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São Paulo é solidária aos imigrantes e tem tradição em recebê-los

Especial para o UOL

10/05/2014 06h00

1º de Maio, feriado, os veículos se revezam no estacionamento da Missão Paz, na Baixada do Glicério, em São Paulo. Forma-se um entra e sai de pessoas que chegam para doar roupas e mantimentos. Entre elas, há empresários com oferta de empregos.

Alguns dizem que não há solidariedade em São Paulo. Mas o fluxo de pessoas que acorre ao local, onde centenas de pessoas estão abrigadas, se encarrega de contradizer a afirmação.

São brasileiros que vivem ou nasceram em São Paulo, uma metrópole com longa tradição de acolhimento e que foi construída pela força dos migrantes e imigrantes. Há ainda, entre os solidários, estrangeiros de vários países que aqui também foram recebidos de braços abertos.

Nos finais de semana, a comida é preparada por chefes de cozinha brasileiros e também por um mosaico gastronômico de outras origens. Há a noite chilena, a noite peruana, a noite boliviana e a noite italiana, com comidas típicas de cada país.

Na edificação vizinha à bela igreja Nossa Senhora da Paz, repleta de pinturas e esculturas, uma grande quantidade de alimentos se acumula nos corredores. Há também colchões e cobertores.

Eles foram doados pelo município e pelo governo estadual, mas principalmente por famílias, organizações não-governamentais e entidades filantrópicas. Tem sido assim desde a notícia de que centenas de imigrantes haitianos estavam chegando a São Paulo.

Eles desembarcaram em massa nos terminais rodoviários intermunicipais de São Paulo, depois de percorrer cerca de três mil quilômetros de estradas e rodovias.

Estima-se que, aproximadamente, 1500 haitianos chegaram do Acre e de Rondônia no espaço de menos de um mês. Esse número tão expressivo de pessoas pegou a cidade de surpresa.

Medidas emergenciais foram adotadas pela prefeitura e pelo governo estadual. O primeiro atendimento se deu pela Igreja Católica, por meio da Missão Paz, que assumiu um papel importantíssimo desde o primeiro instante. Aos poucos, uma grande rede de solidariedade foi se formando e as soluções foram acontecendo.

O certo é que, desde a sua origem, o episódio acabou assumindo dimensões que revelaram a precariedade de nossa capacidade de acolher grandes deslocamentos humanos.

A questão transcende as disputas entre governos, já que nenhum governo isoladamente pode assumir uma responsabilidade como essa sem a União, que é a quem compete essa tarefa.

A solução passa por aprofundar o diálogo e estabelecer uma real interação entre os três entes federativos – municípios, governos estaduais e governo federal, com base numa efetiva política nacional de imigração.

O objetivo é acolher de forma organizada os imigrantes, providenciar com celeridade os seus documentos, verificar suas condições de saúde, enfim, criar condições para que eles possam se integrar à sociedade brasileira, sem passar pela angústia da longa espera em abrigos improvisados.

Estamos trabalhando em uma proposta de política nacional migratória, com o concurso de diversos órgãos da Justiça e que será entregue ao governo federal, para o início de um diálogo a respeito do tema.

Com essa proposta, queremos contribuir para que o país tenha condições efetivas de receber de forma solidária quem vem ao Brasil em busca de um futuro melhor para as suas famílias. Enfim, fazer com que essa perspectiva se concretize de fato.