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"Se o governador não cumprir, a Rocinha desce de novo", diz manifestante após reunião com Cabral

O governador Sérgio Cabral reuniu-se com representantes de moradores da favela da Rocinha, no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro - Hanrrikson de Andrade
O governador Sérgio Cabral reuniu-se com representantes de moradores da favela da Rocinha, no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro Imagem: Hanrrikson de Andrade

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

28/06/2013 16h27

Após participar de uma reunião com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, nesta sexta-feira (28), o grupo de moradores que organizou a passeata da Rocinha, favela da zona sul da cidade, na última terça (25), se disse satisfeito com uma série de promessas feitas pelo chefe do Executivo fluminense.

Porém, segundo o estudante Dênis Neves, 27, que liderou a comissão, se os compromissos não forem cumpridos, os moradores pretendem realizar manifestações ainda maiores.

"A gente começou. Temos algumas promessas, mas se o governador não cumprir alguma coisa, a Rocinha desce de novo. Com dez vezes mais”, afirmou o universitário. “Estamos aí para cobrar. A gente também paga imposto e não está pedindo nada de graça. A gente só quer aquilo que a gente tem direito.”

CALENDÁRIO DE OBRAS

  • 30/11/2013

    Creche

    Data prevista para a entrega da creche modelo, contemplada pelo PAC 1 e que está atrasada.

  • 30/01/2014

    Teleférico

    Data prevista para a entrega do plano inclinado da Rocinha.

  • 28/03/2014

    Calçadas

    Data prevista para a conclusão das obras de pavimentação, principalmente no Largo do Boiadeiro.

  • 30/05/2014

    Esgoto

    Data prevista para a conclusão das obras de saneamento na localidade conhecida como Roupa Suja.

Datas definidas após a reunião entre o governador Sérgio Cabral e os moradores da Rocinha no dia 28/06/2013

    Segundo o jovem, as prioridades da Rocinha são saneamento básico, educação e transporte. Durante mais de duas horas em reunião com o governador, Neves e os demais moradores da favela ouviram atenciosamente explicações sobre obras de infraestrutura que já estavam previstas para a Rocinha, todas contempladas pelo PAC 1 e PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento).

    A novidade, de acordo com o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), foi a inclusão da localidade conhecida como Vila Labouriax, situada no alto da comunidade, no plano de obras do PAC 2. Além disso, Pezão afirmou ter garantido aos manifestantes que o teleférico não é a "prioridade" do governo, conforme Neves havia declarado ao UOL antes de entrar na reunião.

    "Queremos que o governador estabeleça prioridades, e nossas prioridades são outras. O teleférico não está entre elas. A Rocinha recebeu investimentos do PAC 1 para obras de saneamento básico e educação, e há muita coisa que não foi concluída”, disse ele, antes de ser levado ao gabinete do governador. “As obras da creche estão paradas desde 2010. O canteiro de obras foi invadido por moradores de rua e virou depósito de lixo."

    SEM PARTIDO

    O movimento não é político. Não é partidário. A gente está aqui como morador. Eu não tenho experiência nenhuma com política partidária. (...) Finalmente, a comunidade está falando pela comunidade. Os interesses políticos a gente desconhece. Não estamos levantando bandeira alguma.

    Dênis Neves, 27, estudante e organizador da passeata da Rocinha

    Na versão do governo, todas as obras programadas para a maior favela da América Latina devem ser finalizadas dentro dos próximos três anos. A primeira fase, a do PAC 1, que prevê a implementação de redes de esgoto e de estruturas de saneamento básico em parte da comunidade --cerca de 18% do território, segundo estimativa do vice-governador--, deve ficar pronta até maio do ano que vem.

    Questionado sobre a credibilidade das promessas do governo estadual, o jovem morador da Rocinha afirmou estar "confiante" nos compromissos firmados por Cabral durante a reunião. "Dessa vez temos os telefones, e-mails, enfim, todos os dados necessários para que possamos cobrar. O próprio governador me passou os contatos pessoais dele e dos secretários. Nós vamos fiscalizar por meio de uma comissão que será criada entre os moradores", disse.

