20 anos após acidente da TAM, Congonhas é um aeroporto seguro?
Há exatos 20 anos, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, presenciava o maior desastre de sua história até então. No dia 31 de outubro de 1996, em uma manhã de quinta-feira, o voo TAM 402, operado por um Fokker 100, decolava com destino ao Rio de Janeiro. O voo, no entanto, durou apenas 24 segundos antes de cair na rua Luís Orsini de Castro, no bairro do Jabaquara, matando 99 pessoas --96 a bordo do avião e outras três que estavam no solo.
Quase 11 anos depois, em julho de 2007, Congonhas veria a marca ser superada por um novo acidente envolvendo um avião da TAM. O Airbus A320 que chegava de Porto Alegre no voo 3054 não conseguiu frear na pista, tentou arremeter e colidiu com o prédio da TAM Express. Morreram na tragédia 199 pessoas --187 a bordo e 12 no solo.
Construído em 1936, Congonhas ficava em uma área isolada de São Paulo, mas a cidade cresceu e a região do aeroporto se tornou uma das mais nobres da capital paulista. Hoje, a proximidade dos jatos causa calafrios em quem mora na região.
O medo de que um novo acidente aconteça, atingindo casas, comércios e avenidas, é constante. Embora o risco exista, especialistas do setor aeronáutico garantem que o aeroporto de Congonhas é seguro.
"Devido aos dois acidentes aéreos, criou-se um fantasma sobre esse aeroporto que não condiz com a realidade das operações. Todas as operações são executadas dentro dos padrões de segurança exigidos pela legislação vigente", afirma Mateus Ghisleni, diretor da secretaria de segurança de voo do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas).
Com uma média de 580 operações de pousos e decolagens e circulação de 56 mil passageiros por dia, Congonhas é atualmente o segundo aeroporto mais movimentado do Brasil, atrás apenas dos aeroportos de Guarulhos, também em São Paulo.
Para Ghisleni, no entanto, o alto movimento não é um fator de preocupação. "Os riscos quanto às operações no aeroporto de Congonhas e nos demais não diferem muito. Cabe a cada empresa, administração aeroportuária e controle de tráfego aéreo buscarem ações de forma a mitigar esses riscos. Uma das polêmicas é o comprimento da pista. Contudo, existem pistas mais curtas no Brasil que são operadas pelas mesmas empresas que operam em Congonhas”, avalia.
Outros exemplos pelo mundo
O engenheiro aeronáutico e professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da USP, Jorge Eduardo Leal Medeiros, cita que o receio de moradores da região e até mesmo de alguns passageiros está mais relacionado com o medo de voar.
"Qualquer coisa que se refira a avião, as pessoas têm um certo medo. As pessoas têm medo de viajar de avião. No entanto, o avião é mais seguro que qualquer outro tipo de meio de transporte", afirma.
Medeiros diz acreditar que um aeroporto no meio de uma metrópole como São Paulo não gera riscos à segurança e cita outros exemplos ao redor do mundo, como o aeroporto de Chicago Midway.
"É um aeroporto com pistas nas mesmas dimensões de Congonhas e situado na mesma situação. Não creio que isso represente nenhum risco à população", diz.
Um novo aeroporto em São Paulo
Desde o segundo acidente em Congonhas, discute-se a possibilidade da construção de um novo aeroporto para atender a demanda dos paulistanos.
O terminal seria construído na cidade de Caieiras, entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes. O projeto, no entanto, sofreu impasses no governo federal para sair do papel.
A revista "Veja" revelou recentemente que, em delação premiada, Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, afirmou que a empresa pagou R$ 3 milhões a Moreira Franco, ex-secretário de Aviação Civil no governo Dilma Rousseff e atual secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos do governo Michel Temer, para barrar o projeto de construção do aeroporto de Caieiras. Moreira Franco nega o recebimento de propina.
Independentemente de questões políticas, o projeto enfrenta críticas dos especialistas do setor. "Acho isso uma loucura, porque você já tem o aeroporto de Guarulhos. No aeroporto de Viracopos, a demanda está caindo. Não tem sentido ficar dividindo a demanda do transporte aéreo entre dois, três ou quatro aeroportos em uma cidade. Isso dá muito trabalho e é caríssimo para o passageiro", afirma Medeiros.
Para o professor do USP, a melhor opção é concentrar ao máximo o fluxo de passageiros nos aeroportos já existentes. "O que você puder colocar em um aeroporto só, melhor. Veja o exemplo do aeroporto de Atlanta (EUA), que tem mais de 100 milhões de passageiros por ano", afirma.
Medeiros avalia que o projeto se torna ainda mais inviável na atual crise vivida pelo Brasil. "Não tem condição de fazer isso, principalmente agora, na atual situação econômica que estamos vivendo", diz.
Acidente mudou padrão de indenizações
Sandra Assali perdeu o marido, José Rahal Abu Assali, na queda do Fokker 100 da TAM em 1996. Para superar o trauma da perda repentina, criou a Abrapavaa (Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos), da qual é presidente até hoje.
Mais do que um amparo emocional, a associação serviu para mudar o padrão de indenizações às famílias das vítimas.
Na época, 64 famílias se uniram para entrar com processo na justiça dos Estados Unidos, país do fabricante do reverso do Fokker 100 --equipamento do avião que apresentou problema e foi um dos principais fatores do acidente.
Antes mesmo de uma decisão judicial, Sandra afirma que as famílias assinaram acordos extra-judiciais entre US$ 800 mil e US$ 1,5 milhão (entre R$ 2,5 milhões e R$ 4,7 milhões na cotação atual). "Isso foi possível por conta da metodologia dos cálculos", diz.
Mais do que aumentar o valor da indenização, Sandra afirma que o trabalho foi importante para mudar o paradigma no Brasil. "A partir do voo 402, o Brasil começou a mudar a referência de cálculo e hoje essa questão se resolve muito mais rápido", afirma.
Segundo ela, atualmente o Brasil é quinto colocado no ranking de melhores indenizações, que valem não somente para acidentes aéreos como para outros tipos de tragédias.
No dia em que a perda do marido completa 20 anos, Sandra lança o livro "O dia que mudou a minha vida" na Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi.
A obra relata a luta dos familiares das vítimas, a fundação da Abrapavaa, a falta de assistência e ainda esclarece dúvidas sobre questões jurídicas, como o cálculo dos valores indenizatórios.
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