PM do Rio inaugura hoje base em favela onde seis jovens foram assassinados
A Polícia Militar do Rio de Janeiro vai inaugurar nesta sexta-feira (28) uma Companhia Integrada de Segurança Pública (CIA), a quinta em todo o Estado, na favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, onde seis jovens foram torturados e assassinados há três semanas por traficantes da região.
Segundo o governo estadual, a 5ª CIA contará com um efetivo de 128 policiais militares, que serão supervisionados pelo tenente Marcelo de Carvalho Conde. A companhia terá dez viaturas para patrulhar a região.
O governador do Estado, Sérgio Cabral, o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e o comandante-geral da PM, coronel Erir Costa Filho, confirmaram presença na inauguração. Recentemente, a Prefeitura de Mesquita ergueu um muro de quatro metros para impedir o trânsito de moradores pelo local da chacina.
Os corpos dos adolescentes foram encontrados no dia 10 nas margens da rodovia Presidente Dutra. Os nomes das vítimas são Glauber Siqueira, Victor Hugo Costa e Douglas Ribeiro, todos de 17 anos, Josias Searles e Patrick Machado, 16, e Christian Vieira, 19.
Moradores de Nilópolis, também na Baixada, eles se dirigiam para uma cachoeira no parque Gericinó, próximo à comunidade da Chatuba, quando traficantes sequestraram e mataram os seis amigos.
Ainda no mesmo fim de semana, foram mortos na Chatuba um cadete da PM, o pastor Alexandro Lima e José Aldeci Junior, 19, que teria testemunhado o assassinato do religioso.
Prisões
Desde o início das investigações, a polícia prendeu sete suspeitos supostamente envolvidos com a chacina dos jovens. No dia 19 de setembro, Fernando Domingos Pereira Simão, conhecido como "Fernandinho" ou "Sheik", Jonas Santos Pereira, o "Pintado", e Danilo Machado Valverde, o "Danilo Carroceiro", foram presos na própria favela da Chatuba.
Já Pintado e Sheik são acusados de tráfico de drogas. Na versão da Polícia Civil, ambos sabiam que a chacina seria cometida e poderiam ter impedido que ela se consumasse. "Eles sabiam o que estava acontecendo e tinham o poder de evitar a chacina, mas não o fizeram", afirmou o delegado Júlio da Silva Filho, da 53ª DP (Mesquita).
Carroceiro seria, segundo a polícia, um dos homens de confiança de Remilton Moura da Silva Junior, o "Juninho Cagão", apontado como chefe do narcotráfico local. Contra ele há um mandado de prisão por roubo.
A Polícia Civil também prendeu os acusados Daniel Dias Cerqueira dos Santos e Luiz Alberto Ferreira de Oliveira, este último conhecido como "Beto Gordo". O primeiro seria uma espécie de observador do tráfico.
"Ele foi localizado em uma laje fazendo a contenção para os traficantes, alertando aos comparsas sobre a aproximação da polícia. Além disso, as vestimentas encontradas no local foram reconhecidas pelos familiares, evidenciando que o palco da ocorrência foi a Chatuba", disse Júlio da Silva Filho.
Dois menores --de apelido Foca, 16, e Bola, 15-- foram apreendidos. Apesar da pouca idade, ambos são acusados de integrar a cúpula do crime na região, e seriam, de acordo com as investigações, os dois principais aliados de Juninho Cagão.
Segundo o delegado, Foca confessou ter participado do assassinato do cadete da PM, mas negou o envolvimento na chacina dos jovens.
O jovem teria afirmado ainda aos policiais que os líderes do tráfico da Chatuba saíram da favela com medo da reação das forças de segurança pública. O adolescente já tinha antecedentes criminais por tráfico, porte ilegal de armas e roubo.
Rivalidade entre facções
A rivalidade entre as duas principais facções criminosas do Rio de Janeiro --Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP)-- é a principal linha de investigação trabalhada pela Polícia Civil a fim de esclarecer as circunstâncias da chacina que vitimou seis jovens na favela da Chatuba.
As vítimas moravam no bairro Cabral, em Nilópolis, também na Baixada, área que é controlada pelo TCP, segundo relatos de parentes. Já a Chatuba --chefiada por Juninho Cagão, apontado como um dos supostos mandantes do crime-- é um antigo reduto do Comando Vermelho.
Informações divulgadas pela polícia indicaram que um toque polifônico do celular de uma das vítimas teria feito com que os traficantes da Chatuba identificassem os jovens como criminosos rivais. Também foi investigada uma denúncia de que os traficantes da região teriam imposto uma espécie de bloqueio entre as cidades limítrofes.
As vítimas tinham ido ao local para aproveitar o fim de semana em uma cachoeira situada nas proximidades da favela, no Parque Municipal de Mesquita, cujo acesso se dá por Nilópolis. Eles desaparecem e os cadáveres foram localizados no dia 10 de setembro em uma lona, com marcas de tiros, sem roupa e amarrados às margens da rodovia Presidente Dutra, em Jacutinga.
Manifestantes pedem paz após chacina de seis jovens no Rio
Ocupação
Desde que a PM invadiu a Chatuba, no dia 11 de setembro, e instalou uma companhia destacada para patrulhar a comunidade 24h por dia --a medida foi tomada em caráter emergencial depois que ocorreram 12 mortes em apenas três dias--, sete homens foram presos sob acusação de envolvimento na chacina dos jovens.
Além disso, mais de 20 pessoas foram detidas ou apreendidas, sendo a maioria por porte de drogas.
Inicialmente, cerca de 112 policiais ficaram responsáveis por patrulhar a comunidade, segundo o relações-públicas da PM, coronel Frederico Caldas
Exército abriu inquérito
O Comado Militar do Leste (CML) abriu inquérito para apurar como dois corpos de vítimas da chacina foram encontrados no Campo de Instrução de Gericinó. “Não existe nenhum indício de que o crime aconteceu dentro de área militar. O fato de os corpos terem sido encontrados dentro do campo não quer dizer que eles tenham sido executados lá. Dentro do campo de Gericinó não existe tráfico”, afirmou o coronel Saulo Chaves dos Santos. O processo ainda está em curso.
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