Carlos Madeiro

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Reportagem

Em Maceió, Lula silencia sobre afundamento, afaga Lira e vê falta de Renan

A primeira visita de Lula (PT) a Maceió em seu terceiro mandado como presidente expôs o jogo político da capital alagoana, com a clara divisão entre MDB e PP/PL, mas também chamou atenção pelo silêncio do petista sobre o tema mais latente da cidade: o afundamento de solo na capital que atinge cinco bairros.

Diante de uma plateia dividida, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tomou uma sonora vaia e precisou ser "socorrido" por Lula. O prefeito JHC (PL) também não foi unanimidade, mas recebeu mais aplausos do que vaias. Já o maior rival de Lira, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), sequer apareceu, evitando as vaias que também ouviria.

Lula participou da entrega de 914 apartamentos do Minha Casa Minha Vida em Maceió, pondo fim a parte do complexo de favelas na orla lagunar.

Lula e políticos entregaram placa da obra do Minha Casa, Minha Vida em Maceió
Lula e políticos entregaram placa da obra do Minha Casa, Minha Vida em Maceió Imagem: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Cobrança sobre afundamento

Lula não falou de afundamentos, mas não foi por falta de lembrança no evento. Lideranças ligadas ao MUVB (Movimento Unificado de Vítimas da Braskem) entregaram uma carta a ele por meio do governador Paulo Dantas (MDB).

Esperávamos que ele pudesse fazer referência à nossa carta. Além disso, fomos impedidos de entrar com nossas faixas e cartazes. Mas o importante é que a carta chegou às mãos do presidente entregue pelo governador.
Maurício Sarmento, líder do MUVB

Na carta, as vítimas lembram que ainda há áreas remanescentes da tragédia que lutam pela relocação e cobraram apoio federal.

As vítimas da Braskem vêm pedir o apoio do governo de Vossa Excelência para essa luta multifacetada que os brasileiros de Maceió vêm travando contra uma empresa poderosa.
Carta a Lula

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Paulo Dantas, aliás, foi o único a citar o caso entre todos que discursaram.

Até agora ninguém falou do maior crime ambiental causado em áreas urbanas do mundo, que foi feito pela empresa Braskem. Qual a nossa obrigação: encontrarmos a saída para as vítimas, meio ambiente, para a cidade de Maceió, para as cidades da região metropolitana.
Paulo Dantas

Lula falou em seguida, mas não fez menção aos bairros afundados. Também discursaram Arthur Lira, o prefeito JHC, o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), e o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Antônio Vieira Fernandes; mas nenhum falou do tema.

Vista aérea dos bairros Mutange e Pinheiro, evacuados em Maceió
Vista aérea dos bairros Mutange e Pinheiro, evacuados em Maceió Imagem: Jonathan Lins / Folhapress

Vaias a Lira

Mesmo sendo aliado de JHC, que levou grande público ao evento, Lira não escapou de uma vaia quase uníssona ao discursar. Em certo momento da fala, se mostrou irritado e desabafou.

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Eu duvido que um morador que vai ser atendido por essas casas esteja vaiando hoje. Isso é uma falta de respeito. Mais do que vaias e aplausos, a função do parlamentar é trabalhar para o seu estado, continuar aprovando matérias no Congresso, dando suporte para que tudo aconteça nas políticas públicas.
Arthur Lira citando o pai, o ex-senador Biu Lira (PP) e atual prefeito de Barra de São Miguel (AL)

Lula, como sempre faz quando há vaias durante solenidades em que participa, levantou e ficou ao lado de Lira como um gesto de apoio. Depois, disse que as vaias o incomodaram.

Aqui é um ato institucional. A gente precisa aprender a respeitar quando o ato é institucional. Não tem cor partidária, porque senão fica difícil para um presidente viajar para inaugurar coisas. Porque as pessoas que vêm aqui são convidadas por nós, e ninguém convida gente para sua casa para ser vaiado e maltratado. É uma coisa de comportamento que me incomoda muito.
Lula, em evento em Maceió

Lira durante discurso m São José da Tapera, um dia antes
Lira durante discurso m São José da Tapera, um dia antes Imagem: Reprodução/Youtube

O afago ocorre após semanas complicadas da relação entre Executivo e Legislativos, com direito a vetos, farpas e até ações no STF. As relações começaram a entrar nos eixos na semana passada, e ficaram apaziguadas — pelo menos por enquanto — com o alinhamento entre os dois Poderes diante da tragédia no Rio Grande do Sul.

Renan falta; Filho não fala

A ausência mais sentida foi a do senador Renan Calheiros (MDB), que não participou do ato em Maceió, mas um dia antes esteve em ato com Lula em São José da Tapera. Lá, ele discursou e foi muito aplaudido pela plateia sertaneja.

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Arthur Lira e Renan Calheiros são rivais políticos há mais de uma década. O conflito começou com um desentendimento do senador com o pai do deputado federal, o ex-senador Biu, mas escalou com várias trocas de farpas pelas redes sociais.

Mas Renan sabe que tem baixa popularidade em Maceió e preferiu não medir forças com JHC e Lira, evitando assim uma provável vaia do público presente ligado ao prefeito bolsonarista.

Já Renan Filho (MDB), ministro dos Transportes, participou e foi colocado ao lado do seu maior adversário político no estado, o prefeito JHC, com quem deve disputar a eleição para governador do estado em 2026.

Assim como o pai, ele falou em São José da Tapera, mas não discursou em Maceió.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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