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Fotógrafo de NY fenômeno na web muda foco e visita Iraque, Jordânia e Congo

Brandon Stanton visitou um campo de refugiados em Zaatari, na Jordânia, "fugindo" do tema com o qual conseguiu a fama virtual: os humanos de Nova York - Reprodução/Facebook/Humans of New York
Brandon Stanton visitou um campo de refugiados em Zaatari, na Jordânia, 'fugindo' do tema com o qual conseguiu a fama virtual: os humanos de Nova York Imagem: Reprodução/Facebook/Humans of New York

Jonah Bromwich

19/08/2014 06h00

Quando Brandon Stanton, o fotógrafo por trás do enormemente popular site "Humans Of New York" (Humanos de Nova York), chegou neste mês a Irbil, Iraque, ele não tinha ideia de que o caos estava prestes a engolfar a cidade.

"Foi uma total coincidência eu estar por acaso lá", disse Stanton. "Eu cheguei ao Iraque no dia em que a hidrelétrica de Mosul foi tomada e no dia em que o Monte Sinjar foi tomado."

Stanton é conhecido por caminhar pelas ruas de Nova York tirando fotos das pessoas e as entrevistando sobre suas vidas. Ele então posta os retratos e legendas no blog "Humans of New York", assim como no Instagram, onde seu trabalho conta com mais de 1,5 milhão de seguidores, e na página do blog no Facebook, que conta com mais de 9 milhões. Seu livro com o mesmo título passou 21 semanas na lista de best-sellers de não ficção do "New York Times", subindo rapidamente ao 1º lugar.

Agora Stanton desviou seu olhar além dos cinco distritos, documentando a vida nas ruas perto de áreas perigosas e zonas de guerra por todo o mundo, em uma viagem de 50 dias patrocinada pela ONU. Irbil foi a primeira parada, e de lá para cá ele visitou um campo de refugiados na Jordânia e a República Democrática do Congo. Ele planeja visitar a Ucrânia, Haiti e Sudão do Sul.

"Esses são os lugares de onde vêm as manchetes mais extremas", disse Stanton por telefone de Jerusalém, onde planejava tirar fotos e então pedir permissão à ONU para postá-las.

Em uma de suas postagens, um homem ao lado de suas três filhas pequenas em um mercado, no norte do Iraque, confessa seu temor de não conseguir sustentá-las. Em outra, um homem montado em um camelo, na antiga cidade jordaniana de Petra, discute sua filosofia de vida. Muitas das fotos mais tocantes vieram do campo de refugiados Zaatari, na Jordânia, onde foram parar muitos dos sírios que fugiram da guerra civil de seu país. As histórias dessas fotos costumam envolver a morte de alguém da família ou de um vizinho.

Apesar de Stanton ter atraído um grande número de seguidores, alguns especialistas em fotografia sugerem que há limites para o impacto de seu conteúdo. Nina Berman, uma professora associada da Escola de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade de Columbia e a fotógrafa por trás do livro "Purple Hearts: Back from Iraq", elogiou o trabalho de Stanton, mas disse que a série de viagem "não permite qualquer complexidade, não dá qualquer informação histórica e nem alguma forma de acesso ao quadro maior". Ela acrescentou: "É uma forma de ter notícias de um lugar inacessível, assustador, que parece seguro e aconchegante".

Mulheres no Iraque fotografadas por Brandon Stanton, o fotógrafo por trás do enormemente popular site "Humans Of New York" - Reprodução/Facebook/Humans of New York - Reprodução/Facebook/Humans of New York
Mulheres no Iraque fotografadas por Brandon Stanton, o fotógrafo por trás do enormemente popular site "Humans Of New York"
Imagem: Reprodução/Facebook/Humans of New York

As fotos receberam dezenas de milhares de comentários no Facebook. "Eles são como nós", é o sentimento expressado com mais frequência, e algumas observações parecem ingênuas: um comentarista não sabia que existiam shopping centers no Oriente Médio, outro achava que a região "só tinha aldeias de tendas e areia". Outras conversas se tornam inevitavelmente políticas, como uma sobre a guerra Irã-Iraque.

A viagem é um veículo de promoção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, uma missão em oito partes focada em reduzir a pobreza, proteger o meio ambiente e promover a paz, entre outros objetivos. Corinne Woods, a diretora da campanha da ONU para criar apoio à iniciativa, disse que o grupo procurou Stanton para propor a viagem. Apesar da campanha já ter contratado fotógrafos para promover sua missão no passado, disse Woods, ela raramente encontra um parceiro com o tipo de alcance que o "Humans of New York" tem.

"Brandon é um fotógrafo, é um contador de histórias, é um fenômeno das redes sociais", ela disse. "Essa combinação nos pareceu muito marcante."

Stanton, 30, se mudou para Nova York e começou a tirar fotos depois de perder seu emprego como operador de títulos em Chicago, em 2010. Após vários meses, ele adicionou o componente da entrevista, postando trechos de conversa juntamente com as fotos. Ele começou a ganhar seguidores, o que levou à publicação de seu primeiro livro em outubro passado. "Little Humans", um livro focado em crianças, deverá sair nos próximos meses.

O fotógrafo diz ser apolítico. "Eu tento propositalmente evitar infundir qualquer significado no trabalho", ele disse.

Mas os críticos de seu projeto dizem que é enganador sugerir que política pode ser evitada, especialmente nos lugares que Stanton está visitando.

Brianna Cox, uma estudante de pós-graduação de pensamento social na Universidade de Nova York, que se incomoda com a posição de Stanton, já teve problemas com o "Humans of New York" no passado; ela publicou recentemente um relato de sua experiência de ter tido um comentário bloqueado pelo blog, quando acusou uma pessoa fotografada, um professor branco frustrado de uma escola do Harlem, de racismo implícito. Cox foi amplamente criticada pela comunidade online do grupo por levantar a questão de raça, e ela, por sua vez, afirma que os seguidores do blog tendem a minimizar as diferenças a respeito de raça e religião.

Sobre o projeto atual, ela disse: "Eu temo que as pessoas não pensem além do que lhes é dado. Dizer que você é apolítico é uma escolha e essa escolha coloca você de acordo com o status quo".

Mas Stanton diz que evitar política o ajuda a se concentrar na vida cotidiana das pessoas que fotografa. "Eu volto a expandir minha conscientização do espectro da experiência humana", ele disse. "A profundidade e extensão da tragédia que as pessoas enfrentam, e ainda assim continuam vivendo e rindo, têm sido realmente chocante."