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Delegado é exonerado no Rio após fazer críticas a policiais mulheres nas redes sociais

Comentário feito pelo delegado Pedro Paulo Pontes Pinho no Twitter causou polêmica. Ele acabou sendo exonerado do cargo de titular da 9ª DP do Rio de Janeiro - Reprodução/Twitter
Comentário feito pelo delegado Pedro Paulo Pontes Pinho no Twitter causou polêmica. Ele acabou sendo exonerado do cargo de titular da 9ª DP do Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/Twitter

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

22/01/2013 06h32

Críticas a colegas de trabalho, particularmente mulheres, derrubaram na noite desta segunda-feira (21) o delegado Pedro Paulo Pontes Pinho, titular da delegacia do bairro do Catete (9ª DP), na zona sul do Rio de Janeiro.

Em sua conta no Twitter, Pinho postou a seguinte mensagem: “tenho 14 mulheres no meu efetivo, mas apenas uma, uma apenas, reúne talento, coragem e disposição pra encarar a atividade policial”. Essas e outras declarações levaram a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, a destituir o delegado de sua função.

As declarações do delegado ganharam repercussão após publicação de reportagem no site da revista “Veja”. Segundo a reportagem, “Pinho, no mínimo, considera que mulheres não têm a mesma aptidão que os homens para o trabalho policial”.

Por meio de nota, a chefe da Polícia Civil afirmou que decidiu exonerar Pinho da distrital por considerar que “o delegado tem dificuldades em gerir os recursos humanos que lhes são disponíveis”. Martha Rocha designou a delegada Monique Vidal, ex-titular da 12ª DP (Copacabana), como nova titular.  A nota informa ainda que a delegada foi escolhida para ocupar a 9ª DP “considerando sua trajetória como mulher policial”.

O delegado Pedro Paulo Pinho vai para o Centro Integrado de Investigação Criminal, considerada a ‘geladeira' da Polícia Civil.

A chefe da Polícia Civil determinou ainda que a Corregedoria Interna de Polícia Civil (Coinpol) examine os posts do delegado Pedro Paulo Pontes Pinho em seu Twitter durante seu horário de trabalho.

Comentários polêmicos

As postagens polêmicas do agora ex-titular da 9ª DP começaram por volta das 13h desta segunda-feira. Pinho escreveu: “O que mata o serviço público é a tal da estabilidade”, para logo em seguida emendar, criticando parte dos próprios subordinados “do efetivo da 9ª DP, 21 [policiais] (ou 42%) não possui qualquer vocação para a atividade policial. Alguns destes teriam dificuldade num emprego comum”, declarou.

O delegado, que até então não fazia distinção quanto a gênero nas afirmações, prosseguiu disparando “A atividade policial exige certos talentos, e sacrifícios pessoais que poucos têm disposição a dar, como o risco à própria vida, exemplo”, disse. “Se inscrevem num concurso policial como se fosse uma vaga num escritório, só depois se dão conta do salário, plantões, riscos, cobranças...”, completou.

Nos comentários seguintes, o delegado faz referência ao trabalho das mulheres que comandava até esta segunda-feira na distrital da zona sul “Tenho 14 mulheres no meu efetivo, mas apenas uma, uma apenas, reúne talento, coragem e disposição pra encarar a atividade policial”, afirmou. “E essa uma, entre 14, jovem ainda, não tem nenhum homem que a supere. A mulher quando é boa no que faz ninguém supera, mas o contrário...”, continuou. Respondendo a uma internauta, o delegado mencionou a ausência de uma policial da distrital que teria faltado ao trabalho, alegando razões de saúde, mas que estaria online no Twitter “Uma delas, inclusive, faltou ao serviço hoje e enviou um "atestado", porém está por aí, na internet...”.

Delegado rebate acusações

Procurado pela reportagem do UOL, o delegado Pedro Paulo Pontes Pinho negou que tenha sido sexista nas declarações no Twitter. Pinho afirmou que fez críticas a policiais em geral, sem distinção de gênero. “Eu tuitei que 42%, ou seja, 21 policiais do meu efetivo possuem vocação para atividade policial. Não fiz qualquer distinção de gênero neste comentário”, disse. “Eu falo que apenas uma das 14 mulheres da delegacia não tem capacidade para atividade policial, isso não é discriminação, é apenas uma constatação. Não faço qualquer discriminação contra a mulher. Eu digo inclusive sobre essa agente que nenhum homem a supera na delegacia”, alegou o delegado.

O delegado rebateu as palavras da chefe Polícia Civil. “Eu tuitei hoje e sempre tuíto no horário de trabalho. Tuitar pra mim é o mesmo que tomar um cafezinho, especialmente hoje quando o sistema estava fora do ar e eu não poderia fazer absolutamente nada. Dou conta do serviço. Dou conta tanto que nós fomos premiados pelo governo do Estado como a melhor delegacia do Rio”, disse.

Sobre a frase “A mulher quando é boa no que faz ninguém supera, mas o contrário...”, o delegado afirmou que a intenção era dizer que “a mulher quando não é boa no que faz sai de baixo, uma expressão popular. Mas isso não é apenas com relação à mulher, vale também para o homem”, comentou.

Pinho atacou novamente a policial que se ausentou no plantão desta segunda-feira. “Eu fui derrubado por uma policial que falta ao trabalho para ficar tuitando. Isso me deixou revoltado. Aí tuitei que o que falta ao serviço público é a estabilidade. Quem devia estar sendo punido não era eu”,

Perguntado por esta reportagem se não era antiético ou pelo menos deselegante expor a público problemas relacionados ao trabalho dentro da distrital, Pinho disse que a “polícia é pública e não deve esconder da população as suas falhas, os seus problemas”.

Segundo a edição online da "Veja", a policial criticada pelo delegado é a investigadora Ana Maria Abdo Roale, 48. A revista afirma que o estágio probatório dela terminou ontem, e, segundo afirma a policial, esta foi a primeira falta. A reportagem do UOL tentou entrar em contato com a agente, mas não teve sucesso.