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Presídio para PMs tem oficina de churrasqueiras e criação de coelhos

Gil Alessi

Do UOL, em São Paulo

06/02/2013 06h00

Três churrasqueiras recém-pintadas secam do lado de fora de um barracão. Um dos modelos tem até mesmo sistema para cozimento ‘no bafo’, “para aquelas carnes que demoram a assar, como a costela”, explica o construtor. Ele é um dos 191 policiais militares que cumprem pena ou aguardam julgamento no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo. O UOL visitou as instalações com a autorização do juiz Luiz Alberto Moro Cavalcante, distribuidor de primeira instância e de execuções criminais.

Veja a localização do Presídio Militar Romão Gomes em São Paulo

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A oficina não é a única opção de trabalho para os internos. Lá também se criam coelhos, galinhas, porcos, cabras, calopsitas e periquitos. Cuidar de uma extensa horta também é uma das atividades disponíveis para os presos no local.

“Não oferecemos nada que não esteja previsto na legislação”, explica o tenente-coronel Daniel Augusto Ramos Ignácio, diretor do presídio. “Estas atividades colaboram com o processo de ressocialização do preso. Trabalhar e se exercitar são coisas que fazem bem para o indivíduo, e ajudam na sua posterior reinserção na sociedade”.

A redução da pena também é um incentivo a mais para que o preso desenvolva atividades na prisão. Para cada três dias de trabalho, um dia da pena é abatido.

Tudo o que é produzido no local é vendido na porta do presídio todas as manhãs. Do valor arrecadado, 60% vai para a família do interno, 10% é depositado em uma conta corrente do preso, 10% é usado para remunerar aqueles que se ocupam da limpeza e lavanderia e 20% retorna para o Estado para ser reinvestido em atividades de laborterapia.

Próximo ao portão principal funciona um lava-rápido. “Qualquer um pode deixar o carro aqui para ser lavado aqui pelos internos, basta fazer um cadastro na recepção do presídio”, explica a 1ª tenente Ana Maria, oficial de assuntos civis da PM. “A lavagem custa R$ 20 com cera, e eu recomendo”.

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O mesmo vale para a tapeçaria do presídio, que além de construir bancos estofados e cadeiras para crianças, também reforma sofás do público em geral.

Uma empresa privada paga um salário mínimo (R$ 678) para os presos que trabalham em sua linha de montagem produzindo componentes eletrônicos.

Disciplina

Assim que chega ao presídio o policial recebe um kit com camiseta, calção, blusa, jaqueta, bota, roupa íntima, desodorante, barbeador, sabonete, cobertor, travesseiro e lençol.

“Incialmente ele fica pelo menos quatro meses no que chamamos de primeiro estágio, que é um regime mais restrito, onde ele fica na cela 22h por dia, para se adaptar às regras do Romão Gomes”, diz Ana Maria.

“Caso tenha bom comportamento, o interno vai para o alojamento, onde passa a ter mais tempo de visitação e pode participar das atividades de laborterapia”, diz.

Num estágio posterior, o preso recebe o direito de ir para o regime semiaberto. Nele, é possível estudar ou trabalhar fora e retornar ao presídio apenas para dormir.

“Atualmente temos dez internos cursando o ensino superior, inclusive um faz faculdade de odontologia e outro advocacia”, afirma Ignácio.

Maus profissionais

Cerca de 60% dos internos do Romão Gomes cumprem pena ou aguardam julgamento por homicídio, e 15% por roubo.

“Banda podre existe em qualquer atividade, seja entre juízes, médicos ou jornalistas. Ninguém gosta de ter em seus quadros profissionais indignos denegrindo a profissão”, diz o diretor do presídio. “O importante é que a instituição tenha caráter e a responsabilidade de combater isso. A PM pune e responsabiliza os infratores”.