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'Se chover 80% da média, não resolve nada em Cantareira', diz ex-Sabesp

O ex-técnico da Sabesp José Roberto Kachel fala à CPI da Sabesp, na Câmara de São Paulo - Reprodução
O ex-técnico da Sabesp José Roberto Kachel fala à CPI da Sabesp, na Câmara de São Paulo Imagem: Reprodução

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

26/11/2014 14h18

Na sessão desta quarta (26) da CPI da Sabesp na Câmara Municipal  de São Paulo, que investiga a atual crise hídrica no Estado, o engenheiro civil e sanitarista José Roberto Kachel do Santos afirmou que se chover 80% da média histórica até março de 2015 na região do sistema Cantareira, "não resolve nada". Ele é ex-técnico da Sabesp, onde atuou por 34 anos.

O engenheiro explicou para a CPI o conceito de curva de aversão a risco, uma regra de gestão da Sabesp que permite se antecipar à diferença entre as vazões que entram e saem dos reservatórios. Segundo seus dados, a Sabesp retirou água de outubro a dezembro de 2013 em valores muito acima do permitido pela curva --teriam sido 127 milhões de hectômetros cúbicos, equivalente a 8% do volume total em apenas 3 meses.

Procurada pelo UOL, a assessoria da Sabesp informou que a companhia não extraiu água além do que foi autorizado pela ANA (Agência Nacional de Águas) e Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica).

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No mesmo período, de acordo com o ex-técnico, as chuvas foram muito inferiores à serie histórica dos últimos cinco anos. "A Sabesp já devia ter reduzido a vazão a partir de setembro do ano passado", diz.

Além de Kachel, a comissão ouviu Marussia Whately, especialista em gestão de recursos hídricos que atua na Aliança pela Água, associação com 20 ONGs voltada à crise hídrica, e Roberta Baptista Rodrigues, consultora de recursos hídricos e professora de engenharia ambiental da Universidade Politécnica de São Paulo.

Marussia trouxe diversos cenários envolvendo a possibilidade de chuvas no início de 2015 e como podem ficar os sistemas de água do Estado. "Se não mudar o cenário e não chovesse nada, teríamos água por 58 dias, ironicamente caindo quase no aniversario de São Paulo. Se chover na média histórica, a situação ficaria muito pior à atual. Teríamos só 3% de água no final de março do ano que vem", antecipa.

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Já Roberta Rodrigues defendeu que a culpa pela atual situação não é apenas da companhia. Para ela, as prefeituras, responsáveis pela gestão do solo, e a população em geral, que não vem adotando medidas de redução do consumo, também são co-responsáveis pela crise.

"Na minha opinião quando tinha 50% de água, o racionamento já deveria ter entrado, pois também levaria à conscientização da população. Outro grande problema foi o volume morto, que jamais deveria ser opção porque [a qualidade da água] é pior sim. Uma água pode ser potável mas não quer dizer que esteja em condições de ser consumida", disse Roberta, que também defendeu uma maior autonomia dos comitês de bacias hídricas.

A próxima sessão da CPI da Sabesp deve acontecer na próxima quarta-feira (3) na Câmara Municipal de São Paulo.