Topo

Presença de estrangeiros mais que dobra público em praia de nudismo no Rio

Maria Luísa de Melo

Do UOL, no Rio

16/06/2014 11h01

A Praia de Abricó, trecho da orla do Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio de Janeiro) destinado à prática do nudismo, ganhou novos visitantes com o início da Copa do Mundo. No primeiro final de semana após a abertura do Mundial, o número de frequentadores mais que dobrou --saltou de 40 por dia para cerca de cem. Entre os mais novos visitantes, estão europeus, argentinos e brasileiros vindos de outros Estados. 

"Em dias de verão, a Praia de Abricó chega a receber até 500 visitantes, já no friozinho de outono dificilmente passamos dos 40.  Para nossa surpresa, neste fim de semana o número foi bem maior", afirmou o presidente  da Associação de Naturistas de Abricó (ANA), Pedro Ribeiro. "Para nós isso é importante para a popularização do naturismo, porque muita gente tem preconceito. Naturismo não é bagunça. Além disso, há expectativa de que o número de visitantes aumente ainda mais nos próximos dias." 

Além da tradicional reunião dos sócios da ANA para um jogo de peteca com todos nus e muita conversa, o último domingo (15) foi marcado por uma grande festa junina.  O “arraiá” reuniu homens e mulheres de várias idades, inclusive crianças. Entre as brincadeiras preferidas dos naturistas estavam corrida com os pés amarrados, além de corrida de saco e gincana para catar lixo na praia. 

Um geógrafo alemão de 26 anos, que preferiu identificar-se apenas como Florian, conta que conheceu o reduto naturista pela internet. Ao chegar ao Rio, sua intenção era conhecer uma praia mais vazia e reservada. Foi aí que descobriu Abricó. 

"Não consegui ingresso para os jogos da Copa, mas decidi vir ao Rio de Janeiro mesmo assim. Me debrucei a conhecer a cidade e acabei descobrindo esse paraíso", disse o turista adepto do naturismo. "Às vezes não entendo os brasileiros. As mulheres vão à praia com biquínis muito pequenos, mas as pessoas se  chocam com banhistas nus. Qual a razão de tanto espanto?" 

Um dos frequentadores mais antigos, o capitão de mar e guerra Paulo Pereira, 60, conta que, apesar da tranquilidade do trecho, ainda há muitos não praticantes de naturismo que insistem em adentrar o trecho reservado por curiosidade. 

"Não somos bichos para ficarmos sendo observados. Muita gente entra aqui só para nos olhar nus e apontar, como se Abricó fosse um zoológico humano", reclama um dos organizadores da festa junina. "No último sábado [14] tivemos que chamar a polícia para um cidadão que insistiu em ter um comportamento incompatível com o naturismo, foi desrespeitoso. Aqui nós somos um grupo de convivência que tem um laço muito forte de amizade. E de muito respeito acima de tudo." 

Apesar de também se queixarem de preconceito por quem não é adepto do naturismo, um casal de empresários de Minas Gerais que preferiu não se identificar conta que o diferencial de Abricó está no fato de permitir a entrada de homens e mulheres solteiros e não apenas casados, como acontece em outras praias de naturismo do Brasil. 

Praias de nudismo no Brasil

Vejam em quais Estados estão as praias mais conhecidas de nudismo no país

Confira onde ficam

"Já estivemos em nas praias de Tambaba [Paraíba], Pinho [Santa Catarina] e Massarandupió [Bahia] e nenhuma delas permite pessoas desacompanhadas. Em Abricó, apesar da ausência do poder público, que não provê a segurança e limpeza adequada ao local, a entrada de solteiros é permitida. E eu vejo isso com bons olhos”, diz o mineiro. “Afinal, solteiros também podem ser naturistas."

Briga judicial

A praia de Abricó teve autorização da Prefeitura do Rio para a prática naturista em novembro de 1994, por meio de uma resolução municipal. No mesmo ano, o  advogado Jorge Beja conseguiu sete assinaturas, entrou com uma ação popular e obteve uma decisão judicial que proibiu a prática de nudismo na praia.

Sete anos depois, a decisão foi revertida, e o nudismo voltou a ser praticado em Abricó. Mas a vitória não durou muito, e uma nova decisão judicial contra o nudismo teve que ser acatada. Até que, em setembro de 2003, com a chegada do caso ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), o nudismo voltou a ser liberado nas areias de Abricó. Não cabe mais recurso. O UOL não conseguiu entrar em contato com o advogado.