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Trump muda de tática e pede ajuda ao partido para levantar fundos

Donald Trump acena para simpatizantes ao deixar comício em Lynden, Washington (EUA) - David Ryder/The New York Times
Donald Trump acena para simpatizantes ao deixar comício em Lynden, Washington (EUA) Imagem: David Ryder/The New York Times

Maggie Haberman, Ashley Parker e Nick Corasaniti

11/05/2016 06h02

Donald Trump tomou medidas para se apropriar de grande parte da infraestrutura financeira e política do Comitê Nacional Republicano para sua campanha presidencial na segunda-feira (9), em meio a sinais de que ele e o partido ficariam perigosamente atrás dos democratas na captação de dinheiro para a eleição geral.

Trump, que até o final de março havia gastado cerca de US$ 40 milhões (R$ 139 milhões) de sua fortuna nas primárias, disse que poderá precisar de até US$ 1,5 bilhão (R$ 5,2 bilhões) para a campanha no outono, mas tentará levantá-los com doadores, em vez de continuar se autofinanciando.

Mas Trump não tem um esquema de captação de fundos ao qual recorrer, nem uma rede de ricaços a apelar ou grande experiência no tipo de maratona, apelo de vendas pessoal e dedicação que deverão ser necessários para levantar tanto dinheiro --mesmo que os indivíduos possam contribuir até o limite atual de US$ 334 mil (cerca de R$ 1,16 milhão) de cada vez ao partido. E ele terá de fazer tudo isso em seis meses, com um partido profundamente dividido que ainda está absorvendo o fato de ter Trump como porta-bandeira.

"Ninguém deve subestimar como seria difícil para qualquer nomeado levantar centenas de milhões de dólares em um período de tempo muito curto", disse Mike DuHaime, que foi o principal estrategista da campanha presidencial do governador Chris Christie, de Nova Jersey.

Se as constantes disputas de Trump com o establishment republicano deveriam animar seus seguidores, a intensa necessidade de dinheiro para conduzir sua campanha à eleição geral sugere o alto grau em que ele dependerá da infraestrutura partidária.

Salientando a urgência com que Trump e os republicanos precisarão reforçar sua captação de dinheiro, alguns dos aliados do partido que gastaram somas enormes na eleição de 2012 hoje parecem inclinados a ficar nas laterais na corrida presidencial --incluindo a vasta rede dos irmãos Koch, que haviam prometido gastar quase US$ 900 milhões em 2016.

Mark Holden, o presidente da Câmara de Comércio Parceiros da Liberdade, um dos principais grupos guarda-chuvas da rede dos Koch, sinalizou que seria necessária uma mudança significativa na tática de Trump, o suposto indicado republicano, para que seu grupo abrisse a carteira.

"Se durante o ciclo da eleição geral um candidato fosse capaz de angariar apoio público com uma mensagem positiva sobre as questões que nos importam, e não se envolvesse em ataques e acusações pessoais, nós consideraríamos a possibilidade de nos envolver", disse Holden. "Isso ainda não aconteceu, e não há indício de que acontecerá, dado o tom atual e o teor das diversas campanhas."

O grupo Encruzilhadas Americanas, liderado por Karl Rove, também está esperando para ver, com autoridades dizendo que não têm planos imediatos de apoiar o nomeado republicano. Tanto esse grupo quanto o dos Koch agora deverão se concentrar mais em ajudar os esforços republicanos para manter a maioria no Senado.

Autoridades do Partido Republicano pressionaram Trump a assinar um acordo conjunto de captação de fundos que lhe permitiria fazê-lo para o Comitê Nacional e para sua própria campanha ao mesmo tempo. Isto, por sua vez, também daria a Trump uma resposta defensável sobre por que, depois de meses criticando os executivos e os interesses especiais de Wall Street, ele recentemente recorreu a um ex-executivo do Goldman Sachs, Steven Mnuchin, para conseguir cheques gordos para sua campanha.

Tanto assessores de Trump como autoridades do partido foram apanhados de surpresa pelo fim abrupto da disputa primária na semana passada, quando Trump venceu em Indiana, levando o senador Ted Cruz, do Texas, e o governador John Kasich, de Ohio, a se retirarem da corrida. Mas os dois lados se apressaram a concluir um acordo conjunto de captação de fundos, e um está perto de ser assinado, segundo pessoas próximas ao comitê nacional que não tinham autorização para falar publicamente.

"Assim que houver unidade, será muito fácil de fazer", disse Trump em uma entrevista na segunda-feira (9), acrescentando que ainda pretendia preencher cheques para sua campanha. "Acho que vamos levantar US$ 1 bilhão", disse.

