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São raros os gays republicanos nas convenções do partido de Trump

Jim Watson/ AFP
Imagem: Jim Watson/ AFP

Jeremy W. Peters

23/07/2016 06h00

Enfiados em um canto afastado da Quicken Loans Arena, atrás de Porto Rico e ao lado dos assentos extras para o Texas, estavam os 19 delegados para o Distrito de Columbia. A delegação, repleta de advogados urbanos e lobistas, e que representa um bastião democrata, é sempre um ponto fora da curva em uma Convenção Nacional Republicana.

Mas este ano a delegação carregava uma distinção pouco notada que a distanciava, de uma forma um tanto embaraçosa, do resto: era o grupo mais gay no centro de convenções. Mais de um terço dos delegados de Washington--7 dos 19-- eram gays ou lésbicas.

Mais do que ninguém, eles podiam atestar que esta não foi a melhor semana para ser gay e republicano.

O partido votou na segunda-feira (18) a favor do que apoiadores e detratores descreveram como a plataforma mais socialmente conservadora de todos os tempos. Ela inclui diversas passagens recriminadoras sobre direitos gays, paternidade gay e questões transgêneras.

Os delegados rejeitaram esforços para acrescentar até mesmo termos mais brandos à plataforma sobre os gays, como o reconhecimento de que eles são alvos do Estado Islâmico ou que o Partido Republicano condene a discriminação contra gays.

A plataforma do Partido Democrata tem defendido direitos civis gerais para gays e lésbicas desde 1980.

Quando Newt Gingrich mencionou na quarta-feira (20) à noite que gays, lésbicas e transgêneros estavam sendo executados por extremistas islâmicos, parte da plateia protestou no centro de convenções.

O visível desconforto a respeito dos gays e dos direitos dos gays pairava sobre um discurso bastante esperado na quinta-feira (21) à noite por Peter Thiel, o desenvolvedor de softwares do Vale do Silício, que declarou a partir do púlpito: "Tenho orgulho de ser gay. Tenho orgulho de ser republicano. Mas, acima de tudo, tenho orgulho de ser americano."

Após esse discurso, não houve sinais óbvios de desconforto. Delegados em toda a arena se levantaram e aplaudiram, alguns deles gritando: "Estados Unidos! Estados Unidos!"

Mais para o final da noite de quinta-feira, Donald Trump se comprometeu a proteger os direitos dos gays e dos transgêneros. Quando a plateia começou a aplaudir, ele disse: "Como republicano, é muito bom ouvir vocês vibrando."

Mas manifestações com essa não foram a norma esta semana.

"O partido está se tornando cada vez mais limitado e cada vez mais virulento", disse Christian Berle, um analista de políticas ambientais e um dos sete delegados gays do Distrito de Columbia. Ele acrescentou que está cada vez mais difícil para ele continuar sendo republicano, enquanto muitos de seus amigos estão deixando o partido. "Eu me faço essa pergunta todos os dias."

A aparição de Thiel pode oferecer um pouco de consolo para a delegação de Washington. Mas o reduzido histórico de gays discursando na convenção republicana provavelmente não é reconfortante.

Quando Jim Kolbe, um deputado gay do Arizona, discursou na convenção em 2000, ele falou sobre política comercial, sem mencionar o fato de ser gay ou direitos dos gays. Mas isso não impediu que delegados do Texas, terra do candidato presidencial, o governador George W. Bush, tirassem seus chapéus, abaixassem suas cabeças e rezassem em um protesto silencioso.

Rick Perry, o vice-governador do Estado na época, explicou essas ações dizendo: "Acho que qualquer hora é uma boa hora para rezar."

Mas para os que são da capital do país, uma rejeição como essa é rara, tornando os acontecimentos desta semana ainda mais desconcertantes.

Rachel Hoff se tornou a primeira pessoa abertamente homossexual a atuar no comitê da plataforma do partido. Ela apresentou diversas emendas que tentavam abrandar parte da linguagem mais dura sobre a homossexualidade e fez um discurso emocionado no qual encorajava seus colegas delegados "a incluir a mim e a pessoas como eu."

"Minha posição no Partido Republicano em D.C. não está nada ameaçada por tudo isso", ela disse em uma entrevista. "Ela até melhorou."

E à medida que ela trabalhava sem sucesso para convencer outros republicanos em Cleveland de que estava assumindo uma causa que seria de interesse a longo prazo para o partido, ela disse ter detectado alguma simpatia e interesse. "Eu diria que o que eu mais ouvi foi: 'Obrigado por estar aqui e, por favor, não deixe nosso partido'."

José Cunningham, presidente do Partido Republicano do Distrito de Columbia, descreveu a si mesmo como um republicano principalmente por razões de segurança nacional. Mas o partido também se alinharia com outros aspectos de sua pessoa, ainda que não com sua sexualidade.

"Sou gay, hispânico, americano, contra o aborto, evangélico", disse Cunningham, um executivo de marketing em um escritório de advocacia. "Por que não me puseram no palco?"