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Em meio a caos na Casa Branca, assessores enfrentam ira de Trump e ambiente pesado

16.mai.2017 - Ao lado do secretário de imprensa Sean Spicer, o general H. R. McMaster responde a questões dos jornalistas sobre a informação de inteligência que Trump teria repassado aos russos - Doug Mills/The New York Times
16.mai.2017 - Ao lado do secretário de imprensa Sean Spicer, o general H. R. McMaster responde a questões dos jornalistas sobre a informação de inteligência que Trump teria repassado aos russos Imagem: Doug Mills/The New York Times

Glenn Thrush e Maggie Haberman

Em Washington (EUA)

17/05/2017 13h03

As más notícias chegaram com força à Casa Branca na terça-feira (16) em uma sucessão impiedosa, deixando os assessores já tarimbados do presidente Donald Trump em choque na Ala Oeste da Casa Branca, olhando para suas telas planas com olhos vidrados.

A revelação de que Trump divulgou para autoridades russas informações sigilosas que foram fornecidas por Israel foi mais um golpe contra uma equipe presidencial sitiada, que se recupera da demissão atrapalhada de James Comey, o diretor do FBI.

E o dia foi culminado por mais uma revelação surpreendente, a de que o presidente havia pedido que Comey abandonasse a investigação de Michael Flynn, seu ex-assessor de segurança nacional. Isso provocou uma correria de repórteres da sala de imprensa da Casa Branca à galeria de imprensa, mais abaixo, onde a primeira linha de defensores de Trump tinha poucas respostas, mas ansiedades em abundância sobre a segurança de seus empregos.

O apetite do presidente pelo caos, juntamente com sua desconsideração pelas convenções autoprotetoras da Presidência, deixou sua equipe confusa e batendo boca. O humor de Trump, segundo dois assessores que falaram sob a condição do anonimato, ficou azedo e sombrio, e ele se voltou contra a maioria de seus assessores --até mesmo seu genro, Jared Kushner--, descrevendo-os furiosamente como "incompetentes", segundo um deles.

Enquanto a tempestade rugia no gabinete, corriam relatos na Casa Branca de que o presidente estava prestes a iniciar uma grande reformulação, provavelmente começando pela demissão ou relocação de Sean Spicer, seu secretário de imprensa.

A equipe abalada de Trump observou atentamente na manhã de segunda-feira (15) quando o presidente chamou Spicer, a vice-secretária de imprensa, Sarah Huckabee Sanders, e o diretor de comunicação, Michael Dubke, para lhes fazer um sermão sobre a necessidade de "ficarem na mesma página", segundo uma pessoa inteirada da reunião.

No final da terça-feira, parecia que Spicer tinha sobrevivido, por enquanto. Pessoas próximas ao presidente disseram que Trump estava considerando demitir vários membros do baixo escalão da equipe, incluindo vários contratados por Reince Priebus, o chefe de Gabinete da Casa Branca, enquanto avaliava um plano para transferir a maior parte das responsabilidades de comunicação diárias a Sarah Huckabee Sanders.

Mesmo enquanto Trump tranquilizava seus assessores, como Spicer, de que seus empregos estavam seguros na segunda-feira, ele disse a outros assessores que sabia que precisava fazer grandes mudanças, mas não que direção tomar ou quem escolher.

Enquanto isso, a Casa Branca se preparava para o que os membros da equipe hoje percebem que será um período prolongado, e não apenas um ciclo de más notícias de um ou dois dias.

O estresse estava cobrando seu preço. No final da segunda-feira, repórteres puderam ouvir assessores graduados gritando atrás de portas fechadas enquanto discutiam como reagir depois que repórteres do jornal "The Washington Post" lhes informaram sobre uma reportagem que estavam escrevendo, que foi a primeira a dar a notícia de que o presidente divulgou informações à Rússia.

Enquanto lutavam para limitar as repercussões na segunda, Spicer e outros assessores de Trump decidiram enviar o tenente-general H.R. McMaster, o assessor de segurança nacional, para servir de intermediário.

