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Gil Rugai era demitido e readmitido pelo pai com frequência, diz irmão, que acredita em inocência do réu

Ana Paula da Rocha e Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/02/2013 19h45Atualizada em 20/02/2013 20h54

O irmão do estudante Gil Rugai, Léo Rugai, disse em depoimento durante júri popular na noite desta quarta-feira (20) que "era bastante comum" o irmão ser demitido e readmitido pelo pai da empresa Referência Filmes, da qual Luiz Carlos Rugai era dono e acredita na inocência do réu. O empresário Luiz Carlos Rugai e a mulher, Alessandra de Fátima Troitino --madrasta de ambos--, foram mortos em março de 2004, segundo a promotoria, assassinados pelo estudante.

A afirmação do jovem, última testemunha ouvida arrolada pela defesa, foi feita ao juiz que preside o julgamento de Gil Rugai, Adílson Simoni. O rapaz disse ao magistrado não saber, entretanto, se havia ocorrido alguma briga entre o pai e o irmão próximo à data do crime --28 de março de 2004. “Era uma forma de ele educar o Gil, em caso de algum erro. Se às vezes [Gil] cometia algum erro, era demitido, voltava, isso acontecia bastante --mas era algo da educação dele [Luiz Carlos], declarou.

Segundo Léo, a sua última conversa com Luiz Carlos havia sido na sexta-feira anterior aos assassinatos, data em que, não soube explicar o motivo, o irmão não estaria na produtora, onde conversou com o pai. Ele disse ainda que nenhum dos dois comentou sobre problemas na empresa, desfalque ou demissão de Gil Rugai. O irmão do réu também disse que o relacionamento entre Gil, o pai e a madrasta era bom.

“Ele é um figurinha”, assim Léo Rugai também definiu o irmão quando questionado pela defesa sobre o comportamento do réu. Enquanto o irmão descrevia o réu, ambos se olharam por algumas vezes e riram um para o outro. Disse que desde pequenos era comum eles brincarem com armas de plástico e que Gil Rugai sempre gostou de temas ligados à medicina.

Léo disse ter certeza de que o irmão não é responsável pelo crime e que não questionou sobre o que o irmão teria feito na noite em que o pai e a madrasta foram mortos. “Foi mais uma coisa de olhar no olho e questionar. Eu conheço ele e acredito nele", falou.

De acordo com o irmão do réu, “há anos” Gil Rugai estuda para prestar medicina. Ele não soube precisar quanto tempo, mas garantiu que, certamente, após os crimes. “Não vou dizer que ele gostava de brincar de médico porque poderia soar estranho", brincou Léo ao explicar. Questionado se ele é um nerd, respondeu: “ele gostava bastante de estudar”.

Léo relatou que, logo que houve a prisão do irmão, não conseguiu falar com ele e ficou angustiado. Entretanto, após uma primeira conversa, teria tido certeza de que o irmão não era o assassino.

Mudanças de cidade

Léo Rugai disse que ajudou o irmão a bancar um aluguel em Santa Maria (cidade a 301 km de Porto Alegre), para onde ele foi, “fugindo da imprensa, agressiva”, fazer cursinho e prestar vestibular. Conforme o jovem, o irmão não terminou nenhum dos três cursos superiores iniciados antes do crime --filosofia, direito e teologia-- e apenas teria manifestado intenção de frequentar um seminário, mas mudou de planos.

Em Santa Maria, aonde disse nunca ter ido, a testemunha alega que era fiadora do imóvel alugado pelo irmão e dividido como república. Indagado pelo juiz qual o país mais próximo de lá, respondeu: “Uruguai”. Mas não soube precisar a distância da cidade gaúcha ao país vizinho, na questão seguinte posta pelo magistrado.

Dois anos mais novo que o irmão, que tem 29 anos, Léo Rugai disse atualmente o Gil mora com a avó, “bastante idosa, e que precisa dos cuidados dele”.

O estudante chegou a morar no Rio de Janeiro por um tempo, também, segundo o irmão, “para estudar”, mas não soube precisar o ano nem o período. “Acho que foi em 2011, não sei. Talvez duas semanas, não tenho certeza”, respondeu, indagado pelo magistrado sobre a presença na capital fluminense.

Por fim, nas questões colocadas pelo juiz, a testemunha disse desconhecer quem poderia ter matado o pai e a madrasta, bem como que motivos haveria para os dois assassinatos.

Drogas e armas

A testemunha disse que trabalhava com o pai, aos 17 anos, época em que deixou a casa da mãe e foi morar com um amigo. Nesse período, relatou, se viciou em cocaína e foi demitido. Tempos depois, admitiu, o progenitor descobriu que ele possuía uma arma, a tomou e só a devolveu tempos depois.

O uso de drogas foi superado, afirmou, graças a ajuda da família e de amigos e ao envolvimento com terapias alternativas e massagem --atividade que exerce até hoje.

Segundo a testemunha, o empresário também possuía uma arma --uma escopeta que, segundo ele, ficava guardada em um barco que ele tinha há anos em Angra dos Reis (RJ).

O empresário, diz o filho, costumava passar "longos períodos longe da empresa" --participara do Rally dos Sertões, por exemplo, período em que teria se ausentado da produtora durante cerca de um mês.

 

Entenda o caso

O ex-seminarista Gil Rugai é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger. O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos. Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.