perto de mil famílias e a grande maioria está preferindo ir para casa de amigos e familiares. Na rede de saúde, foram atendidas 20 pessoas com ferimentos leves, todas medicadas e liberadas. Apenas uma pessoa permanece internada –um homem que foi atingido por um tiro na manhã de domingo (22).

*Com colaboração de Rodrigo Machado, em São José dos Campos, e informações das agências Brasil e Estado