Rivalidade entre facções pode ter motivado chacina em favela do Rio, diz polícia
A rivalidade entre as duas principais facções criminosas do Rio de Janeiro --Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP)-- é a principal linha de investigação trabalhada pela Polícia Civil a fim de esclarecer as circunstâncias da chacina que vitimou seis jovens na favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Os corpos foram localizados na segunda-feira (10).
As vítimas moravam no bairro Cabral, em Nilópolis, também na Baixada, área que é controlada pelo TCP, segundo relatos de parentes. Já a Chatuba --chefiada por Remilton Moura da Silva Júnior, o "Juninho Cagão", apontado como um dos supostos mandantes do crime-- é um antigo reduto do Comando Vermelho.
As primeiras informações divulgadas pela polícia indicam que um toque polifônico do celular de uma das vítimas teria feito com que os traficantes da Chatuba identificassem os jovens como criminosos rivais. Também está sendo investigada uma denúncia de que os traficantes da região teriam imposto uma espécie de bloqueio entre as cidades limítrofes.
As vítimas tinham ido ao local para aproveitar o fim de semana em uma cachoeira situada nas proximidades da favela, no Parque Municipal de Mesquita, cujo acesso se dá por Nilópolis. Eles desaparecem e os cadáveres foram localizados na segunda-feira em uma lona, com marcas de tiros, sem roupa e amarrados às margens da rodovia Presidente Dutra, em Jacutinga.
O relações-públicas da PM, coronel Frederico Caldas, confirmou nesta terça-feira (11) que, além de Juninho Cagão, outros dois supostos traficantes da Chatuba são procurados: "Foca" e "Ratinho".
Os três também estão envolvidos no assassinato do cadete da PM Jorge Augusto de Souza Alves Júnior, no mesmo local da chacina. Nos últimos três dias, 12 mortes foram registradas naquela região, entre as quais a de um pastor evangélico. Um jovem que está desaparecido seria possivelmente a 13ª vítima --ele seria testemunha da morte do religioso.
O desaparecido foi identificado como José Aldeci da Silva Júnior, 19, que foi visto pela última vez na comunidade. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que Júnior também foi morto. Em um local indicado pelo pai da suposta vítima, os agentes encontraram cápsulas de fuzil, restos de comida e garrafas. As buscas continuam.
O pai do rapaz, José Aldecir da Silva, 49, disse que ouviu relatos de que o filho estaria andando na beira do rio no Parque Natural de Gericinó quando foi pego por cerca de 20 homens. O garoto estaria acompanhando o pastor evangélico Alexandro Lima, a sétima vítima até agora identificada. Silva afirmou que traficantes falaram com sua mulher no sábado e confirmaram que o filho tinha sido pego e provavelmente estava morto.
José Aldecir da Silva Júnior tinha 19 anos e trabalhava em uma fábrica de tecido em Campo Grande, em Bangu. A mulher do jovem está grávida de 9 meses, e o garoto havia dito ao pai que após o passeio voltaria para casa para montar o berço da filha. "Eu tenho certeza de que ele está morto, mas eu quero o corpo dele para fazer um enterro. Ele não é um animal e não estava envolvido com nada. Todo mundo gostava dele", disse o pai do jovem desaparecido.
Nos últimos anos, a Chatuba (assim como outras comunidades da Baixada Fluminense e da região metropolitana do Rio) recebeu um grande fluxo de criminosos fugitivos de favelas que hoje são ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora. O próprio governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), reconhece a migração. “As comunidades que ainda são dominadas pela presença física da marginalidade armada acabam hospedando marginais líderes nas comunidades pacificadas que fogem, que não foram presos. Eles conseguem escapar e ir para essas comunidades se reorganizar e tentar manter a estrutura do poder paralelo. Isso tem sido bem claro para a gente. A gente não tem ilusão”.
Ocupação e acampamentos do tráfico
Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) localizaram nesta terça-feira (11) quatro acampamentos que eram utilizados por traficantes de drogas da favela da Chatuba.
Com o apoio de fuzileiros navais, a Polícia Militar realizou uma operação na região, iniciada durante a madrugada, e que culminou com a instalação de uma companhia destacada que será responsável por patrulhar a comunidade 24h por dia. Não houve confronto com os traficantes, que teriam fugido ao observar a movimentação dos agentes. Dez pessoas foram presas e dois menores, apreendidos.
Segundo informações da PM, a maioria dos detidos portava drogas. Entre os presos estão Ricardo Sales da Silva, 25, e Mônica da Silva Francisco, 20, que estavam com 433 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. Um homem identificado apenas como Beto Gorducho também foi preso com 50 gramas de cocaína e R$ 15 mil em espécie.
Cerca de 112 policiais serão responsáveis por garantir a ordem na favela, segundo o coronel Frederico Caldas. De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Seseg), a "medida extraordinária" foi tomada pelo secretário José Mariano Beltrame em caráter de "urgência", e não há um prazo determinado para permanência da PM.
Em nota, o órgão afirma ter "retomado o território" e considera que a favela não está mais sob domínio de traficantes de drogas. A ação contou com mais de 200 policiais.
Estudantes prejudicados
Cerca de 5.000 estudantes de colégios estaduais em Nilópolis e em Mesquita ficaram sem aula na manhã desta terça-feira (11) em função da ocupação policial.
Além das seis unidades estaduais (quatro em Nilópolis e duas em Mesquita), pelo menos cinco colégios da rede municipal situados na região da comunidade também não funcionam. Outras duas escolas estaduais já informaram aos estudantes que não abrirão as portas no período vespertino. (Com informações da Agência Estado)
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