Morador do Jacarezinho, jovem fotógrafo retrata realidade de favelas em exposições no Rio e em NY
Um jovem fotógrafo morador da favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, decidiu retratar as múltiplas faces da vida cotidiana em comunidades cariocas e o drama vivido por moradores ameaçados de despejo. Leo Lima, 24, nasceu e cresceu no Jacarezinho e agora expõe suas imagens em uma mostra no Rio. As imagens feitas pelo jovem já foram vistas também em uma galeria de arte em Nova York (EUA).
A exposição no Rio, chamada “Confiança”, será inaugurada na próxima sexta-feira (18), na Galeria 535, localizada no Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, no complexo de Favelas da Maré.
Segundo explica Leo Lima ao UOL, o tema “confiança” retrata a troca estabelecida entre fotógrafo e fotografado. “O fotografado passa também a ser autor da fotografia e não apenas objeto. A fotografia tem o poder de transformação social e transpassa outras visões”, acredita.
A mostra expõe 15 fotos tiradas pelo jovem desde 2009 e que documentam cenas cotidianas de moradores do Jacarezinho –ainda não pacificada pelos órgãos de segurança. As imagens também retratam moradores do Morro da Providência e da Vila Autódromo, ambos no Rio e sujeitos a remoções, e quilombolas no Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais.
Algumas fotos utilizam a técnica chamada ‘light painting’, de baixa velocidade, para mostrar rastros de luzes.
“Quero que minha fotografia seja conhecida como um trabalho artístico-político. A arte pela arte é reflexiva, mas não tem o poder político de transformação. Não sou neutro, tenho minha posição política e a minha fotografia tem esse viés crítico e questionador. São fotos das muitas vidas que existem e que nunca são mostradas”, alega.
Para Leo Lima, que se formou na Escola de Fotógrafos Populares, em 2009, no Observatório de Favelas, “a arte tem o intuito de questionar e não conformar-se privilegiando olhares diferenciados”.
“Há o estereótipo que, na favela, a violência reina e o tráfico de drogas domina. O Rio é muito mais do que isso. A vida aqui pulsa. No meu trabalho quero expressar outras realidades longe de polícia ou tráfico. Existem outras violências que nós convivemos e não são mostradas.” Lima cita casos de ruas esburacadas sem acesso a cadeirantes, além da dificuldade de transporte público nas comunidades, falta de saneamento e ausência de áreas de lazer.
Lima dá aulas de fotografia artesanal na Escola de Fotógrafos Populares e integra a equipe da agência de fotografia Imagens do Povo, criada em 2004 por João Roberto Ripper.
No último dia 10, o carioca participou da exposição coletiva “Orfeu Negro” –inspirada no filme francês Orfeu Negro (1959)– na FB Gallery of Brazilian Art, em Nova York, organizado pela ONG Ticun Brasil.
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