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'Deveriam proteger, mas matam', diz moradora de favela do Rio sobre PMs

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

01/10/2015 06h00

Costumeiramente tomada por crianças jogando bola e moradores conversando, a praça em frente à igrejinha no topo do Morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro, passou a quarta-feira (30) vazia. Poucas pessoas circulavam pelo local, a poucos metros da viela em que o adolescente Eduardo Felipe Santos Victor, 17, morreu após ser baleado por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Providência.

“O garoto já não tinha se entregado, por que não levaram preso?”, questiona a moradora M., 43, que preferiu não se identificar. Mãe de nove filhos e moradora da favela desde que nasceu, ela classificou a ação dos policiais como “covardia” e diz que não se sente segura de deixar os filhos brincando sozinhos na rua. “Ao invés de proteger, matam.”

Tanto os acessos ao morro quanto a praça em frente à igreja estavam guardados por PMs fortemente armados. Na principal escadaria do morro, traficantes com rádios transmissores também observaram a movimentação. Pela manhã, equipes da Corregedoria da Polícia realizaram a perícia nas áreas onde teria havido confronto.

Vizinha ao ponto em que Eduardo morreu, L., 29, diz que os tiroteios têm sido mais frequentes nos últimos meses. “O clima está tenso”, diz. “Infelizmente já estamos acostumados.”

Inicialmente, o caso do adolescente foi registrado como morte em confronto com a PM. Mas a versão dos policiais foi desmentida por um vídeo registrado por moradores. Nas imagens, o jovem aparece ensanguentado e estirado no chão. Um policial da UPP, acompanhado de três colegas fardados, coloca uma pistola na mão do jovem e dispara dois tiros em sequência. Antes, outro PM aparece dando um tiro para o alto com a própria arma.

No começo da manhã desta quarta-feira (30), em protesto contra a morte do adolescente, os moradores atiraram pedras contra 12 ônibus que saíam da garagem da empresa São Silvestre, perto de um dos acessos à comunidade. Na empresa, funcionários exibiam pedregulhos encontrados dentro dos veículos. Na segunda-feira (29), dois coletivos já haviam sido alvejados. Um homem morreu, atingido por estilhaços.

Os cinco policiais filmados forjando a cena do crime foram indiciados por fraude processual. Todos eles estão presos administrativamente no Batalhão Prisional e tiveram a prisão decretada pela Justiça. O caso é investigado em Inquérito Policial Militar (IPM) e pela Divisão de Homicídios (DH).

O advogado Felipe Simão, que representa três policiais militares dos cinco acusados, disse que o vídeo amador que mostra a ação dos policiais não transmite a realidade. Ele afirmou que primeiro objeto entregue pelo policial ao outro é um rádio transmissor, que teria caído das mãos do adolescente, e não uma arma. Em relação aos disparos feitos com a suposta arma da vítima, Simão disse que o policial efetuou os disparos porque tinha medo de levar a arma carregada para a delegacia.