Sentir medo é humano, mas atletas precisam aprender a enfrentá-lo
O futebol é a modalidade esportiva mais popular do mundo, com cerca de 270 milhões de praticantes envolvidos em diferentes competições. Só para que se tenha ideia, a Copa do Mundo é o evento mais famoso e com maior quantidade de espectadores, o dobro da audiência da Olimpíada.
No Brasil, o futebol é muito mais do que uma modalidade esportiva. Futebol representa uma das manifestações culturais mais populares, capaz de mexer com a mente e corações, especialmente daqueles que fazem acontecer – os protagonistas que são as comissões técnicas e jogadores.
Imaginem a carga emocional de nossa seleção ao jogar diante de uma plateia exigente e com a expectativa do hexa? Portanto, além da qualidade técnica, do condicionamento físico e da disciplina tática, é preciso competência emocional.
O jogo emocional se destaca na busca incessante pelo êxito, especialmente nos momentos em que a importância da partida encontra a incerteza do resultado. Essa é a hora da verdade, que se apresenta nos instantes de decisão, nos quais a tensão muitas vezes define quem se consagra e quem fica ao longo da competição.
Aqueles que têm maior domínio emocional levam vantagem, porque as habilidades sociais e emocionais são definitivas nos esportes, nos negócios e na vida.
Lágrimas
O choro de alguns atletas da seleção brasileira durante o momento dos pênaltis e também após a partida contra o Chile chamou a atenção de torcedores e da mídia em geral. Essa reação emocional levanta a questão: nossa seleção está emocionalmente preparada para conquistar o hexa?
Chorar é uma reação neurofisiológica humana, produzida pela glândula lacrimal e que tem três funções básicas: lubrificante, reflexa e emocional.
Choramos por estados de alegria pelas vitórias e conquistas alcançadas, medo ou preocupação com a possibilidade de derrota, alívio quando os resultados esperados foram atingidos, raiva e frustração quando a expectativa não é foi correspondida e, finalmente, tristeza e decepção diante das derrotas - como a que aconteceu com a seleção contra o Uruguai na Copa de 1950, em pleno Maracanã.
Fazendo uma breve avaliação, é possível identificar diferentes significados para o choro de nossa seleção. O capitão Thiago Silva, por exemplo, admitiu que a tensão minou sua confiança antes da disputa dos pênaltis.
A autoconfiança é um sentimento que nasce da soma de conquistas e realizações passadas. Michael Jordan costumava dizer que à medida que alcançava suas metas, os resultados iam se somando e ele ganhava confiança a cada conquista. Para ele, era um trabalho puramente mental. Portanto, ao focar sua atenção em pensamentos que lembram os erros passados, Thiago produziu o medo de errar novamente.
O medo é uma emoção familiar a todos nós. O problema é que ele nos coloca em estado de alerta, através do alarme interno gerado por reações químicas ou descargas de hormônios do estresse (adrenalina e cortisol), capazes de causar sensações físicas como aceleração cardíaca, alteração respiratória e tremor, e nos prepara para lutar ou fugir.
Portanto, sentir medo é humano, mas é preciso aprender como enfrentá-lo, e isso é relativamente simples e também indispensável aos atletas de alto rendimento, especialmente nesses momentos de extrema tensão, em que a importância da partida encontra a incerteza dos resultados.
A seleção está emocionalmente preparada? Sugiro uma reflexão sobre alguns indicadores sobre como atletas se sentem nos momentos de alto rendimento:
- Energizados (otimistas e competitivos): a Seleção demonstra que está OK
- Ansiedade produtiva (pensamentos de ser possível atingirem os objetivos estabelecidos): OK
- Relaxados e soltos (baixa tensão muscular): merece atenção
- Calmos, tranquilos e pacientes (quietude interna): merece atenção
- Divertem-se e sentem prazer ao jogar (jogam com alegria): OK
- Mentalmente concentrados (resistem às distrações externas, como hino, torcida e autocriticas internas): merece atenção
- Com autoconfiança (sensação de ser capaz): OK
- Controle emocional (maior desafio – controle do medo, ansiedade, raiva, tristeza) - merece atenção
Algumas técnicas de enfrentamento podem ser aliadas do condicionamento emocional. Por exemplo, aprender a controlar a respiração – cujo objetivo é regular batimentos cardíacos, diminuir a tensão muscular e regular o nível de ativação interna – e a restruturação cognitiva, que é substituir pensamentos disfuncionais, negativos e improdutivos.
Na prática, Michael Jordan nos ensina que: o medo é uma ilusão que aparece quando pensamos nas consequências de errar ou imaginamos resultados negativos – a técnica é focar no que fazer para conseguir o que se quer.
Em qualquer esporte, o êxito ou fracasso é resultado do complexo conjunto de variáveis que integram o momento da competição. Portanto, a competência psicológica precisa ser levada a sério e integrada aos programas interdisciplinares do esporte de forma sistematizada.
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