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6 brinquedos que bombaram como presentes de Natal nas décadas passadas

Mulher e seu filho observam vitrine com brinquedos na loja Abraham and Straus em Nova York, em foto tirada semanas antes do Natal de 1971 - DON HOGAN CHARLES/NYT
Mulher e seu filho observam vitrine com brinquedos na loja Abraham and Straus em Nova York, em foto tirada semanas antes do Natal de 1971 Imagem: DON HOGAN CHARLES/NYT

Cornelius Schmid

23/12/2017 04h01

Comprar presentes para as crianças nas Festas é um processo perigoso. Uma boneca ou um livro sonoro? Um caminhão dos bombeiros ou um robô de madeira que ensina crianças de 3 anos a codificar?

Essas são as decisões que os pais precisam tomar para conciliar seus gostos com a felicidade de seus filhos.

Também era assim há um século. Uma nota na Véspera de Natal de 1911 no "New York Times" observava:

"O mercado de brinquedos de Natal é um comentário esclarecedor sobre a vida moderna e as condições do momento refletem a postura da população adulta, mais do que expressam as ideias em ação nas mentes das crianças."

Tendo isso em mente, aqui está um olhar para alguns dos brinquedos mais queridos das últimas gerações e o que significaram para pais e filhos.

Barbie

Bonecas Barbie em foto de 1968 - SAM FALK/NYT - SAM FALK/NYT
Bonecas Barbie em foto de 1968
Imagem: SAM FALK/NYT
A Barbie da Mattel foi um ícone e um para-raios assim que foi lançada. Em 1968, Ruth Handler, a criadora da boneca, avaliou o problema: "Oitenta por cento daqueles que a viram disseram, 'O público americano não vai comprá-la. Ele não vai querer uma boneca com corpo adolescente, com busto e corpo curvilíneo'".

Mas o vigor cultural da Barbie por meio século provou que as pessoas de fato comprariam a boneca, mas não sem controvérsias ao longo do caminho.

Em 1974, a irmãzinha da Barbie, Skipper, era retratada como chegando à puberdade. Com um movimento em seu braço, Skipper crescia dois centímetros, ficava mais esbelta e desenvolvia "um par modesto de seios", ultrajando os pais e a Organização Nacional das Mulheres.

Outras bonecas que provocaram objeções foram a Barbie porto-riquenha; Share-a-Smile Becky, que andava de cadeira de rodas; e a Barbie Dentista, criticada no "Times" por Maureen Dowd. Quando Christie, uma amiga afro-americana da Barbie, foi lançada em 1968, ela foi criticada por suas frases pré-gravadas enfadonhas.

Em 1993, um grupo de artistas guerrilheiras, autointituladas Organização para a Libertação da Barbie, chegou até mesmo a trocar as caixas de voz de G.I. Joes e Barbies e recolocá-los nas prateleiras das lojas.

A Mattel esperava que a boneca expandiria "a visão das meninas do que é possível" com sua "Barbie para Presidente 2000", completa com uma Declaração de Direitos das Meninas.

Entre seus críticos estavam Patricia Schroeder, uma ex-deputada pelo Colorado e ex-candidata à presidência, que escreveu em um artigo de opinião: "Retratos de ex-presidentes nos dizem que ser atraente definitivamente não é uma exigência do cargo. Então por que deveríamos nos sentir bem com uma mensagem que diz que uma mulher pode chegar à Casa Branca se parecer com a Barbie?"

Soldadinhos

Bonecos do G.I. Joe fotografados em 1982 - DON HOGAN CHARLES/NYT - DON HOGAN CHARLES/NYT
Bonecos soldados do G.I. Joe fotografados em 1982
Imagem: DON HOGAN CHARLES/NYT
O soldado de brinquedo está à mercê das mudanças no mundo adulto, crescendo em força e complexidade durante a militarização nacional, mas rejeitado quando a guerra se torna real demais ou impopular.

Perto do fim da Guerra do Vietnã, algumas lojas até mesmo se recusavam a ter em seus estoques brinquedos relacionados a guerra. Esse foi um problema particularmente delicado para a Hasbro, a fabricante do G.I. Joe (Falcon e Comandos Em Ação no Brasil), que foi cuidadosamente rotulado de "Combatente Móvel da América".

Em 1988, um editorial do "Times" alertou sobre os efeitos da saturação de G.I. Joe e He-Man nas mentes jovens. Mas com o passar do tempo, isso não pareceu importar muito para o G.I. Joe. Um representante da Hasbro disse ao "Times" que a empresa vê o brinquedo sendo mais vendido para adultos desde 1998.

O bambolê

Crianças brincam com bambolês em Nova York, em 1958 - EDDIE HAUSNER/NYT - EDDIE HAUSNER/NYT
Crianças brincam com bambolês em Nova York, em 1958
Imagem: EDDIE HAUSNER/NYT
O bambolê surpreendeu o mundo em meados de 1958 com sua simplicidade e movimentos circulares necessários para mantê-lo no alto. Em poucos meses, o bambolê tomou Londres, Paris e Tóquio, onde o fascínio diminuiu quando o brinquedo foi culpado por ferimentos, queimaduras e uma morte.

