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Novas imagens mostram China literalmente ganhando terreno no mar do Sul da China

Embarcações chinesas depositam areia no chamado "recife de Malícia" - CSIS"s Asia Maritime Transparency Initiative/The New York Times
Embarcações chinesas depositam areia no chamado "recife de Malícia" Imagem: CSIS's Asia Maritime Transparency Initiative/The New York Times

David E. Sanger e Rick Gladstone

Em Washington (EUA)

10/04/2015 12h20

Aglomerados de embarcações chinesas se ocupam dragando areia branca e a despejando em um recife de coral parcialmente submerso, apropriadamente chamado de "recife de Malícia", o transformando em uma ilha.

Em questão de semanas, fotos por satélite mostram a ilha crescendo, com seus poucos barracos em palafitas substituídos por prédios. O que parece ser uma embarcação de guerra anfíbia, capaz de transportar 500 a 800 tropas, patrulha a abertura sul do recife.

A China há muito clama a propriedade do arquipélago no mar do Sul da China conhecido como Ilhas Spratly, também reivindicado por pelo menos três outros países, incluindo as Filipinas, um país aliado dos Estados Unidos. Mas a série de fotos detalhadas do recife de Malícia mostram velocidade impressionante, escala e ambição do esforço da China de literalmente ganhar terreno na disputa.

Elas mostram que, desde janeiro, a China vem dragando enormes quantidades de areia em torno do recife e a utilizando para formar massa de terra –o que analistas militares no Pentágono estão chamando de "fatos na água"– a centenas de quilômetros do território continental chinês.

Os chineses concluíram que é improvável que alguém os desafie em uma área que acreditam ser rica em petróleo e gás e, talvez mais importante, estrategicamente vital. Na semana passada, o almirante Harry Harris, o comandante da frota americana no Pacífico, acusou a China de realizar uma operação enorme e sem precedente de criação de terras artificiais. "A China está criando uma grande muralha de areia com dragas e tratores", disse Harris em um discurso em Canberra, Austrália.

O secretário de Defesa, Ash Carter, em sua primeira viagem à Ásia, colocou as preocupações americanas em termos mais diplomáticos. Em uma entrevista para coincidir com sua primeira visita, publicada na quarta-feira no "Yomiuri Shimbun", um dos maiores jornais do Japão, Carter disse que as ações da China "aumentam seriamente as tensões e reduzem as perspectivas de soluções diplomáticas" para o território reivindicado pelas Filipinas e pelo Vietnã e indiretamente por Taiwan.

Ele pediu a Pequim que "limite suas atividades e exerça restrição para melhorar a confiança regional". Essa é basicamente a mesma mensagem diplomática que o governo Obama transmite à China desde que Hillary Rodham Clinton, a então secretária de Estado, e seu par chinês se enfrentaram em torno da questão em uma cúpula asiática em 2010.

Apesar de outros países no Sudeste Asiático, como Malásia e Vietnã, terem usado técnicas semelhantes para estender ou ampliar o território, nenhum conta com o poder de dragagem e construção da China.

As novas fotos por satélite, obtidas e analisadas pelo Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, um grupo de pesquisa em Washington, certamente confirmam as preocupações expressadas por Carter e Harris.

"As atividades de construção da China no Recife de Malícia são a mais recente evidência de que a reivindicação de terras por Pequim é generalizada e sistemática", disse Mira Rapp-Hooper, diretora da Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia do centro, um site dedicado a monitorar a atividade no território disputado.

Apesar desses postos avançados serem vulneráveis demais para uso pela China em uma guerra, ela disse, "eles certamente permitem que ela exerça pressão sobre outros requerentes no mar do Sul da China, como as Filipinas e o Vietnã".

A questão representa um problema para o governo Obama, não apenas porque as Filipinas são aliadas por tratado. A China está trabalhando tão rapidamente que sua reivindicação de soberania poderia se tornar um fato consumado antes que qualquer coisa possa ser feita para impedir.

Os Estados Unidos há muito insistem que disputas territoriais sejam resolvidas pacificamente e que nenhum requerente deve interferir na navegação internacional ou tome medidas para impedir uma solução diplomática da questão. Mas, para os chineses –já exibindo força de modo ameaçador em outras disputas territoriais e criando um banco asiático de infraestrutura para desafiar o Banco Mundial criado pelo Ocidente –, esse não é um assunto para negociação.

Imagens por satélite das Ilhas Spratly publicadas pela "IHS Jane's" em novembro mostravam como os chineses criaram uma ilha de cerca de 3.000 metros de extensão e 300 metros de largura no recife Cruz de Fogo, a cerca de 320 km a oeste do recife de Malícia, com um porto capaz de receber navios de guerra. A "IHS Jane's" disse que a nova ilha era capaz de conter uma pista de pouso e decolagem para aviões militares.

Os Estados Unidos estão prestes a realizar um exercício militar conjunto com as Filipinas, parte da estratégia emergente do governo Obama de manter os navios americanos percorrendo a área regularmente, uma forma de repelir as reivindicações chinesas de direitos exclusivos. O governo fez o mesmo quando a China declarou uma zona de defesa aérea na região há mais de um ano.

Os chineses disseram que consideram grande parte do mar do Sul da China como sendo por direito deles –uma reivindicação que outros também fazem. A China e o Japão têm uma disputa territorial separada em torno de ilhas que o Japão chama de Senkaku e a China chama de Diaoyutai. Essas tensões relaxaram um pouco recentemente.

No ano passado, a China e o Vietnã se emaranharam em uma discussão acalorada depois que a China rebocou uma plataforma de exploração de petróleo em águas profundas, no valor de US$ 1 bilhão, para uma área a 240 km da costa do Vietnã. Na terça-feira, a agência de notícias oficial da China, a "Xinhua", relatou que líderes de ambos os países queriam resolver suas diferenças e "controlar suas disputas de modo a assegurar que o relacionamento bilateral se desenvolva no rumo certo".

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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