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Segurança será investigado por ameaçar casal de lésbicas que trocou beijo em bar de Campinas

Do UOL, em Campinas

31/03/2013 19h46

Um casal de lésbicas registrou, na noite do sábado (30), um boletim de ocorrência após ser hostilizado por um segurança em um bar de Campinas. O fato ocorreu na Avenida Romeu Tórtima, na Cidade Universitária, distrito de Barão Geraldo.

Além de exigir que elas se retirassem do local por conta de um beijo que trocaram, o segurança teria ameaçado agredi-las fisicamente. O caso, registrado como ameaça e “crime de outra natureza”, foi registrado no 4º DP (Distrito Policial). A policia investigará o caso.

De acordo com o relato das estudantes Karen Mizuno, 22, e Camila Silva, 22, elas estavam sentadas em uma das mesas do bar quando foram abordadas pelo segurança José Donizete, 55, que pediu que elas se retirassem do local, logo após eles trocarem um beijo. Na versão delas, o segurança teria ameaçado ambas de agressão e até de morte, segundo registrado no boletim de ocorrência.

Karen disse à reportagem do UOL que o segurança já havia as incomodado antes, na mesma noite, e que a PM (Polícia Militar) já tinha ido até o bar, mas apenas conversou com as jovens e as orientou a chamar novamente a polícia caso fossem insultadas.

“Falamos com o proprietário, que se desculpou pelo ocorrido, e disse que o segurança estaria bêbado. Mas ele nos insultou novamente e chamamos a polícia pela segunda vez”, disse Karin, informando que o segurança teria dito ainda que “já que vocês fazem coisas de homem, poderiam apanhar como homem”. As estudantes chamaram a polícia e todos foram levados ao distrito policial.

Em seu depoimento, o segurança disse que pediu para o casal de lésbicas se retirar do bar, “pois se beijavam e o local não era apropriado para tal, pois havia casais e crianças”, informou o segurança às autoridades policiais. 

À reportagem do UOL, Donizete disse que “às vezes fala com educação, mas as pessoas é quem interpretam mal”, e que não ameaçou as jovens. “Foi um mal entendido, e não precisava nem irmos ao distrito policial”, completou.

A reportagem tentou contato com o dono do estabelecimento, mas as ligações não foram respondidas até o momento da publicação.

Militante diz que atitude de segurança é "inaceitável"

De acordo com o advogado Paulo Mariante, que milita no movimento gay campineiro desde a década de 1970, a situação é "inaceitável". Ele elogiou a ação das garotas. "A intolerância não é uma novidade. O que há de novo é a disposição das pessoas em denunciar e, de alguma maneira, buscar o respeito aos seus direitos", disse.

Segundo ele, não há nenhum fundamento legal que proiba duas pessoas de se beijarem, independente do sexo. "Beijo não é um ato obsceno e não tem porque ser barrado".

Região já teve dois casos semelhantes neste ano

No início de março deste ano, um casal de lésbicas de Santa Bárbara d’Oeste recebeu uma carta de ameaça, que teria sido enviada por um integrante do MHJ (Movimento Homofobia Já). Em um dos trechos, a carta dizia que a comunidade do bairro “não aceita essas atitudes imorais”.  Ambas moram juntas há cerca de dois anos e afirmaram à polícia que não têm ideia de quem poderia ter feito as ameaças.

Em janeiro de 2013, o jovem Diego Verona, 20, e o namorado Pedro Otavio Hein, 18, foram, segundo eles, impedidos de “trocar afetos discretos” por uma funcionária de uma unidade do McDonald´s em Campinas. Indignados, os jovens organizaram um “beijaço” em frente a uma unidade da rede de lanchonetes, que contou com a presença de aproximadamente 70 membros da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).