    A reunião

    Neves afirmou ao UOL que o convite para a reunião com o governador foi feito por um assessor, identificado apenas como Ivan, ainda durante a passeata da última terça-feira (25). Na ocasião, os moradores caminharam da Rocinha em direção ao Palácio Guanabara, residência oficial do governo do Estado.

    Além de Cabral, Pezão, do secretário estadual de Obras, Hudson Braga, e de outros membros da equipe do governador, participaram do encontro 12 pessoas ligadas ao movimento criado nas favelas da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu.

    Ao fim da reunião, Cabral não desceu de seu gabinete para falar com a imprensa. Foi representado pelo vice-governador, que apareceu ao lado dos jovens moradores da Rocinha, visivelmente assustados com a grande quantidade de jornalistas presentes.

    Em seu discurso, Dênis Neves ressaltou o fato de que a manifestação organizada por ele transcorreu de forma pacífica: "Foi a primeira manifestação do Rio de Janeiro sem quebra quebra ou qualquer tipo de agressão. E quem fez isso foi a favela. (...) A gente foi e voltou sem uma lixeira quebrada. Sem lixo no chão. Que fique a lição de cidadania".

    Segundo o estudante, Cabral "atendeu prontamente" às reivindicações colocadas pelos manifestantes, e ligou para o prefeito Eduardo Paes (PMDB), durante a reunião, para negociar questões que envolviam os dois poderes. Os peemedebistas acertaram, por exemplo, que as obras na Vila Laboriaux, no alto da comunidade, passarão para a competência do governo estadual.

    COM A PALAVRA

    Roberto Jayme/UOL
    Com a paz, que é sempre o sonho do governador, da presidente e do prefeito Eduardo Paes, facilita muito os serviços entrarem. É o grande sonho de todos nós. Entrar a paz, cidadania e dignidade através dos serviços. Essa contribuição deles [moradores] foi maravilhosa. Foi uma reunião de mais de duas horas que foi muito proveitosa.

    Luiz Fernando Pezão, vice-governador do Rio de Janeiro

    Para Neves, o encontro fez com que governo e moradores pensassem de forma mais sincronizada a questão das "prioridades" de investimento. "As prioridades eram a base de tudo. O PAC chegou na comunidade e há coisas boas, como o Complexo Esportivo da Rocinha, mas a prioridade não pode ser essa. Não pode ficar pronto o Complexo Esportivo e a creche não ficar pronta. A prioridade não é essa, e ele [Cabral] entendeu isso. Então ele já vai iniciar as obras para concluir a creche. E só vamos falar de coisas a mais como teleférico depois que concluir a parte de saneamento básico prevista no PAC 1", declarou.

    Pezão defende teleférico

    Em seu discurso, Pezão afirmou que os serviços estão entrando na Rocinha na medida em que o processo de pacificação traz "a entrada de serviços" para a comunidade.

    O vice-governador, que será candidato à sucessão de Cabral em 2014, defendeu a construção do teleférico, e argumentou que o meio de transporte que se tornou símbolo do Complexo do Alemão, na zona norte da cidade, será fundamental para a questão da "mobilidade" na Rocinha.

    "A mobilidade é essencial. O teleférico, como eles [moradores] tiveram a oportunidade de ver, vai ajudar muito na mobilidade integrada ao metrô. (...) A gente sabe que tem que fazer o saneamento onde vão passar as estações. Tem que fazer esse investimento primeiro no saneamento. Isso está previsto em todo o PAC 2", afirmou.

    Pezão afirmou ainda que o projeto do governo é dar à comunidade "100% de saneamento básico". "Tudo está previsto no PAC 2", disse o peemedebista, que já foi denominado pela presidente da República, Dilma Rousseff, como o "pai do PAC na Rocinha".

    O processo, contudo, deve ser lento. Na versão do vice-governador, os projetos ainda terão que passar pela análise do Tribunal de Contas do Estado para que as licitações sejam abertas posteriormente.

    "O que faltava, às vezes, e foi uma cobrança deles também, era a gente estar com o diálogo dentro da comunidade. Não só através das associações de moradores, mas usando os instrumentos que eles têm", disse.