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Brasil recusa convite da ONU para integrar missões de paz na África; motivo seria financeiro

Capacetes azuis da ONU na República Centro-Africana - AFP PHOTO / ALEXIS HUGUET
Capacetes azuis da ONU na República Centro-Africana Imagem: AFP PHOTO / ALEXIS HUGUET

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

10/04/2018 21h36

O Ministério da Defesa divulgou nota na noite desta terça-feira (10) afirmando que o governo brasileiro recusou o pedido da ONU para o envio de tropas para as missões de paz na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo.

O UOL apurou que a recusa aconteceu devido a restrições financeiras. A missão na República Centro-Africana, cuja negociação estava mais avançada, foi orçada em R$ 400 milhões no primeiro ano.

A ONU havia pedido em novembro do ano passado 750 militares para conter uma onda de assassinatos em massa em campos de refugiados da República Centro-Africana. As mortes estão sendo causadas por conflitos entre combatentes muçulmanos ex-Seleka e cristãos Anti-Balaka.

A missão de paz da ONU no país conta majoritariamente com tropas africanas, carentes de recursos e treinamento, que não têm conseguido conter a violência. O Brasil é visto pela ONU como um país experiente na área, devido à participação em diversas missões no passado, principalmente no Haiti. 

O presidente Michel Temer havia afirmado em janeiro que era “muito provável” que o pedido seria atendido. Ao menos duas missões de reconhecimento com militares brasileiros foram enviadas ao país, e tropas do Exército e da Marinha começaram a ser treinadas para a operação.

Prestígio e riscos

Uma missão na República Centro-Africana era vista como uma possibilidade de o Brasil se destacar em meio a outras nações e acumular prestígio político internacional para o Brasil.

A missão de paz na República Democrática do Congo também foi cogitada. Uma parte importante dessa missão -- a Brigada de Intervenção, a primeira tropa de caráter ofensivo da ONU – foi comandada pelo general Brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz entre 2014 e 2016 (hoje ele é o secretário executivo do Ministério da Segurança Pública do Brasil) mas, fora o general e uma pequena equipe, não foram enviados contingentes brasileiros de tropas.

Mas a avaliação do governo na época foi que o nível de perigo era muito alto e o Brasil teria menos condições de se destacar no trabalho de pacificação no Congo em comparação com o cenário na República Centro-Africana.

Forças Armadas divididas

As Forças Armadas brasileiras estavam divididas sobre a participação em uma nova missão de paz, segundo apurou o UOL.

Os defensores da ideia argumentaram que a ONU havia aberto espaço para o crescimento da importância do Brasil no cenário geopolítico internacional -- e o país perdeu a oportunidade, o que pode não se repetir.

A possibilidade de continuar o treinamento de tropas em operações conjuntas com forças de outros países também foi um argumento utilizado. Essa ala de militares recebeu a notícia do cancelamento com grande frustração.

O grupo contrário dizia que era preciso primeiro “arrumar a casa” antes de partir para uma nova ação internacional. Com o início da intervenção federal no Rio e as restrições orçamentárias, essa ala acabou sendo atendida pela decisão do governo.

O Ministério da Defesa não descartou, porém, a possibilidade de participação em outras eventuais missões de paz no futuro.

“O Brasil permanece com o seu compromisso internacional de colaborar com a paz mundial, mantendo aberto o diálogo com a ONU e permanecendo em condições de contribuir, no futuro, para outras missões de manutenção de paz”, disse o Ministério da Defesa em nota.