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Mulher relata terror em chacina de Belém: "Atiravam para todos os lados"

06.jun.2017 - Policiais chegam à rua Nova II, na periferia de Belém, onde uma chacina deixou cinco mortos - Reprodução
06.jun.2017 - Policiais chegam à rua Nova II, na periferia de Belém, onde uma chacina deixou cinco mortos Imagem: Reprodução

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

07/06/2017 22h23

Uma moradora da rua Nova II, no bairro da Condor, periferia de Belém, testemunhou a chacina que matou cinco pessoas e feriu onze na noite da última terça-feira (06) na capital paraense. Por volta das 21h, homens encapuzados e vestidos de preto descarregaram suas armas em vizinhos que estavam sentados conversando em um bar depois de assistirem a um jogo de futebol na TV.

Três homens morreram na hora, outros dois no hospital. Duas crianças foram baleadas, uma de raspão outra na perna. Ao menos um sobrevivente permanece em estado grave. Quando a polícia chegou, cerca de meia hora depois do crime, já não havia sinais dos criminosos.

Em um áudio compartilhado na cidade, uma mulher relata estar ouvindo tiros no momento em que o som dos disparos invade a gravação.

Foi o quarto crime registrado na cidade com as mesmas características só neste ano.

Entre os familiares e amigos das vítimas, prevaleceram o luto e a revolta, que se agravaram quando a polícia chegou à cena do crime. Na confusão, um policial chegou a disparar um tiro para o alto na tentativa de dispersar os moradores.

Muitos vizinhos não quiseram falar com jornalistas temendo represálias e perseguição. Mas uma das testemunhas relatou o que viu, ouviu e sentiu na última noite, sob a condição de ter sua identidade preservada.

Leia seu relato:

“Eu cheguei em casa uma hora e meia antes de tudo começar. Fiquei até surpresa porque geralmente a nossa rua é escura e quando cheguei estava claro. O dono do bar tinha colocado uma iluminação diferente para chamar o pessoal para ver o jogo do Paysandu no Campeonato Brasileiro. As pessoas estavam assistindo ao jogo no bar.

Por volta das 21h comecei a ouvir um barulho parecido com foguetinhos. Nessa época de festas juninas toda hora acontece isso. Só que esses eram intermináveis, não paravam, e eu fiquei curiosa.

Encapuzados de preto e possivelmente com armas pesadas

Fui olhar na janela e a rua estava silenciosa, apenas o barulho dos tiros. Vi uns caras encapuzados, todos de preto e umas armas que pareciam com metralhadoras. Não sei se eram mesmo metralhadoras, porque não conheço armas, mas eles não pegavam só com uma mão, pegavam com as duas. E atiravam pra todos os lados. Passavam na rua atirando nas casas.

Aqui em casa foi um desespero. Depois que pararam os tiros, as pessoas começaram a correr na rua, desesperadas. Tinha muita gente ali, todo mundo chorando, gente correndo com os feridos.

Os feridos estavam sendo levados para um grupamento dos bombeiros numa rua perto ou para hospitais. Com aquela quantidade de tiros era impossível alguém não ter morrido. Na rua falavam que siclano morreu, beltrano morreu. Não quis olhar os mortos.

Um dos rapazes que faleceu eu conhecia de vista porque ele trabalhava no Hemopa [hemocentro do Pará], acredito que era segurança lá, tinha quatro filhos.

A chegada da polícia, meia hora depois

Por volta de meia-hora depois, a polícia chegou e tumultuou bastante. As pessoas gritavam em coro pedindo por justiça. Os policiais foram grosseiros. É um momento que tem que ter sensibilidade pra entender o que a gente que mora aqui passou, o que os familiares das vítimas estavam passando.

As pessoas que morreram eram inocentes. Isso gerou revolta em todo mundo. Os policiais não conseguiram lidar com essa revolta e trataram as pessoas com grosseria.

Achei que em algum momento eles iam agredir alguém. Um dos policias deu um tiro pro alto e todo mundo saiu correndo. Quando o IML chegou, a polícia fez um isolamento na área e disse que quem ficasse na rua seria chamado para testemunhar. Aí todos saíram da rua porque aqui temos medo de falar, de testemunhar.

A rua esvaziou. Ninguém quer se comprometer, ninguém vai querer falar. Foi um massacre.

***

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Pará disse que está se reunindo com as Polícias Civil e Militar “com o objetivo de prosseguir nas medidas para elucidação de cinco homicídios registrados ontem no bairro da Condor, em Belém.”