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Antes cheio de símbolos de desespero, depósito do 11 de Setembro está quase vazio

Johnny Milano/The New York Times
Imagem: Johnny Milano/The New York Times

David W. Dunlap

Em Nova York (EUA)

23/05/2016 06h00

O Hangar 17 do Aeroporto Internacional Kennedy é grande o bastante para abrigar um Boeing 747. Mas por 14 anos ele guardou algo muito maior: a manhã de 11 de setembro de 2001.

Das enormes colunas em forma de tridente que sustentavam as torres do World Trade Center a delicados brincos com pingentes de cristal de uma loja Casual Corner no saguão do prédio, o Hangar 17 continha símbolos de destruição, desespero, tristeza, esperança e resistência.

Agora ele está quase vazio. E será fechado em agosto.

Fora o barulho do trânsito do aeroporto, o som mais alto no Hangar 17 é o zumbido dos reatores das lâmpadas fluorescentes ecoando pela estrutura de 7.300 metros quadrados. Água pinga em uma tenda sobre um metal retorcido de 3 metros, que seria irreconhecível como um veículo se não tivesse rodas.

O Hangar 17 serve desde 2002 como depósito de restos do World Trade Center.

De lá para cá, a Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey distribuiu 1.890 peças de aço das torres gêmeas e 550 outros objetos para o Memorial e Museu Nacional do 11 de Setembro, ao Museu Estadual de Nova York, em Albany, e instituições e organizações por todo o mundo, como o Museu de Construções em Aço da China, em Pequim, o Departamento de Polícia de San Francisco e a escola primária Cracker Trail em Sebring, Flórida.

Todo o aço agora já foi doado. O programa de distribuição deveria ter acabado no início deste ano. Mas Patrick J. Foye, diretor-executivo da Autoridade Portuária, interveio.

"Restavam menos de 50 artefatos", ele disse na terça-feira. "Eu prorroguei o programa para dar à equipe tempo para encontrar destinos apropriados para as peças restantes. Nós acreditamos que conseguiremos fazer isso."

Mão de manequim usando uma luva e um anel de diamante - Johnny Milano/The New York Times - Johnny Milano/The New York Times
Mão de manequim usando uma luva e um anel de diamante
Imagem: Johnny Milano/The New York Times
O inventário restante inclui objetos incomodamente íntimos das lojas do saguão. Uma peruca afro. Um mostruário de blusas Petit Sophisticate de US$ 34. Uma mão de manequim vestindo uma luva preta emplumada de cetim com um anel de diamante. Uma camisa polo cinza de US$ 20 da Warner Bros. Studio Store bordada com o Coiote e rotulada de "Cinzas".

Recebedores potenciais podem ter recuado diante de itens que lembram tão visceralmente as cenas de rua em torno do World Trade Center após o ataque de 2001, apesar dos objetos em si não estarem diretamente ligados às 2.753 pessoas que morreram naquele dia.

À medida que o programa de distribuição se aproxima do fim, dois diretores de museu se maravilharam com o fato de ele ter começado.

"A Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey não é um museu", disse Mark Schaming, diretor do museu estadual. "Ela realizou um trabalho heroico. Não havia um manual. Apenas um instinto de coletar as coisas para um museu que não existia. Foi uma triagem de curadoria. O local ainda estava queimando, mas mesmo assim entraram lá e retiraram as coisas."

Uma das colunas removidas da área do World Trade Center  - Vincent Laforet/The New York Times - Vincent Laforet/The New York Times
Uma das colunas removidas da área do World Trade Center após o atentado
Imagem: Vincent Laforet/The New York Times

O museu estadual ficou com cerca de 150 objetos do hangar, incluindo o veículo do Departamento de Polícia da Autoridade Portuária usado pelo policial David Lim e seu labrador farejador de explosivos, Sirius.

Alice M. Greenwald, a diretora do memorial e museu, creditou a Robert I. Davidson, o então arquiteto-chefe da autoridade, por contatar o arquiteto Bartholomew Voorsanger logo depois do ataque para dizer, "Temos que resgatar parte dessas coisas".

Voorsanger designou seu colega Mark Wagner para checar os escombros e decidir, no local, que peças mereciam ser guardadas para a posteridade. Wagner posteriormente ingressou no escritório de arquitetura Davis Brody Bond, que projetou o memorial e museu.

Os objetos retirados foram originalmente mantidos na pista do Aeroporto Kennedy enquanto o Hangar 17, que foi usado pela última vez pela Tower Air, era preparado. Inicialmente, o hangar não era muito melhor que a pista como espaço de armazenamento. Mas em 2004, a autoridade instalou tendas no piso do hangar para proteger os veículos, peças da antena gigante da cobertura, os motores dos elevadores e outros itens.

Também construiu salas climatizadas para guardar e conservar o que restou da escultura "Hélice torcida" de Alexander Calder; segmentos extremamente compactados chamados "compostos", um dos quais contendo o que restou de quatro lajes da torre fundidas em uma massa de apenas 1,2 metro de espessura; e a "última coluna" removida do local do World Trade Center.

"Eles estão recolocando os pedaços de ferrugem para preservar um artefato para a posteridade", disse Greenwald. "Agora a 'última coluna' está disponível para milhões de pessoas se impressionarem com ela;" Ela foi um dos 400 objetos que o memorial e museu adquiriu da Autoridade Portuária, ela disse.

"Se a Autoridade Portuária não tivesse feito o que fez", ela disse, "esse material teria ido para o ferro-velho. Nós não teríamos o museu que temos hoje."

Em agosto, a autoridade planeja desligar o fornecimento de água e luz ao hangar, que tem quase 60 anos. Ele deve ser demolido.

Ao ver uma foto da sala escura na qual a última coluna foi conservada há 12 anos, Greenwald disse: "Uau, é como uma cidade fantasma. Esse capítulo agora realmente chegou ao fim".