Eles perceberam que escolher uma autoridade tão graduada de certa maneira convalidaria a reportagem, mas queriam estabelecer um relato de testemunha verossímil eximindo o presidente de erros --antes da avalanche de posts no Twitter que eles sabiam que Trump faria na terça-feira de manhã.

O Escritório do Conselho da Casa Branca trabalhou com o assessor de Segurança Nacional, um general do Exército, na escolha da linguagem, produzindo uma opinião curta: "A história que saiu esta noite conforme reportada é falsa".

Enquanto trabalhava no comunicado, McMaster, um ex-comandante de combate que parecia pouco à vontade em um terno civil e óculos de aro preto, quase trombou com os repórteres que espreitavam o escritório de Spicer.

"Este é o último lugar no mundo em que eu queria estar", disse ele, talvez brincando.

Enquanto o general se aproximava dos microfones sobre o tampo preto na frente da Ala Oeste, um de seus vices responsáveis por enfrentar a repercussão, Dina Powell, era vista espiando por trás do bando de repórteres para ver como era recebida a declaração de seu chefe.

No Capitólio, havia sinais de que os republicanos, cuja maioria se manteve na linha depois da demissão de Comey, estavam ficando alarmados com a operação da Casa Branca e impacientes para que se fizesse algo a respeito.

"Precisa haver mudanças sérias na Casa Branca, imediatamente", disse o senador republicano Patrick Toomey, da Pensilvânia, que quer que Trump indique um democrata para chefiar o FBI. Na terça, o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, do Kentucky, pediu que Trump aja com "menos teatro".

Em seus comentários à imprensa na segunda, o senador republicano Bob Corker, do Tennessee, próximo de alguns membros da Casa Branca, foi mais explícito.

"Obviamente eles estão em uma espiral descendente agora", disse, "e têm de descobrir uma maneira de enfrentar tudo o que está acontecendo".

Uma dúzia de assessores e associados de Trump, enquanto faziam eco à resistência do presidente, em particular concordavam com a opinião de Corker. Eles falaram francamente, de uma maneira que evitaram algumas semanas atrás, sobre os danos que a posição do governo sofreu nas últimas semanas e a fadiga que se instala após meses tendo de defender os maus passos, as postagens no Twitter e os atos imprevisíveis do presidente.

A última crise surge no pior momento possível para a equipe de Trump. Seus times de segurança nacional e política externa têm passado grande parte do tempo planejando sua próxima viagem de oito dias ao Oriente Médio e à Europa --a primeira grande viagem ao exterior como presidente e uma oportunidade, pensavam eles, de reiniciar a narrativa de sua Presidência depois da extensa polêmica sobre a demissão repentina de Comey na semana passada.

Há uma sensação crescente de que Trump parece não querer ou não ter a capacidade de fazer as coisas necessárias para manter-se fora de confusões, e que a Presidência pouco fez para controlar o estilo "atira no próprio pé" que caracterizou sua campanha.

Alguns dos principais assessores de Trump temem deixá-lo sozinho em reuniões com líderes estrangeiros, para que ele não fale fora de hora. McMaster, em particular, tentou inserir explicações ou correções delicadas em conversas, quando acredita que o presidente está se desviando do assunto ou entrando em terreno diplomático arriscado.

Isso às vezes irrita o presidente, segundo duas autoridades que conhecem a situação. Trump, que ainda lamenta abertamente ter tido de demitir Flynn, queixou-se de que McMaster fala demais nas reuniões, e referiu-se a ele como "um saco", segundo uma das autoridades.

Em particular, três membros do governo admitiram que não conseguiram articular publicamente sua defesa mais veemente --e honesta-- do presidente por divulgar informação sigilosa aos russos: que Trump, um leitor apressado e indiferente de seu material informativo, simplesmente não tem interesse ou conhecimento dos detalhes da obtenção de inteligência para vazar fontes e métodos específicos de coleta de inteligência que prejudicaria aliados dos EUA.

McMaster disse praticamente isso em público do pódio da sala de imprensa. "O presidente nem sequer sabia de onde veio essa informação", disse McMaster. "Ele também não foi informado sobre a fonte ou o método da informação."