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Com apoio em queda, Femen luta para se manter na mídia

Fabian Reinbold

03/11/2013 06h00

Integrantes do controverso grupo feminista Femen lançaram uma série de protestos chamativos na Alemanha. Mas o público não está mais chocado com suas táticas "sextremistas", levando a uma redução do apoio já frágil ao grupo.

Por um momento, pareceu que o Femen havia chegado ao palco principal da política. Josephine, uma ativista do Femen, conversava com seus anfitriões, representantes dos Sociais-Democratas (SPD), de centro-esquerda. A apenas uma cadeira dali estava Olaf Scholz, o prefeito do SPD da cidade-Estado de Hamburgo, no norte da Alemanha. Quando ele subiu ao pódio, a ativista do Femen Zana endireitou os óculos, enquanto sua companheira de cruzada Hellen aplaudiu educadamente.

Dez minutos mais tarde, enquanto Scholz falava sobre "o princípio da equidade e justiça” nas políticas de refugiados, as três mulheres arrancaram suas blusas, correram na direção do prefeito, brigaram com seus guarda-costas e gritaram sem parar: "Tenha vergonha, Scholz!" Hellen tinha as palavras "Fora Scholz" pintadas no peito e "Abaixo o racismo" nas costas. Em termos de protestos do Femen, foi um episódio convencional, apenas adaptado para a atual controvérsia sobre os refugiados em Hamburgo.

Há um ano, as gurreiras de seios à mostra da Ucrânia têm uma base na cidade portuária alemã. Elas e suas colegas de Berlim vêm entoando um grito de guerra no debate sobre o feminismo. As mulheres atacaram Vladimir Putin numa feira em Hanover, invadiram o palco do programa popular de Heidi Klum "Germany's Next Topmodel" e protestaram em frente à chancelaria e no Reeperbahn, o coração do distrito da luz vermelha de Hamburgo.

O primeiro protesto do grupo, numa IKEA de Hamburgo em 2012, foi coberto apenas pela mídia local. Depois da emboscada a Scholz, as três feministas deram risadas enquanto tomavam cerveja num restaurante tailandês, comentando que os guarda-costas de Scholz agora estão bastante familiarizados com elas.

A única questão, no entanto, é que o Femen se tornou um nome conhecido na Alemanha. Claro, isso por si só é um sucesso --mas também um problema.

No entanto, as integrantes do grupo na Alemanha, que agora são pouco mais de 12, querem continuar fieis à sua causa. Mas, para fazer isso, elas terão que inventar algo novo. Outras feministas criticaram a maneira de protestar do Femen por algum tempo. O que mudou, porém, é que a forma de protesto agora rotineira do grupo está irritando cada vez mais seu principal público --as próprias pessoas que não consideram de imediato as integrantes do Femem como simplórias, antirreligiosas e vítimas de uma amnésia histórica. Na verdade, o grupo corre o risco de tornar-se, numa só palavra, velho.

“Nós atraímos atenção internacional”

Sem chamar a atenção e sem cobertura da mídia, a tática do Femen é ineficaz. Depois que foram liberadas pela polícia de Hamburgo após o ataque a Scholz, as três ativistas imediatamente checaram seus smartphones para ver quem já estava relatando sua façanha. "Queremos dizer na cara do homem responsável pelos controles racistas em Hamburgo que ele deveria ter vergonha de si mesmo”, disse a ativista Hellen Langhorst. “E estamos chamando a atenção internacional para o problema dos refugiados.”

O Femen desenvolveu uma rotina de protesto habitual. Ele dá a dica para os jornalistas antes de qualquer manifestação. Além disso, sempre que as ativistas são acusadas de invasão de propriedade ou calúnia, o caso costuma ser abandonado.

A questão é: será que seus protestos realmente têm algum efeito positivo? Na verdade, não ajuda em nada os relatos de que há um homem por trás da organização-mãe do grupo na Ucrânia, incitando-as a fazer protestos sem roupa. Essas matérias só confirmam o ceticismo dominante quanto ao Femen.

As ativistas do Femen na Alemanha, no entanto, preferem não comentar sobre essas questões. Josephine Witt, por exemplo, diz sobre o suposto mentor ucraniano: "pode ser que ele tenha tomado as rédeas brevemente”. Mas ela e suas colegas ativistas alemãs enfatizam que fundaram sua filial de forma independente, e que só uma delas falou ao telefone com o homem misterioso.

O Femen tampouco tem dúvidas sobre a justeza da muito criticada viagem de protesto de uma ativista à Tunísia. Josephine Witt, que passou quatro semanas na cadeia depois de protestar em prol de uma tunisiana presa, diz que não se arrepende nem um pouco. O tempo na cadeia foi duro, ela admite, mas ela está orgulhosa do que fez. "Eu tinha me cansado do feminismo de sofá, e realizei mais do que isso com o Femen”, diz ela. “A luta continua.”

Transformando o “sextremismo” em marca

Para continuar travando sua batalha contra o patriarcado, as integrantes da divisão alemã do Femen, que são principalmente estudantes universitárias, precisam de dinheiro. As autoproclamadas "sextremistas" abriram uma conta bancária no verão para solicitar doações, que dizem ser essenciais para as despesas de viagem e formação. Mas, até agora, menos de 300 euros (cerca de US$ 415) foram depositados na conta.

Com a dificuldade de financiamento, as mulheres esperam que algum merchandising as ajude com suas finanças. Elas recentemente começaram a fazer bolsas pintadas à mão, com seis slogans diferentes, a 15 euros cada --além do custo do envio. Elas salientam que as sacolas são feitas com materiais provenientes do "comércio justo". E o grupo diz que as vendas foram boas, apesar de se recusar a citar números concretos.

Claro, isso só desperta a curiosidade daqueles que sempre suspeitaram que o Femen é apenas uma jogada de marketing. Mas as ativistas veem isso como uma questão pragmática. As sacolas permitem que as simpatizantes do grupo declarem seu apoio abertamente. Ainda assim, as ‘femenistas’ alemãs não têm planos para vender o que suas irmãs de luta ucranianas oferecem: impressões feitas com os seios a US$ 70 cada.