Presença de estrangeiros mais que dobra público em praia de nudismo no Rio
A Praia de Abricó, trecho da orla do Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio de Janeiro) destinado à prática do nudismo, ganhou novos visitantes com o início da Copa do Mundo. No primeiro final de semana após a abertura do Mundial, o número de frequentadores mais que dobrou --saltou de 40 por dia para cerca de cem. Entre os mais novos visitantes, estão europeus, argentinos e brasileiros vindos de outros Estados.
"Em dias de verão, a Praia de Abricó chega a receber até 500 visitantes, já no friozinho de outono dificilmente passamos dos 40. Para nossa surpresa, neste fim de semana o número foi bem maior", afirmou o presidente da Associação de Naturistas de Abricó (ANA), Pedro Ribeiro. "Para nós isso é importante para a popularização do naturismo, porque muita gente tem preconceito. Naturismo não é bagunça. Além disso, há expectativa de que o número de visitantes aumente ainda mais nos próximos dias."
Além da tradicional reunião dos sócios da ANA para um jogo de peteca com todos nus e muita conversa, o último domingo (15) foi marcado por uma grande festa junina. O “arraiá” reuniu homens e mulheres de várias idades, inclusive crianças. Entre as brincadeiras preferidas dos naturistas estavam corrida com os pés amarrados, além de corrida de saco e gincana para catar lixo na praia.
Um geógrafo alemão de 26 anos, que preferiu identificar-se apenas como Florian, conta que conheceu o reduto naturista pela internet. Ao chegar ao Rio, sua intenção era conhecer uma praia mais vazia e reservada. Foi aí que descobriu Abricó.
"Não consegui ingresso para os jogos da Copa, mas decidi vir ao Rio de Janeiro mesmo assim. Me debrucei a conhecer a cidade e acabei descobrindo esse paraíso", disse o turista adepto do naturismo. "Às vezes não entendo os brasileiros. As mulheres vão à praia com biquínis muito pequenos, mas as pessoas se chocam com banhistas nus. Qual a razão de tanto espanto?"
Um dos frequentadores mais antigos, o capitão de mar e guerra Paulo Pereira, 60, conta que, apesar da tranquilidade do trecho, ainda há muitos não praticantes de naturismo que insistem em adentrar o trecho reservado por curiosidade.
"Não somos bichos para ficarmos sendo observados. Muita gente entra aqui só para nos olhar nus e apontar, como se Abricó fosse um zoológico humano", reclama um dos organizadores da festa junina. "No último sábado [14] tivemos que chamar a polícia para um cidadão que insistiu em ter um comportamento incompatível com o naturismo, foi desrespeitoso. Aqui nós somos um grupo de convivência que tem um laço muito forte de amizade. E de muito respeito acima de tudo."
Apesar de também se queixarem de preconceito por quem não é adepto do naturismo, um casal de empresários de Minas Gerais que preferiu não se identificar conta que o diferencial de Abricó está no fato de permitir a entrada de homens e mulheres solteiros e não apenas casados, como acontece em outras praias de naturismo do Brasil.
"Já estivemos em nas praias de Tambaba [Paraíba], Pinho [Santa Catarina] e Massarandupió [Bahia] e nenhuma delas permite pessoas desacompanhadas. Em Abricó, apesar da ausência do poder público, que não provê a segurança e limpeza adequada ao local, a entrada de solteiros é permitida. E eu vejo isso com bons olhos”, diz o mineiro. “Afinal, solteiros também podem ser naturistas."
Briga judicial
A praia de Abricó teve autorização da Prefeitura do Rio para a prática naturista em novembro de 1994, por meio de uma resolução municipal. No mesmo ano, o advogado Jorge Beja conseguiu sete assinaturas, entrou com uma ação popular e obteve uma decisão judicial que proibiu a prática de nudismo na praia.
Sete anos depois, a decisão foi revertida, e o nudismo voltou a ser praticado em Abricó. Mas a vitória não durou muito, e uma nova decisão judicial contra o nudismo teve que ser acatada. Até que, em setembro de 2003, com a chegada do caso ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), o nudismo voltou a ser liberado nas areias de Abricó. Não cabe mais recurso. O UOL não conseguiu entrar em contato com o advogado.
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