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ONG denuncia assassinato de ambientalista no Maranhão à OEA

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

01/09/2015 18h50

A ONG (organização não-governamental) Justiça Global denunciou na Organização dos Estados Americanos (OEA), nessa segunda-feira (31), o assassinato do ambientalista e conselheiro da Reserva Biológica do Gurupi (MA) Raimundo dos Santos Rodrigues, 54.

Ele foi morto a tiros e golpes de facão no último dia 25 em uma emboscada na estrada que liga as cidades de Bom Jardim a Buriticupu, ambas no Maranhão. A mulher dele ficou ferida no atentado. Ela passou por cirurgia e continua internada em Açailândia sob proteção policial.

Dois suspeitos foram presos na semana passada, mas um deles foi liberado após pagar fiança. Eles são investigados pelo atentado e por supostamente integrarem um grupo que comete crimes ambientais na região.

Segundo a ONG, desde 2012 Raimundo denunciava a ação de madeireiros ilegais na região. Com isso, constantemente recebia ameaças. O nome dele estaria em uma suposta lista de pessoas marcadas para morrer na região.

A ONG informa que, apesar de ser uma reserva ambiental, a região do Gurupi não conta com proteção efetiva dos órgãos federais.

Em abril, na mesma região, o agente indígena de saneamento Eusébio Ka’apor foi assassinado com um tiro nas costas. Ele teria sido atacado por madeireiros contrários às ações de fiscalização e vigilância territorial dos indígenas contra a exploração ilegal de madeira.

Para a Justiça Global, a morte de Raimundo era uma tragédia anunciada, já que ameaças foram comunicadas à Ouvidoria Nacional Agrária.

No comunicado à OEA, a Justiça Global manifestou “preocupação com a segurança e a vida dos outros conselheiros da reserva do Gurupi e com os moradores da Comunidade Brejinho das Onças, localizada no interior da reserva, onde Raimundo vivia com a sua família.”

Além dos madeireiros, a comunidade também seria alvo da perseguição de um latifundiário, ligado a políticos locais. O nome dele não foi revelado.

Por conta do atentado, na última sexta-feira (28), o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) - responsável pela reserva - promoveu uma reunião com órgãos para debater ações de combate a crimes ambientais e conflitos agrários na região.

Segundo a PF, o crime pode ter sido uma retaliação às ações recentes de fiscalização realizadas pelo ICMBio. Em 13 de agosto, dois suspeitos foram presos, e equipamentos de madeireiros foram apreendidos.

Quadrilhas de madeireiros já atuavam na região antes mesmo da criação da Reserva Biológica, em 1988, segundo o ICMBio, que extraem ilegalmente cerca de 500 metros cúbicos de madeira, por dia reserva e de terras indígenas vizinhas.

Para tentar frear o ataque, uma outra reunião nos próximos dias deve debater formas de fiscalização no local. Outra medida prometida, no médio prazo, é avançar na regularização fundiária para garantir tranquilidade aos moradores da região.

A reservai biológica do Gurupi tem 291 mil hectares e está ligada à coordenação de regional de Belém. A ONG Justiça Global informa que a reserva está conectada às terras indígenas do Alto Turiaçú, Awá e Carú. Juntas, elas formam um mosaico que representa o que resta de floresta amazônica no Maranhão.