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Obama está ansioso para apoiar campanha de Hillary e "massacrar" Trump

Damon Winter/The New York Times
Imagem: Damon Winter/The New York Times

Julie Hirschfeld Davis e Michael D. Shear

Em Washington (EUA)

07/06/2016 06h00

Após meses aguardando de fora da disputa para sucedê-lo, o presidente Barack Obama agora está pronto para fazer campanha agressivamente em prol de Hillary Clinton, começando por um endosso formal à sua candidatura já nesta semana.

A Casa Branca está conversando ativamente com a campanha de Hillary sobre como e onde o presidente pode ser útil a ela, segundo assessores próximos a Obama.

Assessores disseram que o presidente, que considera um sucessor democrata como fundamental para seu legado, está ansioso para começar a participar da campanha. Eles dizem que ele não considera nada garantido.

"Quero que nós corramos assustados o tempo todo", Obama disse para um grupo de doadores na noite de sexta-feira, em Miami.

Há décadas um presidente em segundo mandato não desfrutava de popularidade suficiente para torná-lo uma força potente na campanha e para que um candidato a sucedê-lo o convidasse para ter uma grande presença nela.

O índice de aprovação de Obama era de 50% na pesquisa "New York Times/CBS" deste mês, e estrategistas próximos de Hillary disseram ter grande interesse na participação dele à medida que a campanha da eleição geral se desdobra. (Em comparação, com um índice de aprovação de 20% em uma pesquisa Gallup pouco antes da eleição de novembro de 2008, o presidente George W. Bush raramente apareceu naquele ano ao lado do senador John McCain do Arizona, o candidato republicano.)

Segundo assessores, Obama está particularmente entusiasmado em enfrentar Donald Trump. O candidato republicano ofendeu pessoalmente o presidente com sua conduta ao longo da campanha (Trump tratou um simpatizante negro na sexta-feira, em um de seus comícios, como "meu afro-americano") e como defensor mais visível das teorias de conspiração que apontavam falsamente que Obama nasceu no Quênia, não no Havaí.

Caso Hillary se saia bem o bastante nas primárias desta terça-feira para assegurar a indicação democrata, é provável que Obama passe rapidamente a apoiá-la.

"Ele indicou que deseja dedicar bastante tempo à campanha, de modo que quando chegar a hora de fazê-lo, começaremos com tudo", disse Jennifer Psaki, a diretora de comunicações de Obama, em uma entrevista. "Estamos estudando ativamente como usar o presidente na campanha, o que funciona para quem for a pessoa indicada, o que funciona para ele, como utilizar seu apelo e seus pontos fortes."

Jennifer Palmieri, diretora de comunicações de Hillary, disse que a candidata espera obter o apoio de Obama e sua participação ativa na campanha nos próximos meses.

Não há ninguém melhor para expor os dois caminhos que os eleitores terão à frente nas eleições de novembro. E ele é particularmente forte na argumentação econômica a favor dela."

Assessores de Obama e Hillary acreditam que o presidente, que concorreu contra ela nas primárias às vezes pesadas de 2008, pode ser uma voz persuasiva para os eleitores que podem ter dificuldade em se identificar com ela ou que apoiaram as posições mais liberais do senador Bernie Sanders.

"Como ex-oponentes, eles têm uma história incrível", disse Palmieri, acrescentando que seria "difícil imaginar um defensor mais convincente para ela".

Apoio entre mulheres, jovens e afro-americanos

A Casa Branca argumenta que Obama poderia ajudar Hillary a ter apelo junto aos eleitores independentes, particularmente mulheres suburbanas independentes, no Meio-Oeste, notadamente em seu norte, incluindo Michigan, Minnesota e Wisconsin. Obama venceu em todos os três Estados em 2012, em parte ao pintar Mitt Romney, o candidato republicano, como um grande investidor em ações, que fecharia fábricas e transferiria empregos para o exterior.

Funcionários da Casa Branca próximos da equipe de Hillary apontam que o apelo do presidente junto aos eleitores jovens e afro-americanos (grupos que preferem mais ele do que ela) pode mobilizá-los a votarem nela em novembro. Os eleitores jovens e afro-americanos terão um papel crucial, disseram assessores, em Estados indefinidos como Flórida, Virgínia, Pensilvânia e Ohio. Obama venceu em todos esses quatro Estados em 2012.

O processo ocorre após meses de contato mais informal entre a Casa Branca e as campanhas de Hillary e Sanders  e ainda está em estágios iniciais. Assessores de Obama, falando sob a condição de anonimato sobre seus planos, já que Hillary ainda precisa assegurar a indicação democrata, disseram que o presidente ainda não começou a preparar seu discurso para a Convenção Nacional Democrata do mês que vem ou estabeleceu algum itinerário de campanha em particular.

"Ele tem mantido o respeito por ambos os candidatos e cuidado em não influenciar o resultado, mas em algum ponto o veredicto será dado, e esse ponto quase certamente será na terça-feira, que é o que ele vem dizendo", disse David Axelrod, ex-conselheiro sênior da campanha presidencial de Obama e da Casa Branca. "Espero que nesse processo ele seja uma força para consolidação e união do partido."

Funcionários da Casa Branca e da campanha de Hillary se recusaram a apontar qualquer momento específico para o endosso por Obama. Mas o presidente agendou uma viagem para Nova York na quarta-feira, para participar de eventos democratas para arrecadação de fundos, o que o deixaria próximo do quartel-general da campanha de Hillary no Brooklyn, um dia após as primárias de terça-feira.

Pete Brodnitz, um analista de pesquisas democrata veterano, disse que a posição e popularidade Obama o tornam ideal para combater a mensagem de ansiedade econômica de Trump. Mas ele alertou que o índice de aprovação do presidente, e sua eficácia a favor de Hillary, pode despencar caso ele se envolva em um bate-boca amargo e pessoal com o candidato republicano.

"Ninguém realmente recompensa políticos brigando um com o outro na eleição geral", disse Brodnitz. "O partido está cheio de cães de briga, de modo que acho que o presidente é a pessoa que não precisa ser um, caso consiga fazer as pessoas se sentirem um pouco melhor sobre nosso futuro econômico."

Os assessores de Hillary acreditam que o próprio Obama é a voz mais poderosa que podem ter para expor o argumento dela de que Trump é inadequado para a presidência.

"Há apenas cinco pessoas no planeta que entendem as exigências da presidência em todos os seus aspectos, de modo que ele tem preocupações não apenas com as políticas de Trump (apesar de serem grandes), mas também sobre se ele é capaz de atender as exigências do cargo", disse Axelrod. "O melhor papel que ele pode exercer é de ser o sujeito que pode proporcionar um confronto com a realidade, porém mais importante é focar as pessoas no que está em jogo nesta eleição e nas enormes diferenças entre os candidatos."