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Mulheres republicanas preferem discutir economia a questões como aborto e casamento gay

Republicanas arrumam o cabelo em espaço reservado às mulheres perto de onde foi realizada a convenção do partido, em Tampa, na Flórida - Max Whittaker/The New York Times
Republicanas arrumam o cabelo em espaço reservado às mulheres perto de onde foi realizada a convenção do partido, em Tampa, na Flórida Imagem: Max Whittaker/The New York Times

Susan Saulny

Em Tampa, Flórida (EUA)

01/09/2012 06h00

A uma quadra da Convenção Nacional Republicana, em um centro comercial próximo de um restaurante Hooters, fica o Woman Up! Pavilion, patrocinado pela Young Guns Network, um supercomitê de ação política (Super Pac, na sigla em inglês) que promove candidatos conservadores.

Sua decoração é acolhedora, com banquetas curvilíneas com aroma de cravos e rosas. Um cabeleireiro oferece cortes e há uma loja de presentes. Coquetéis como Lady Lemonade e Woman-Tini são vendidos por US$ 6.

O pavilhão conta em uma sala com um museu do sufrágio feminino e fóruns sobre assuntos como “Advocacia significa negócios: Construindo sua organização” e “A Europeização dos Estados Unidos”.

O que está faltando neste local bastante inclusivo? A discussão de temas sociais –aborto, casamento de pessoas do mesmo sexo, cobertura dos planos de saúde para controle da natalidade– que algumas vezes estiveram presentes na disputa pela indicação republicana.

“Nós não falamos sobre temas sociais”, disse Mary Ann Carter, diretora de política da Young Guns Network, que administra o pavilhão, enquanto várias mulheres jovens da convenção conversavam bebendo café e comprando souvenires. “Nós conversamos sobre economia. Nós conversamos sobre a saúde. Nós conversamos sobre energia.”

Esse refrão é ouvido com frequência na convenção e arredores. Em dezenas de entrevistas, as mulheres na convenção deixaram claro que questões sociais estão em segundo plano. Até mesmo aquelas que concordam (ou discordam) passionalmente com a nova plataforma do partido –pedindo pelo casamento tradicional, exibição pública dos Dez Mandamentos e uma ampla proibição do aborto– não estavam dispostas a discutir a respeito. (Uma exceção foi a irmã de Mitt Romney, Jane, que declarou na quarta-feira que uma proibição ao aborto “nunca acontecerá” em um governo Romney).

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Em vez disso, as mulheres na convenção preferiram apontar para a noite de abertura, na terça-feira, quando um desfile de mulheres republicanas se revezou ao microfone, incluindo Ann Romney, que falou sobre sua família, e a governadora da Carolina do Sul, Nikki R. Haley, que pregou o evangelho do empoderamento econômico, livre da interferência das regras do governo.

A visibilidade era uma forma, disseram as mulheres, de combater a acusação da campanha de Obama de que o partido delas está travando uma guerra contra as mulheres.

“Eles adotaram a abordagem do amor suave”, disse Sandra Stroman, uma participante da convenção em frente às câmaras, acrescentando: “Aqui estão as mulheres republicanas. Elas aparentam que estamos travando uma guerra contra elas?”

Com a intenção de ter apelo junto a eleitores além da base do partido, muitas mulheres republicanas estão simplesmente evitando mencionar o aborto e os direitos dos gays, por serem considerados muito divisores em uma disputa tão acirrada. Algumas reconhecem que estão minimizando deliberadamente seus pontos de vista, por interesse estratégico. Em vez disso, elas querem falar sobre a economia, assim como a campanha de Romney.

“Qualquer coisa que dê às mulheres a ideia de que não podem encontrar amigos no Partido Republicano não é de ajuda”, disse Kristen Soltis, uma analista de pesquisas e consultora do Crossroads Generation, um Super Pac pró-Romney.

“Eu acho que o que será decisivo nesta eleição é a economia básica: como vou pagar minhas contas? Como vou assegurar que meus filhos tenham uma boa educação? Como vou assegurar a saúde de meus pais?”

Soltis, 28, é pessoalmente a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas é contrária ao aborto. Ela disse que tende a não se concentrar na plataforma do partido e espera que algum dia ele possa novamente se deslocar para o centro, ao menos nas questões sociais.

“Particularmente, eu acho que à medida que mais jovens ingressem no partido, isso levará o partido a adotar posições diferentes com o passar dos anos”, disse, acrescentando que, enquanto isso, “eu me considero voltada para as questões fiscais”.

  • Stephen Crowley/The New York Times

    Integrantes da Federação Nacional das Mulheres Republicanas acompanham discurso de Mia Love, prefeita em Utah. As mulheres na convenção do partido ressaltaram que assuntos como aborto são muito divisores para serem debatidos em uma disputa tão acirrada

Mia Love, uma prefeita em Utah que está concorrendo ao Congresso, geralmente destaca seu conservadorismo de inspiração mórmon, mas ela também evitou questões sociais em seu discurso na convenção, na terça-feira (28), preferindo falar sobre a vida de seus pais, que eram imigrantes do Haiti.

“Eu não me concentro nas questões sociais porque as questões econômicas são importantes para o meu distrito”, ela disse em uma entrevista. “Disciplina fiscal, nossa dívida e déficit. Nós precisamos nos concentrar no trabalho.”

Deidre Henderson, uma amiga de Love e candidata ao Senado estadual de Utah que concorda com a plataforma do partido, descreveu-se como “pró-vida”, mas acrescentou que as questões sociais são “uma distração”. “Nós precisamos nos concentrar na economia”.

O distanciamento das questões sociais é ainda mais urgente, reconheceram algumas mulheres republicanas, após os comentários altamente polarizadores feitos pelo deputado Todd Akin, do Missouri, há duas semanas, alegando que nos casos de “estupro legítimo”, não é preciso considerar o aborto, porque o sistema reprodutivo da mulher se fecha.

“É claro que não foi de ajuda”, disse Soltis, dizendo que os democratas aproveitaram a deixa para reafirmar seu argumento de que os republicanos são hostis às mulheres. “Eu acho que, como o desemprego está tão alto, os democratas acham que é muito mais fácil conquistar os eleitores do sexo feminino se falarem sobre essas questões sociais. Eu acho que é uma aposta arriscada para eles, porque eu acredito firmemente que esta será uma eleição sobre a economia.”

E quanto a esse assunto, as mulheres republicanas pretendem responder ao fogo dos democratas. Rae Lynne Chornenky, presidente da Federação Nacional das Mulheres Republicanas, discursou na convenção na segunda-feira (27), repetindo a alegação frequentemente refutada de que 92% de todos os empregos perdidos durante a presidência de Barack Obama foram de mulheres.

“Se há uma guerra contra as mulheres”, ela disse, “é o presidente Barack Obama que está travando”.

  • Max Whittaker/The New York Times

    Cindy McCain acompanha discurso de Ann Romney, mulher do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, durante a convenção do partido, em Tampa

(Sarah Wheaton, em Palm Harbor, Flórida, contribuiu com reportagem)