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Mototaxistas dizem que traficantes cobram pedágio semanal na Rocinha

Os mototaxistas são obrigados a usar um adesivo em suas motos com a inscrição "Eu apoio 2015" - Divulgação
Os mototaxistas são obrigados a usar um adesivo em suas motos com a inscrição "Eu apoio 2015" Imagem: Divulgação

Maria Luísa de Melo

Do UOL, no Rio

12/05/2015 06h00

Ocupada por forças de segurança há mais de três anos, a favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, parece estar longe de se livrar dos mandos e desmandos de traficantes de drogas que ainda agem por lá.

Os mototaxistas que atuam na maior favela do Brasil têm que pagar pedágio aos traficantes para transitar, mesmo com a presença dos 700 policiais que patrulham as ruas da comunidade. Segundo mototaxistas ouvidos pelo UOL, a cobrança passou a ser feita em julho do ano passado e já sofreu reajuste em abril deste ano.

“Antes da ocupação, as motos eram organizadas pelos donos de pontos de mototáxis, afilhados do tráfico. Tinha muito mais passageiros e festas na Rocinha. Depois chegou a UPP, o major Edson [antigo comandante] tirou o poder deles”, explica um dos mototaxistas que atua na região e pediu para não ser identificado. “Agora voltou na cara da UPP.” A cobrança de R$ 30 foi reajustada para R$ 50 no mês passado.

Ainda de acordo com ele, o antigo comando da UPP da Rocinha tinha um cadastro de mil mototaxistas, todos uniformizados com coletes numerados. Já em julho do ano passado, com a cobrança feita por traficantes, os mototaxistas foram obrigados a usar um adesivo em suas motos com a inscrição “Eu apoio 2015” --uma medida para identificar quem estava em dia com o pagamento feito aos traficantes.

“Todas as motos têm o adesivo. O pagamento é todo sábado no quartel do tráfico, no final da rua 2. É cobrado R$ 2 reais [pelo adesivo]”, explica. “Mas só tem adesivo quem está com pagamento em dia, quem não está pode ser agredido ou ter sua moto queimada. Eles têm o cadastro dos autorizados.”

Para outro mototaxista acostumado a levar moradores para as partes mais altas da comunidade, onde os estreitos becos e vielas só permitem a passagem de motos e bicicletas, o maior problema está na liberação indiscriminada de qualquer motociclista para a atividade.

“Sem um cadastro sério, fica muito complicado. Hoje em dia, qualquer pessoa pode chegar aqui e querer ser mototaxista. Só pagar R$ 50 por semana aos traficantes", afirmou. "Mas isso é perigoso. Já tivemos casos de assalto. Em um deles tinha um mototaxista envolvido. Antes, tinha um cadastro feito pela UPP e um limite de mototáxis na favela. Agora é uma bagunça.”

Procurado para comentar a denúncia, o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora, major Sidnei Pazini, não foi encontrado. Já a assessoria do Comando de Polícia Pacificadora informou que as investigações estão a cargo da 11ª DP (Rocinha), mas que as denúncias de ameaça não foram constatadas “nas ações de inteligência e nas operações para checar essas informações”.

A Polícia Civil informou que há um inquérito em andamento que investiga a cobrança de taxas ilícitas aos mototaxistas da Rocinha. Por meio desta investigação, seis pessoas foram identificadas e tiveram mandados de prisão expedidos por extorsão, tráfico e associação para o tráfico.

Vinícius Pessoa Pedrini, o Guiça, e Davi Gomes de Oliveira, o AR, estão presos, e Fernando Souza Lima, o Nando PT, foi morto durante confronto com policiais. Além deles, estão foragidos Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, apontado como chefe do tráfico da localidade, Edson Antonio da Silva Fraga, o Dançarino, e Renan Senhorinha da Conceição Rocha, o Marrento.