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Em enterro, família pede justiça após mortes de PM e sua mãe no Rio: "eles vão pagar"

Familiares e amigos participam do sepultamento de policial e de sua mãe no RJ - Marina Lang/UOL
Familiares e amigos participam do sepultamento de policial e de sua mãe no RJ Imagem: Marina Lang/UOL

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

08/06/2018 12h01

Mais de 200 pessoas acompanharam o velório e o sepultamento do sargento Douglas Fontes Caluête, 35, e de sua mãe Maria José Fontes, 56 -- que morreu de infarto após reconhecer o corpo do filho na manhã desta sexta-feira no Rio de Janeiro. As cerimônias ocorreram sob forte comoção e familiares pediram que seja feita justiça para as vítimas.

"Eles vão pagar, pelo amor de Deus eles vão pagar. Minha irmã morreu", gritou Marcia Fontes, tia do PM e irmã da mãe. 

Maria José Fontes, passou mal e morreu logo após ver o corpo do sargento Douglas Fontes Caluête, 35, assassinado em uma tentativa de assalto na madrugada de quinta-feira em Gramacho, na Baixada Fluminense.

O carro onde estavam Caluête e sua namorada foi cercado por cinco assaltantes armados na avenida Rio Branco, a cerca de dois quilômetros da casa da mãe dele. Os suspeitos viram a arma do policial no carro e por isso ordenaram que ele saísse do veículo e se deitasse no chão.

O sargento Douglas Fontes Calute e sua mãe, Maria José Fontes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O sargento Douglas Fontes Calute e sua mãe, Maria José Fontes
Imagem: Arquivo pessoal

O policial foi então baleado a curta distância e morreu no local. Sua namorada conseguiu escapar. Ao saber da notícia, Maria José foi até o local mas passou mal e morreu quando era levada para um hospital.

O sepultamento ocorreu às 11h35 desta sexta-feira (8). Ivone Carmo da Silva, irmã de criação da mãe e tia do PM, também passou mal e foi socorrida no funeral. 

Manoel Gonçalves Caluête, 62, pai do PM assassinado, disse que nunca foi a favor de que seu filho ingressasse na carreira policial. "Quando ele estava estudando para o concurso, aconselhei ele a não seguir essa profissão. Eu tinha medo, é um barril de pólvora, de uma hora para outra acontece o que aconteceu", disse. "Era um excelente filho: Foi embora um pedaço de mim."

Ele contou que quando receberam a notícia de que Douglas havia sido assassinado, os pais saíram de casa na madrugada e foram ao local do crime. Ao chegar, a mãe de Douglas reconheceu o filho e desmaiou. "Aí chegou na UPA de Gramacho e não aguentou".

Filho e irmão das vítimas, Rômulo Fontes Caluête descreveu o amor da mãe por seu irmão assassinado. "Minha mãe era louca pela gente. Mas ela tinha uma coisa com ele, acho até que por causa da polícia, pela profissão dele. Toda vez que passava [na TV sobre] os 53 [PMs] assassinados, ela dizia que se isso acontecesse, ela ia junto. E foi."

Cúpula da intervenção

A indignação com o assassinato do policial e a morte de sua mãe chegou à cúpula do Gabinete de Intervenção Federal - responsável pela gestão das polícias no estado desde fevereiro. Além de lamentar o crime, parte dos chefes da intervenção criticaram reservadamente o fato de organizações de defesa de diretos humanos não terem se manifestado sobre as mortes, como fizeram em outros crimes que repercutiram no Rio, segundo oficiais ligados à intervenção disseram ao UOL.

Segundo um oficial de alto escalão, os militares até entendem que parcelas da sociedade não se comovam com a morte de policiais, pois os agentes atuam movidos pelo “dever do ofício”, mas “esse pensamento não pode se estender à mãe do policial”.

Entidades que já se manifestaram em casos anteriores de violência no Rio, como a Conectas Direitos Humanos, o Instituto Sou da Paz e a Anistia Internacional, não haviam comentado o caso até a manhã desta sexta-feira (8). Ao ser procurada pelo UOL, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio afirmou que já presta rotineiramente assistência a familiares de policiais mortos e que vai ajudar parentes da mãe e do filho que morreram na quinta-feira (7).

Depois de ser procurado pelo UOL, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) afirmou: "As mortes do sargento Douglas e de sua mãe, Maria José, são lamentáveis. Além de nos mostrar como os policiais estão vulneráveis, o assassinato expõe como a violência destroça tantas famílias".

A ausência de membros de organizações de direitos humanos no enterro foi criticada pela família das vítimas. "Não foi ninguém na minha casa, não foi ninguém ver o meu pai, não foi ninguém ver um parente meu [ou] me dar assistência. Ninguém desses direitos humanos. Só fui assistido pelo comandante do 15º BPM [onde Douglas era lotado]", afirmou. 

Autoridades da segurança pública e da intervenção não deram declarações públicas sobre o caso. A organização de assistência a policiais SOS Policia disse esperar da intervenção federal uma resposta "efetiva" para a "carnificina" que está ocorrendo contra policiais no estado, segundo afirmou o tenente Milton da Silva, membro da entidade, durante o enterro. 

"Não desejo isso que aconteceu com minha mãe e eu irmão para ninguém. Dá raiva, a gente fica chateado, mas Deus está no controle", disse. "Meu irmão e minha mãe se foram sabendo que eu os amava".

Colaborou: Luis Kawaguti, do UOL, no Rio