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Opinião: O valentão da sétima série está concorrendo à Presidência dos EUA

Damon Winter/The New York Times
Imagem: Damon Winter/The New York Times

Nicholas Kristof

30/09/2016 06h00

Donald Trump exibiu uma versão excelente do olhar austero de soslaio no debate presidencial. Muitos de nós homens estamos familiarizados com essa expressão, porque a praticamos aos 13 anos na esperança de impressionar as meninas. Não funciona e deixamos isso para trás, ao crescermos --ao menos a maioria de nós.

Hillary Clinton exibia um sorriso paciente, a expressão de toda mulher que conteve calmamente a irritação enquanto era obrigada a ouvir o discurso de um idiota sobre assuntos a respeito dos quais não sabe nada. Infelizmente, as mulheres nunca têm a oportunidade de aposentar essa expressão, por ser constantemente necessária, ao menos é o que minha esposa me diz.

O que é empolgante é que a idiotice de Trump pode finalmente estar se voltando contra ele.

Trump tem defendido políticas que são confusas ou disparatadas, como deportar 11 milhões de imigrantes ilegais em massa, proibir a entrada de muçulmanos no país, minar a Otan, reduzir impostos para bilionários e aumentá-los para pais e mães solteiros, capitular para a Rússia na Crimeia, mas essas coisas parecem não colocá-lo em dificuldades políticas sérias. Em vez disso, sua vulnerabilidade parece ser algo mais fundamental: ele é um babaca.

Em particular, ele é um babaca em relação às mulheres, uma tendência que ele exibiu de forma proeminente no debate de segunda-feira. Trump interrompeu Hillary 51 vezes, segundo a contagem da Vox (ela o interrompeu 17 vezes).

Trump parece ignorar sua própria grosseria. Quando Hillary o criticou por rotular as mulheres de porcas, patetas e cadelas, ele se defendeu dizendo que Rosie O'Donnell "merece". Quando Hillary repreendeu Trump por ter degradado uma Miss Universo, Alicia Machado, por causa do peso dela, Trump foi à "Fox News" para criticar Machado de novo por ter ganho "uma quantidade imensa de peso".

Essa ignorância crassa não é novidade em Trump, é claro. Poucos comentários poderiam ser tão degradantes quanto um feito por Trump, em 2005, quando Howard Stern lhe perguntou se permaneceria com sua mulher, Melania, se ela sofresse um terrível acidente de carro que a deixasse com 100 pontos no rosto, uma mancha inchada em seu olho esquerdo e um pé deformado. A primeira resposta automática de Trump? "Qual seria o estado dos peitos dela?" (Depois, ele disse que continuaria com ela.)

Algo em Trump é emblemático do tipo mais atroz de menino da sétima série: o gabar-se de não fazer a lição de casa, o hábito de culpar os outros quando as coisas dão errado, a tendência de exagerar tudo como se fosse o melhor que existe, a fanfarronice para mascarar a insegurança com o tamanho das mãos ou genitália, o gosto de humilhar os outros, a preguiça, o ensimesmamento, o narcisismo, a falta de empatia e a imaturidade que reduz uma mulher aos seus seios.

OK, acabei de insultar os meninos de 13 anos ao compará-los ao homem que pode se tornar nosso próximo presidente. Desculpem, meninos, a maioria de vocês é melhor que isso!

Trump é pueril não apenas no que se refere a gênero. Ele também parece se gabar daquilo com que pode escapar impune, como não pagar impostos.

Quando Hillary notou no debate que por pelo menos dois anos ele não pagou nenhum imposto de renda federal, Trump respondeu: "Isso mostra como sou esperto!" Ele parece pensar que as pessoas que pagam impostos são trouxas, o que é irritante para todos nós que pagamos impostos e adoraríamos ver suas declarações de renda.

Uma das propagandas mais eficazes contra Trump destaca sua insensibilidade, como quando tirou sarro de um jornalista deficiente. A mãe de uma criança deficiente disse: "As crianças na escola de Grace sabem que não devem zombar dela, de modo que ver um adulto zombar de alguém com deficiência é chocante".

Outra propaganda poderosa mostra meninas estudando a si mesmas em um espelho enquanto pode-se ouvir Trump ridicularizando as mulheres por sua aparência. O texto na tela pergunta: "Esse é o presidente que queremos para nossas filhas?"

É claro, mesmo com Trump agindo como um menino do ensino médio, suas políticas seriam as de um adulto perigoso, e como eu gostaria que o debate tivesse se concentrado mais nessas propostas. Os comentários de Trump podem ser brutais, mas suas políticas seriam infinitamente piores.

Quem dera seus pontos de vista de troglodita a respeito de gênero pudessem servir como trampolim para discussão de questões das mulheres que raramente são exploradas, como a violência doméstica que afeta uma dentre quatro mulheres, ou o tráfico de mulheres, que canaliza cerca de 10 mil menores americanas para o comércio de sexo a cada ano. Uma vantagem de mais mulheres na vida pública deveria ser um maior escrutínio das desigualdades salariais, e uma maior atenção à necessidade de creches de qualidade.

Mas se o calcanhar de Aquiles de Trump não for suas políticas imbecis, mas sim sua grosseria, que assim seja. Suas políticas são um motivo importante para temer a ideia dele na Casa Branca, mas os eleitores talvez hesitem mais devido à sua conduta pessoal: nós já nos deparamos com babacas o bastante no dia a dia, então por que iríamos querer um como nosso chefe de Estado?

O ensino médio é uma etapa difícil da vida pela qual todos nós devemos passar. Por que nos sujeitaríamos a um "líder" que está permanentemente na sétima série?

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