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Hillary segue vencendo, mas homens brancos resistem à sua candidatura

Dennis Bertko em um restaurante em Youngstown (Ohio) - Mark Makela/The New York Times
Dennis Bertko em um restaurante em Youngstown (Ohio) Imagem: Mark Makela/The New York Times

Patrick Healy

19/03/2016 06h01

Os homens brancos apoiaram firmemente Hillary Clinton quando ela disputou a Presidência em 2008, mas desta vez estão resistindo a sua candidatura em Estados que são importantes campos de batalha, e isso preocupa alguns democratas sobre sua estratégia para a eleição geral.

Enquanto Hillary venceu as cinco primárias mais importantes na última terça-feira, perdeu o voto dos homens brancos em todas elas, e por margens de dois dígitos em Missouri, Carolina do Norte e Ohio, segundo pesquisas de boca de urna --uma forte virada em relação a 2008, quando ganhou por dois dígitos entre os eleitores brancos nesses três Estados.

Também não se saiu bem na terça-feira entre os independentes, que nunca foram seus principais eleitores. Mas os homens brancos haviam sido, pelo menos quando Hillary disputou contra um adversário negro: ela os atraiu explicitamente em 2008, elogiando a Segunda Emenda, zombando do comentário de Barack Obama de que os eleitores da classe trabalhadora "adoram armas ou religião" e até alfinetando-o a certa altura sobre suas dificuldades com os "trabalhadores americanos que dão duro, americanos brancos".

Ela não poderia parecer mais diferente hoje, em sua agressiva campanha para enrijecer as leis de controle de armas e cortejando especialmente os eleitores negros e hispânicos.

Sua posição entre os homens brancos não ameaça seu avanço para a nomeação democrata este ano, nem a impede de ganhar em novembro, a menos que caia ainda mais. Obama perdeu o voto branco para Hillary, afinal, mas ainda conquistou a Presidência.

O que é notável é a mudança de atitude sobre Hillary entre esses eleitores, e o esforço dela para reconquistá-los. Em dezenas de entrevistas em jantares, escritórios e bairros de todo o país, muitos democratas brancos expressaram uma série de dúvidas e alguns ex-apoiadores agora se afastam dela.

Muitos disseram que não confiam em Hillary para restaurar a economia, por causa de sua riqueza e suas ligações com Wall Street. Segundo alguns, o fato de ela ter usado um e-mail privado quando era secretária de Estado indicou que tinha algo a esconder. Para outros, uma mulher não deve ser a comandante-em-chefe.

Mas a maioria disse achar que Hillary simplesmente não se importa com pessoas como elas.

"Ela está falando com as minorias agora, e não realmente com as pessoas brancas, e isso é um erro", disse Dennis Bertko, 66, um gerente de construção em Youngstown, Ohio, enquanto tomava um chope no restaurante Golden Dawn, em uma área decadente da cidade. "Ela poderia ter uma mensagem mais ampla. Nós teríamos escutado."

"Mas ela está falando muito sobre continuar as políticas de Obama", afirmou. "Eu não concordo necessariamente com todas as ideias liberais de Obama."

22.fev.2016 - O democrata Forrest Giffin, em Sumter (Carolina do Norte) - Gabriella Demczuk/The New York Times - Gabriella Demczuk/The New York Times
O democrata Forrest Giffin, em Sumter (Carolina do Norte)
Imagem: Gabriella Demczuk/The New York Times

Bertko disse que raramente abandona o partido, mas que agora votou em Donald Trump, que está fazendo um discurso forte para os homens brancos decepcionados, atacando os acordos de livre comércio que Hillary já defendeu.

"Conheço muitos homens que estão abertos para Trump", disse ele.

A diluição dos homens brancos como bloco democrata não é novidade: o último candidato nomeado que os arrebanhou foi Lyndon Johnson em 1964, e muitos "democratas de Reagan" da classe trabalhadora hoje votam firmemente nos republicanos. Mas os democratas ganharam cerca de 35% a 40% dos homens brancos em quase todas as eleições presidenciais desde 1988.

