Prezados membros do Comitê do Nobel, No próximo dia 5, vocês anunciarão a nova ou o novo vencedor do prêmio Nobel de Literatura. Desde 1901, muitos dos escolhidos fazem parte da história da humanidade. Homens e mulheres que moldaram a forma pela qual pensamos o passado, lidamos com o presente e sonhamos com o futuro. Há um ano e depois do prêmio mais que merecido dado para a francesa Anne Erneaux, escrevi pedindo que suas escolhas sejam descolonizadas. Agora, insisto: vocês têm um papel fundamental em lutar contra a história única e em transformar a vida de milhões de leitores do que vocês chamam de periferia do mundo. Mas, para isso, precisam reconhecer a universalidade da arte e romper paradigmas que limitaram a compreensão do ser humano. Em mais de um século, o que prevalece nas escolhas de vocês é uma visão eurocêntrica da literatura e, no fundo, da civilização. Iniciado em 1901, o prêmio apenas saiu da Europa em 1913, quando o vencedor foi um indiano. Foi só em 1930 que um segundo prêmio saiu da Europa. Neste caso, ao americano Sinclair Lewis. Foram necessários mais 15 anos para que, de novo, o Nobel considerasse que a literatura de fora da Europa era merecedora de um prêmio. É verdade que, nos últimos anos, os escolhidos incluiram Turquia, Peru ou Tanzania. Mas é muito pouco. Até hoje, 15 franceses venceram o prêmio, contra 10 para o Reino Unido e outros 10 para americanos. Alemães e suecos venceram oito prêmios cada. Salvo o caso dos EUA, todos os dez primeiros colocados em termos de nacionalidades são europeus. Juntos, essas nacionalidades representam mais da metade de todos aqueles que venceram o prêmio. Se não bastasse, o ex-responsável do comitê, Horace Engdahl, abriu uma polêmica há alguns anos quando declarou que a "Europa ainda é o centro do mundo literário". A literatura é, para além do idioma escolhido, uma expressão universal. Ela não conta apenas a história de um povo. Mas da natureza humana. Desperta paixões, destapa emoções escondidas, sem qualquer fronteira, padrão ou dicionário. Criar qualquer tipo de hierarquia é negar o fato de que a arte nos define como humanos. É pela arte que conhecemos nossos ancestrais, refletidos em muros de cavernas, em papiros ou em obras que ainda estão sendo desenterradas. Ao descrever quem receberia o prêmio, Alfred Bernhard Nobel explicou que a honraria deveria ir àquele que deu "maior benefício para a humanidade". Pergunto, portanto, quem faz parte da humanidade para os senhores? Dia 5 de outubro saberemos. Saudações democráticas, Jamil PUBLICIDADE | | |