Sob um acordo conjunto, Trump e o partido provavelmente poderiam angariar ainda mais que US$ 334 mil. Mas esses esforços são difíceis e levam tempo. Quando os limites eram mais baixos, em 2012, Mitt Romney levantou menos de US$ 500 milhões sob tal acordo, usando uma rede de doadores que levou anos para se desenvolver.

Em um sinal de progresso para Trump, Stanley Hubbard, um bilionário executivo da mídia que tinha doado dinheiro a iniciativas para conter o candidato, alinhou-se com ele. "Todos os meus outros candidatos se retiraram, um a um", disse Hubbard em uma entrevista. "Ele foi o último que ficou."

Mas outros doadores continuam firmemente contrários. Paul Singer, o financista bilionário que apoiava o senador Marco Rubio, da Flórida, deixou claro em um evento de gala na segunda-feira para o Instituto Manhattan, um grupo de pensadores conservador, que não poderia apoiar Trump e estava desanimado com as opções na eleição geral.

Em uma reunião de três horas e meia na segunda-feira no quartel-general republicano em Washington, a direção do partido explicou aos principais assessores de Trump o âmbito das operações de captação de fundos e os outros ativos políticos à disposição de sua campanha. Estes incluem dados sobre eleitores de todo o país, centenas de organizações que trabalham para eles nos EUA e as dezenas de empregados no departamento de comunicações do partido.

Trump preferiu não recorrer a esse tipo de operações extensas durante as primárias, quando se orgulhou de vencer disputas com muito pouco e ter uma operação esquelética comparada com as de muitos adversários. Por isso ele poderá ter de se apoiar no Comitê Nacional Republicano de uma forma que poucos indicados adotaram nos últimos anos.

Na longa reunião, assessores de Trump e diretores do partido tentaram forjar um caminho em sincronia, com as autoridades republicanas passando a mensagem nada sutil de que os assessores de Trump estão em má posição para tentar dominar o grupo, segundo uma pessoa informada sobre as discussões.

"Ambos podemos aprender muito com o outro, porque ambos temos o mesmo objetivo --derrotar os democratas em novembro", disse depois da reunião o diretor de campanha de Trump, Corey Lewandowski.

Trump tem poucos assessores próprios para assumir o controle do partido, que tinha apenas US$ 16 milhões em caixa no final de março. E o presidente da Câmara, Paul D. Ryan, declarou que "não estava pronto" para apoiar Trump, dando cobertura a alguns doadores que, falando em privado, disseram que já temiam a perspectiva de ser envolvidos.

A campanha de Trump pretende assumir o firme controle da convenção do partido, e dois antigos assessores de Trump, Paul Manafort e Barry Bennett, deverão rumar para Cleveland na quinta-feira (12), segundo duas pessoas muito próximas da campanha.

Enquanto seus assessores se reuniam em particular com autoridades do partido, Trump continuou sugerindo em público que os republicanos devem apoiá-lo, dizendo em entrevista à CNN na segunda-feira que o partido, "por minha causa, recebeu mais votos do que em qualquer momento de sua história".

Com uma reunião marcada para quinta-feira com Ryan, Trump não aprovou a sugestão de uma conhecida apoiadora, Sarah Palin, de que Ryan deveria ser alvo de uma contestação partidária por dizer que ainda não podia endossar Trump.

"Não tenho nada a ver com isso", afirmou Trump. "Sarah certamente é uma agente livre."

Trump também deverá se reunir na quinta-feira com o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, de Kentucky, que lhe deu um apoio morno.

Enquanto isso, Ryan foi indagado sobre a recusa de Trump a desistir de removê-lo da presidência da convenção, e reagiu com um curto blefe, oferecendo-se para sair da frente se Trump quiser.

Houve outros sinais na segunda-feira de que poderá ser difícil manter a unidade do partido.

Surgiu uma potencial complicação para o plano de convenção de Trump, dando o primeiro indício de que Cruz não vai simplesmente entregar seus delegados: os defensores de Cruz enviaram e-mails aos delegados da convenção pró-Cruz no domingo, pedindo que eles participem da convenção e tomem o controle de dois comitês chaves.

Muitos conservadores cristãos que apoiaram Cruz e outros candidatos abrigam profundas suspeitas sobre as verdadeiras crenças de Trump --um ex-democrata que há pouco tempo apoiava o direito ao aborto-- e sua compatibilidade com as antigas posições conservadoras sobre temas sociais adotados na plataforma oficial republicana.

Ao mesmo tempo, Trump pareceu perder um potencial candidato à vice-presidência quando Rubio, o ex-adversário que ele chamou de "Pequeno Marco", disse que não tinha interesse em entrar na chapa. Rubio afirmou que suas reservas "sobre a campanha de Trump e preocupações com muitas de suas políticas continuam as mesmas".
 

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