Mortes na construção do Itaquerão não foram acidentes
Nos últimos meses, uma terrível realidade se apresentou para os brasileiros: vivemos em um país onde as vitrines eleitorais estão acima da vida dos nossos trabalhadores. Fábio Hamilton Cruz, morto em março, após cair de uma altura de 15 metros, não é a primeira vítima dessa realidade. É apenas a mais recente.
Enquanto a presidente Dilma Rousseff tenta fazer o povo brasileiro acreditar que faremos “a Copa das Copas”, como ela diz, oito trabalhadores da construção civil já perderam suas vidas para a falta de planejamento e a ausência de uma real preocupação com as condições de trabalho nas obras dos estádios.
Com a data de abertura da Copa do Mundo se aproximando, o direito à dignidade humana e o respeito à vida como bem supremo de todo e qualquer ser humano são conceitos esquecidos. Os relatos de excesso de carga horária nas obras do Itaquerão já aparecem desde a morte de dois trabalhadores ocorridas em novembro.
Agora, a família de Fábio já relata que ele estava trabalhando seis dias por semana e recebera oferta da empresa para trabalhar sete, sem descanso. Em vez de aumentarem o número de trabalhadores na obra, os empresários acham mais barato explorar as necessidades dos operários que aceitam cargas de trabalho maiores do que podem aguentar com concentração e cuidado.
Frente a isso, não posso chamar a morte de Fábio de “acidente”, muito menos culpar a vítima – como logo se apressaram alguns. O fato é que trabalhador bem equipado, bem treinado e em condições de trabalho dignas não sofre acidente.
Os direitos trabalhistas foram conquistas que resultaram de árduas lutas dos trabalhadores brasileiros. Não podemos aceitar que a vida e a dignidade desses trabalhadores estejam abaixo dos interesses econômicos, políticos e eleitorais que envolvem a Copa.
Como explicar um evento que já chega perto do custo de R$ 20 bilhões não oferecer condições seguras de trabalho para aqueles que estão construindo os palcos dos espetáculos? A resposta pode vir dos filhos órfãos, das mães tristes ou das viúvas desses oito trabalhadores da construção civil: onde prevalecem os interesses econômicos e políticos dos mais poderosos, a corda estoura do lado mais fraco e as vidas dos trabalhadores não são prioridades.
Afinal, qual o preço que o Brasil está disposto a pagar pelas decisões tomadas com vistas ao lucro fácil e ganhos políticos? Tenho certeza que nenhum trabalhador gostaria de pagar com a própria vida.
- O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
- Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.