No segundo trimestre de 1959, o bambolê já estava sendo rotulado como uma moda passageira com a ascensão do diabolô e, em 1961, do ioiô.

Após sair da moda, os bambolês se tornaram um ponto de referência cultural para coisas em declínio, com móveis, mulheres jóqueis e outros itens ou pessoas supostamente seguindo o caminho do bambolê.

Em 1988, o bambolê surpreendeu a todos, incluindo os fabricantes, com um aumento da popularidade. Como escreveu nosso repórter Richard W. Stevenson:

"O significado sociológico do bambolê em 1988 permanece uma pergunta sem resposta. Talvez sua redescoberta por membros da geração 'baby-boom' (pós-Segunda Guerra Mundial) que estão envelhecendo seja uma expressão de anseio pela juventude perdida. Talvez seja uma forma de realizar um exercício aeróbico de baixo impacto em uma era de crescente conscientização da saúde.

Pode até mesmo ser que, após anos de videogames, armas Lazer Tag e ursinhos de pelúcia eletrônicos, as crianças tenham desenvolvido um novo apreço por brinquedos simples."

Boneca Repolinho

Bonecas Repolinho  em prateleira de loja - CHESTER HIGGINS/NYT - CHESTER HIGGINS/NYT
Bonecas Repolinho em prateleira de loja
Imagem: CHESTER HIGGINS/NYT
Quer tenha sido a brincadeira dos documentos de adoção, a individualização de cada boneca ou uma necessidade psicológica de cuidar, as Bonecas Repolinho rapidamente superaram seus pares no mercado em 1983.

Em novembro a demanda era imensa, com alguns compradores dispostos a pagar o dobro do preço regular. A mídia de notícias lutou para fazer um perfil de seu inventor e outros fabricantes buscaram reivindicar o crédito. Nancy Reagan, a primeira-dama, foi questionada sobre sua fonte das bonecas cobiçadas, mas a manteve em segredo.

No ano seguinte, havia um acampamento para Bonecas Repolinho e as lojas começaram a estocá-las em outubro. Com a aproximação do Natal, as bonecas se tornaram escassas, e o local de nascimento delas na Geórgia se tornou um ponto de peregrinação.

Na Véspera de Natal, pais ainda aguardavam em listas de espera por Bonecas Repolinho que nunca chegariam a tempo. O declínio do brinquedo veio em 1985, quando o urso Teddy Ruxpin e outros superaram o megassucesso, cujas vendas ultrapassaram meio bilhão de dólares antes da febre passar.

Cubo Mágico

Cubo mágico em foto de propaganda de 1980 - KEITH MEYERS/NYT - KEITH MEYERS/NYT
Cubo mágico em foto de propaganda de 1980
Imagem: KEITH MEYERS/NYT
O Cubo Mágico, ou Cubo de Rubik, "um quebra-cabeça terrivelmente difícil que exige que você alinhe os cubos da mesma cor", como o "Times" o descreveu em 1980, visava ser um presente prático para adultos em um país ainda em mal-estar, mas foi rapidamente adotado pelas crianças, que tinham mais paciência.

A primeira pessoa a testar publicamente sua habilidade com o cubo nos Estados Unidos foi Zsa Zsa Gabor, que foi contratada para promover a criação de seu compatriota húngaro, Erno Rubik, um professor de arquitetura e design em Budapeste.

Aos 13 anos, Patrick Bossert se tornou o mais jovem autor na lista de best-sellers do "New York Times" com seu livro "Todos Podem Fazer o Cubo Mágico". Em 1982, analistas de tendências declararam que o Cubo Mágico estava sendo superado por E.T. e pelos videogames.

Os primeiros videogames

Atari capa - Reprodução - Reprodução
Criança joga o videogame Atari, em foto de 1981
Imagem: Reprodução
Em 1982, os videogames domésticos rivalizavam em lucratividade a indústria cinematográfica. Os consoles e cartuchos de games passaram a ter um crescimento constante, porém menos drástico, no final dos anos 80. Os computadores domésticos despontaram como concorrência, e bonecos e ursos de pelúcia se tornaram mais sencientes e falantes.

Em 1988, a Nintendo, uma empresa de cartas de baralho com 99 anos do Japão com um grande elenco de personagens amados dos fliperamas (Donkey Kong e os Mario Brothers), lançou nos Estados Unidos um console de videogame que dominou 80% do mercado em um ano. E no ano seguinte, a Nintendo lançou o Game Boy em concorrência ao Atari Portable Entertainment System e cimentou seu domínio sobre os consumidores.

Ou pelo menos por algum tempo. Afinal, uma característica certa do público alvo é sua inconstância.