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Para ficar com cão, homem recusa abrigo e fica em casa alagada no AC

Carlos Madeiro

Do UOL, em Rio Branco

08/03/2015 06h01Atualizada em 09/03/2015 08h39

A história de Odileu Cavalcante de Souza poderia ser mais uma entre os mais de 10 mil desabrigados de Rio Branco (AC), que sofreu esta semana com a maior cheia da história do rio Acre, que chegou a 18,40 metros. Seria, não fosse o seu pequeno cão, chamado de Fiofó, proibido de o acompanhar no abrigo para o qual iria.

Na quarta-feira (4), ele conta que viu o nível do rio subir a uma altura até então nunca vista no bairro Ayrton Senna. Assim, foi obrigado --pela primeira vez na vida-- a deixar sua casa.

“Moro aqui desde 1993, esta foi a terceira cheia que enfrentei, mas foi a única que tive de sair de casa porque foi grande demais”, conta.

Ao ser informado que iria para um abrigo em um ônibus cedido pela prefeitura, Odileu explica que, ao subir no veículo, foi informado que não poderia levar o cão. “Aí mandaram o cachorro descer, aí desci com ele. O pessoal não queria, mas eu não podia o deixar só”, disse.

Naquele momento, começava a saga para conseguir um lugar para Odileu e Fiofó dormirem. Ele conta que procurou uma escola do bairro, onde, inicialmente, foi aceito. “Eu entrei, falei com o sargento, ele disse que estava tudo certo. Mas logo depois veio outro policial e disse que não podíamos ficar e nos mandou embora. Nem a carne que estava assando pude terminar de assar”, afirmou.

Comovido com a expulsão, alguns meninos foram falar com o policial que o expulsara, para tentar o convencer a ficar no local com seu cão. “Os meninos foram lá, fizeram uma manifestação, foram conversar com o policial, disseram: 'o cara é de boa'. Ele [o policial] julgou o livro pela capa, porque eu não ‘tava’ bem vestido. Mas mesmo assim não deixou a gente ficar”, revelou.

Foi quando as mesmas crianças conseguiram um abrigo, em um primeiro andar de uma casa alagada, próximo à escola, para que Odileu e Fiofó ficassem. “Eles foram bons comigo, deram um local pra eu ficar, deram colchão e comida”, detalha.

Odileu é conhecido na comunidade por fazer pequenos serviços de encanamento e eletricidade. Assim como outros moradores, ele não esperava nunca que o nível do rio Acre subisse tanto. “Eu me baseei pela cheia de 2012, quando a água ficou na canela. Pensei que não ia passar, mas aí ela veio e quando fui ver já tinha coberta o colchão com a roupas das meninas, a geladeira ficou boiando. Só deu para salvar a televisão, que era o de maior valor”, lamentou.

Campanha

Segundo boletim da Defesa Civil, a medição das 9 horas deste sábado mostrou que o rio estava com 17,33 metros de altura. Ao todo, 10.599 pessoas estão em 26 abrigos montados pelo poder público na capital acriana. Quarenta e três bairros foram atingidos.

Quem quiser fazer doações aos desabrigados pode participar da campanha "SOS Enchente Rio Acre". Depósitos devem ser feitos na conta corrente 500-2 do Banco do Brasil, agência 0071-x, CNPJ 14346589/0001-9. 

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