E alguns líderes democratas dizem que o partido precisa do voto dos homens brancos para ganhar a presidência, angariar grandes quantias de dinheiro e, gostem ou não, manter a credibilidade como uma coalizão nacional de base ampla.

Para ganhar uma eleição geral, Hillary contaria mais fortemente com a participação dos eleitores negros, hispânicos, mulheres e idosos. Apesar de ela ter ganhado em Arkansas, Alabama e Tennessee, e empatado no Texas, alguns dirigentes e pesquisadores democratas dizem temer que sem uma estratégia mais forte Hillary possa se sair tão mal entre os homens brancos quanto Walter Mondale, que recebeu apenas 32% desses votos em 1984, ou George McGovern, com 31% em 1972.

"Seu problema de relacionamento mais sério é com os homens brancos, em uma frente de questões políticas, mas também do ponto de vista de estilo, e ela corre um risco real de se sair pior com os homens brancos que a média democrata", disse Peter Hart, um veterano pesquisador do partido.

Bill Richardson, ex-governador do Novo México e secretário de Energia do presidente Bill Clinton, disse que Hillary precisa se concentrar mais nas questões econômicas e na criação de empregos e mobilizar seu marido a seu favor.

"É preciso dar prioridade a conter a erosão dos eleitores brancos e dos 'democratas de Reagan' para os republicanos", disse ele.

Os assessores de Hillary manifestaram confiança, dizendo que suas políticas econômicas e experiência em segurança nacional serão um forte apelo aos homens brancos em uma eleição geral.

Segundo eles, Hillary ganhou habitualmente entre os maiores de 45 anos, e a atração do senador Bernie Sanders entre os homens brancos mais jovens reflete sua popularidade entre os jovens em geral.

Joel Benenson, estrategista e pesquisador de Hillary, previu que ela ganhará pelo menos 35% dos homens brancos em todo o país --a parcela que Obama teve em 2012-- e ainda mais em Estados difíceis como Ohio e Pensilvânia. Mas ele insistiu em que concentrar-se nos homens brancos não leva em conta a amplidão de seu apoio.

"A vitória nunca tem a ver com picar e fatiar o eleitorado", disse ele. "O que é preciso fazer é criar uma coalizão diversificada de eleitores que lhe permita vencer, e vencer repetidamente. É isso que Hillary Clinton fez, e o que Bernie Sanders deixou de fazer."

Mas até agora Hillary está claramente concentrada nos não brancos, que fornecem uma grande porcentagem dos delegados necessários para conseguir a nomeação. Sua mensagem política, seus eventos e seus oradores foram preparados principalmente para os negros e os hispânicos, desde a denúncia da violência das armas e dos abusos da polícia à promessa de melhoras na imigração e na educação.

Oito anos atrás, Hillary atraiu os brancos para contrabalançar a popularidade de Obama entre os eleitores de minorias. Ela disputou como uma moderada e uma defensora da segurança nacional, e lembrou com carinho de quando seu pai lhe ensinou a atirar. Alguns analistas políticos disseram que também se beneficiou entre os homens brancos porque muitos não gostariam de votar em um homem negro.

Os desafios políticos de Hillary hoje se concentram nas controvérsias decorrentes de seu período como secretária de Estado e dúvidas sobre sua disposição a enfrentar Wall Street.

"Há todas essas questões sobre seu passado, e ela não dá respostas diretas sobre isso", declarou Forrest Giffin, 23, um democrata de Sumter, na Carolina do Sul, que citou a recusa de Hillary a divulgar transcrições de suas palestras em bancos.

Giffin, um supervisor de shopping center e vice-gerente de um posto de gasolina, acrescentou: "Eu realmente me pergunto se ela quer gente como eu no partido Democrata".

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AFP