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Varginha quer investir no turismo científico nos 20 anos da chegada do ET

Obras do Memorial do ET em Varginha, no sul de Minas Gerais - Divulgação/Prefeitura de Varginha
Obras do Memorial do ET em Varginha, no sul de Minas Gerais Imagem: Divulgação/Prefeitura de Varginha

Marcelo Moreira

Do UOL, em São Paulo

13/01/2016 06h00

Uma cidade do interior que ganhou uma nova vocação do espaço - literalmente. Essa é uma das definições que Varginha (MG) pretende adicionar a sua história, além da ser a "Cidade do Café" e a "Capital Brasileira da Ufologia".

A "aparição dos ETs" na cidade - sim, mais de um - completa 20 anos neste mês de janeiro e o município pretende implantar de vez o turismo científico, com a intenção de atrair estudiosos de astronomia e reforçar a fama de paraíso dos ufólogos - pessoas que estudam fenômenos considerados extraterrestres, como supostas aparições de discos voadores.

Entretanto, não há animação nem entusiasmo na cidade por conta do aniversário do ET - oficialmente, 13 de janeiro, que foi o primeiro dia em que os fenômenos atribuídos a extraterrestres foram registrados. Nenhum evento especial está programado, e a cidade não se preparou para receber eventuais turistas.

"O 'ET de Varginha' já faz parte do nosso cotidiano, é uma coisa natural conviver com as histórias sobre as aparições, e levamos na boa as brincadeiras com o fato. Talvez por isso não se fale tanto em comemorações", diz o empresário André Yuki, presidente do Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação de Varginha (Sehav).

Apesar de reconhecer que a data é importante, Yuki admite que não há nada programado oficialmente para celebrar os 20 anos do ET. A preocupação na cidade é com eventos ligados ao café, a grande atividade econômica que sustenta Varginha. "Claro que a cidade ficou conhecida internacionalmente com o ET, mas o café é o que empurra a nossa economia."

Sem entusiasmo

A situação é tão estranha que até mesmo uma personalidade de destaque da cidade, o advogado Ubirajara Rodrigues, pretende deixar passar a data. Presidente da seção municipal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ele ficou conhecido na década de 1990 como um dos principais ufólogos do Brasil. É considerado o responsável pela descoberta do que se convencionou chamar de "Caso Varginha".

De forma educada, mas contundente, declarou que não tinha intenção de falar sobre o assunto ou de participar de qualquer evento de ufologia ou que marcasse os 20 anos da suposta aparição de extraterrestres na cidade.

"Foi Rodrigues quem ouviu as primeiras histórias a respeito do assunto e começou a fazer as primeiras investigações e descobertas", diz o escritor, pesquisador e palestrante Marco Antonio Petit, membro da CBU (Comissão Brasileira de Ufólogos) e um dos principais nomes da ufologia nacional. Ele é o autor do livro "Varginha - Toda a Verdade Revelada", editado no ano passado pela Biblioteca UFO.

Segundo Petit, Rodrigues investigou os primeiros relatos poucos dias depois do marco inicial, a suposta queda de uma nave espacial em uma fazenda da cidade, no dia 13 de janeiro. Logo em seguida, o advogado receberia a importante contribuição de outro ufólogo mineiro, Vitório Pacaccini, de Belo Horizonte.

Caixa d'gua em formato de disco voador em Varginha, um dos pontos turísticos da cidade - Divulgação/Prefeitura de Varginha - Divulgação/Prefeitura de Varginha
Imagem: Divulgação/Prefeitura de Varginha

"A pesquisa inicial de campo que os dois fizeram, assim como as entrevistas com as testemunhas, foram cruciais para que tivéssemos a documentação daquele que é possivelmente um dos casos mais importantes da ufologia mundial. Alguns meses depois fui convidado a integrar o grupo de pesquisa, ao lado do engenheiro paulista Claudeir Covo. Nós quatro conseguimos avançar bastante nas pesquisas, mas ainda existe muita coisa a ser investigada", afirma Petit.

O pesquisador, no entanto, lamenta o afastamento de Rodrigues e Pacaccini da ufologia. "Sem maiores explicações, os dois se afastaram do caso e de tudo dois anos depois. Pacaccini desapareceu e Covo morreu em 2012. Estou só na condução das investigações."

Memorial e planetário

Alheio ao clima de pouco entusiasmo nas comemorações, o prefeito de Varginha, Antonio Silva (PTB), planeja estender as celebrações ao longo do ano, e por uma questão de pragmatismo: o Memorial do ET, a principal obra que marcaria os 20 anos do aparecimento dos ETs, não está pronto.

"Temos a intenção de finalizá-lo até o final do primeiro semestre. Será um misto de museu e centro cultural dedicado aos estudos de astronomia e ufologia, com painéis com toda a repercussão na imprensa que o caso teve, em vídeo, áudio, livros e reprodução de jornais", diz o prefeito.

O memorial é o pontapé de um projeto de incentivo ao turismo científico, que tem como ponto central a construção de um planetário. A ideia é que esta obra comece ao menos a ser licitada, ou planejada, assim que o Memorial do ET for inaugurado.

O empresário André Yuki, do Sehav, afirma que a cidade poderia ter feito bem mais para marcar a data, e Silva reconhece em parte a culpa na questão. "Não há nada programado agora, mas dedicaremos o ano todo à questão. Afinal, Varginha ficou conhecida internacionalmente além do café pelos eventos de 1996. A cidade abraçou o ET e tem orgulho da fama que conquistou."

O clima chocho para celebração também se reflete quando a questão primordial é levantada: afinal, os habitantes acreditam em disco voador? Em ETs? Em vida em outros planetas?  Acreditam nos eventos que supostamente ocorreram em Varginha em janeiro de 1996?

Antonio Silva dá o tom mineiro na questão: "Não há uma conclusão sobre o 'Caso Varginha'. Não temos comprovação de que as criaturas estiveram aqui. Ninguém pode afirmar ou desmentir. Então, que fiquemos com as lendas que tornaram a cidade célebre."