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SP poderia ter mais 255 km de ciclovias se estudos tivessem saído do papel

Ruas da capital paulista já poderiam ter quase 600 quilômetros de vias para ciclistas - Rogério Cavalheiro/Futura Press/Estadão Conteúdo
Ruas da capital paulista já poderiam ter quase 600 quilômetros de vias para ciclistas Imagem: Rogério Cavalheiro/Futura Press/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

03/08/2015 06h00

A cidade de São Paulo poderia ter até 255 quilômetros a mais de ciclovias caso estudos feitos desde a década de 1980 para a implantação de vias para ciclistas na capital paulista tivessem saído inteiramente do papel nos últimos anos.

Atualmente, São Paulo possui 320 quilômetros de ciclovias implantadas. Desse total, 255,1 quilômetros foram feitos após junho de 2014, ocasião em que a prefeitura paulistana anunciou o plano “SP 400km”. Ele tem como meta criar 400 quilômetros novos de vias para ciclistas em 19 meses, até dezembro de 2015, ao custo total de R$ 80 milhões (R$ 200 mil por quilômetro).

Em março passado, para rebater críticas sobre problemas na execução de obras das novas ciclovias paulistanas, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse que os projetos para a implantação da rede cicloviária são baseados nesses estudos. Eles foram reunidos em 2012, no Boletim Técnico 50.

Com esses dados, o UOL fez uma comparação entre as ciclovias sugeridas nos estudos --os mais amplos são de 1981, 1994 e 2005-- e a rede que já foi ativada (ou seja, liberada pela CET para utilização). A maior parte das ruas e avenidas mencionadas no documento, porém, ainda não têm vias para ciclistas.

Partes

A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), iniciada em janeiro de 2013, foi a que realizou a maior parte das ciclovias apresentadas nos estudos. Considerando o de 1981, as administrações anteriores à do petista fizeram 4,7% dos 174 quilômetros propostos, de acordo com levantamento do UOL. Dos 154 quilômetros que restam da conta, Haddad fez 15,9%, algo em torno de 24,5 quilômetros. Para chegar a esses números, além dos estudos, foram usadas como base as informações sobre ciclovias ativadas até o final de julho na capital paulista.

O estudo de 1994 propunha 100,5 quilômetros (outros 10 km não foram discriminados no texto). Desse total, 4,9% foram feitos antes da atual administração municipal. Do que sobrou -- 92,5 quilômetros--, Haddad realizou 14,7%, cerca de 13,6 quilômetros.

Já o “Plano Cicloviário de 2005” sugeria a implantação de 104,8 quilômetros de ciclovias, dos quais 8,9% foram construídos antes de o petista assumir a Prefeitura de São Paulo. Para Haddad, restaram 95,2 quilômetros referentes a esse estudo. Ele fez 24,3% dessa quantidade, exatos 23,2 quilômetros.

Dos 320 km existentes, 68,9 km estão dentro dos estudos. Ou seja, 21,5% do total. Para essa conta, considerou-se só a proposta dos estudos. 

‘Coincidem’

A CET não atendeu o pedido da reportagem por uma entrevista com Suzana Leite Nogueira, responsável pelo Departamento de Planejamento, Estudos e Projetos Cicloviários. Como resposta, a companhia apenas emitiu uma nota dizendo que, ao início do plano “SP 400km”, foi levantado “tudo o que já havia sido proposto na cidade”.

“Pode ser observado, inclusive, que a maioria das ciclovias coincidem, sim, tanto com o que está implantado, como com o que está previsto no Plano de Mobilidade”, completa a CET. Mas basta comparar a lista de vias presentes nos estudos com as ciclovias implantadas na capital para observar que não é bem assim.

As avenidas Mateo Bei (zona leste), Luiz Dumont Villares (zona norte), Marquês de São Vicente (zona oeste) e a estrada Engenheiro Marsilac (extremo sul) não possuem ciclovias em ruas paralelas, por exemplo. Essas vias foram mencionadas como aptas a receberem ciclovias em pelo menos um dos estudos feitos ao longo das últimas três décadas.

Boletim

Intitulado “A História dos Estudos de Bicicletas na CET”, o Boletim Técnico 50 é de autoria da ex-funcionária da companhia Maria Ermelina Malatesta, arquiteta com doutorado em transporte cicloviário pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). Malatesta atuou durante 35 anos na companhia, a qual deixou em 2013.

Em 2012, a arquiteta escreveu no boletim que as ciclovias sugeridas nos estudos “continuam válidas”. Hoje, ela reafirma a posição, mas pondera sobre mudanças em algumas delas em razão de outros fatores, citando como exemplo o caso da avenida Brasil, na zona sul.

No estudo de 1981, foi sugerida a instalação de 2,6 quilômetros de ciclovia no canteiro central. Contudo, cinco anos depois, a região dos Jardins (que engloba os bairros Jardim Europa, Jardim América, Jardim Paulista e Jardim Paulistano) foi tombada pelo patrimônio histórico. “O canteiro central dela é tombado. Por isso uma ciclovia foi feita na rua Honduras”, comentou a arquiteta sobre os 2,9 quilômetros de vias para ciclistas implantados na rua paralela à avenida.

No fim do mês de julho, o desembargador Marcos Pimentel Tamassia, do Tribunal de Justiça paulista, disse que a implantação das ciclovias "não está sendo feita a esmo e sem qualquer estudo, como quer fazer parecer o Ministério Público". Ele argumentou que "o projeto de implantação do sistema cicloviário é um dos mais importantes da atual gestão municipal, eleita pelo povo paulistano para exercer as opções de políticas públicas nos assuntos locais, tal como é o trânsito, no exercício da competência do município". A própria prefeitura, por meio do portal TranSParência, cita o Boletim Técnico 50 como base para a viabilidade das ciclovias na cidade.

Meta

A CET está atrasada em seu planejamento inicial. Em junho de 2014, ela projetou estar com 315 quilômetros novos de ciclovias prontos. Porém possui 255,3 quilômetros.

Em média, a cidade de São Paulo tem ganhado 18,2 quilômetros de ciclovias por mês desde junho de 2014, quando foi anunciado o plano “SP 400km”.

Para que a prefeitura atinja sua meta de 400 quilômetros novos na rede cicloviária até o final do ano, a CET precisará inaugurar cerca de 29 quilômetros de ciclovias por mês a partir de agosto, praticamente o dobro do que pretendia para esta reta final do plano (15 km por mês), de acordo com suas projeções iniciais.

Alguns dos próximos trechos de ciclovia com inauguração já prevista estão nas avenidas São João e Amaral Gurgel (9 de agosto) e na avenida Bernardino de Campos (23 de agosto), esta interligando as pistas da avenida Paulista, rua Vergueiro, da avenida Liberdade e da rua Domingos de Moraes.