Topo

Projeto transforma fardas de PMs em bonecas e peças de artesanato na Bahia

Soldadas Edna Santana e Adjaneara Costa encabeçam o projeto de reutilizar fardas de PMs baianos - Camila Souza/Governo da Bahia/Divulgação
Soldadas Edna Santana e Adjaneara Costa encabeçam o projeto de reutilizar fardas de PMs baianos Imagem: Camila Souza/Governo da Bahia/Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

21/10/2015 06h00

As fardas usadas dos policiais militares da Bahia ganharam um novo propósito. Em vez de irem para incineração, as roupas viraram material usado para a confecção de peças de artesanato, como bonecas, almofadas e bolsas.

Há cinco meses, o projeto “Recicla PM” recebe doações de fardas sem condições de uso. São 24 policiais participando do projeto, que transforma em arte o vestuário que não pode ser doado ou reutilizado.

A ideia do projeto foi da soldada Adjaneara Costa. Com dez anos de corporação, ela conta se sentia “sem jeito” de jogar fora a farda que não mais servia. “Por ter orgulho de ser policial, não queria me desfazer das fardas de qualquer forma. Imaginei também o universo de policiais que estava na mesma situação, sem falar nas toneladas de roupas descartadas no meio ambiente. Pensei em formas de reutilizá-las."

Foi quando a moça teve uma ideia: usar a arte como forma de reciclar o material. “Tive a ideia do artesanato de tecido e fui pesquisar. Descobri que o tecido é o que mais se pode diversificar: pode virar roupa, toalha, boneca, cortina... Falei a meu coordenador e ele abraçou imediatamente. Começamos a fazer as primeiras pequenas peças, e todos gostaram”, conta empolgada a policial.

A ideia foi incorporada pelo DPS (Departamento de Promoção Social) --setor que trata policiais e dependentes de problemas como vício de drogas, depressão e outros transtornos por conta do trabalho.

Segundo a coordenadora do projeto, capitã Edilania Aguiar, os 24 policiais que recebem atendimento no setor participam do projeto. Ao todo, cerca de 40 peças já foram produzidas. “Inicialmente, começamos com um grupo de policiais viciados em substâncias psicoativas. É um grupo fechado, que foi piloto desse projeto. Mas a depender do psicólogo orientar, a gente atende.”

Boneco feito a partir de fardas de PMs baianos usadas e descartadas - Camila Souza/Governo da Bahia/Divulgação - Camila Souza/Governo da Bahia/Divulgação
Boneco feito a partir de fardas de PMs baianos usadas e descartadas
Imagem: Camila Souza/Governo da Bahia/Divulgação

Sucesso de doações

A ideia de dar finalidade às fardas fez tanto sucesso que criou um novo problema. “Por meio das redes sociais fizemos a solicitação aos policiais. Já temos hoje aqui cerca de mil unidades. A gente parou de pedir porque não tem mais espaço para armazenar”, afirmou Edilania. Por serem objetos de caráter público, a destinação final das fardas que viraram artesanato está sendo estudada pelo setor jurídico da corporação e do governo estadual. Até agora não há uma conclusão sobre o assunto.

“Em principio pretendemos montar uma exposição até o final do ano. A ideia é que se crie um fundo de amparo aos policiais para o setor de assistência social. Por exemplo, um policial que sofre um acidente e precisa de uma cadeira de rodas; às vezes não tem disponível, e ideia é que, com a venda do artesanato, o dinheiro seja revertido para o próprio policial”, explicou a capitã Edilania.

Policiamento pela costura

Quem é responsável pela parte artística do projeto é a soldada Edna Santana, que também é artesã e costureira. Há 19 anos na corporação, ela nunca havia deixado o policiamento de rua. Até setembro passado, atuava na cidade de Conde, no interior baiano --onde era a única mulher PM. Uma visita a Salvador, porém, mudou sua vida.

“Foi uma coincidência. Eu fui ao DPS [em setembro] levar uma encomenda e perguntei quando iria haver uma exposição para policiais artesãs, como houve há oito anos --eu sou artesã, faço para completar a renda. Foi quando mantive contato com soldada Adianeara, e ela perguntou o que fazia. Aí disse que fazia artesanato e fiquei sabendo do projeto. Fiz o teste na hora e fui aprovada. Estou muito feliz”, contou Edna.

Ela hoje costura e repassa também a técnica de confecção de peças com a farda a outros interessados. “Tem toda uma técnica. Tudo é aproveitado: zíper, bolso, botão.”

Edna explica que pretende seguir no projeto, já que foi no DPS que ela aprendeu a costurar. “Esse trabalho meu começou pelo tratamento que eu fiz aqui no antigo Sevap [Serviço de Valorização Profissional], 16 anos atrás. O psicólogo pediu trabalhar minha autoestima e fiz curso de corte e costura.”