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Garoto encontra carteira com R$ 1,6 mil e não sossega até achar o dono

Jéssica Nascimento

do UOL, em Brasília

19/08/2015 06h00

Um garoto de 16 anos encontrou nesta segunda-feira (17), em Samambaia (DF), uma carteira com R$ 1,6 mil caída perto de sacolas de lixo, em um canto de calçada. Não havia documentos com qualquer identificação, apenas o orçamento de uma oficina mecânica e um número de telefone anotado.

Lucas Yuri Bezerra, em princípio, ficou sem saber como proceder, mas contou com a ajuda da coordenadora da escola onde estuda. Juntos, foram em busca do dono da quantia, e encontraram o pedreiro aposentado Benício Eleutério, 66.

Por volta das 6h da manhã na segunda-feira, Eleutério sacou em caixa eletrônico a totalidade de sua aposentadoria – que é única renda da família - para pagar contas e comprar alimentos.

Já em casa, e com o dinheiro na carteira, aguardou a mulher, Lindava Ferreira, 61, se arrumar para irem a uma consulta médica. Na saída, com pressa Lindalva pediu para Benício colocar sacos de lixo para fora de casa. Este não percebeu quando a carteira caiu ao lado da lixeira.

Ao chegar ao Hospital Universitário de Brasília (HUB), Benício percebeu que a carteira havia sumido. Desesperado, só restou ao casal rezar. “Colocamos na mão de Deus e pedimos que Ele fizesse o melhor”.

O garoto Lucas encontrou a carteira às 8h, no caminho para o colégio, onde cursa o ensino médio. Um dos amigos que o acompanhava quis ficar com o dinheiro, mas nem por um segundo aquilo passou por sua cabeça.

Notícia tão esperada

Ao chegar em casa, às 13h, o pedreiro aposentado e sua mulher receberam a notícia que tanto esperavam: a carteira havia sido encontrada e com a quantia completa. Quem ligou para Benício, foi a coordenadora do Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia, Rivânia de Araújo, 50. “Perguntei duas vezes se ele queria mesmo que eu fosse atrás da pessoa. Sem hesitar, ele disse que era o que ele mais queria”.

Após o término das aulas, a professora ligou para a oficina mecânica e conseguiu os dados de Eleutério. “Perguntei para o Benício algumas características da carteira e quanto havia nela, só para ter certeza se ele realmente era o dono. Fui pessoalmente levar”.

Orgulhosa com a atitude do aluno, a coordenadora fez uma enquete  com os estudantes. A maioria disse que não devolveria o objeto por não haver documentos e por precisar do dinheiro.

Lucas vem de uma família simples. Os pais estão desempregados e ele próprio trabalha como auxiliar administrativo em um hospital, ganhando meio salário mínimo. (R$ 398).

A avó do jovem, Docarmo Alexandre, 55, conta que a atitude do neto não a surpreendeu. Segundo ela, o menino sempre foi honesto, estudioso e humilde.
“Nós nunca tivemos luxo e ele também não gosta dessas coisas. Sei que ele nunca conseguiria ficar com o que não é dele”.

Lucas tem o desejo de cursar engenharia ou ingressar nas forças armadas, e conta que “não iria conseguir dormir à noite. "Foi um grande alívio entregar a carteira ao verdadeiro dono. Ajudar é legal demais, é um sentimento maravilhoso. Muita gente me perguntou o porquê de eu ter devolvido o dinheiro. A resposta é simples: o dinheiro não era meu. Estaria roubando.”