Topo

Fifa é um game sem alma, no qual vence quem pode pagar por conteúdo

Especial para o UOL

16/07/2014 06h00

Corinthians x Palmeiras? Flamengo x Fluminese? Grêmio x Internacional? Atlético x Cruzeiro? Sim, rivalidades imensas, que não raramente explodem para a agressão verbal e física. É quando o futebol deixa de ser entretenimento e paixão para ser burrice e escape para as frustrações do dia a dia.

Mas há outra maneira de fugir disso, ainda sendo futebol, ainda envolvendo rivalidades e paixões que dificilmente permitem trocar de lado, pular o muro, virar a casaca.

A geração dos 30 e 40 anos de idade sabe que o futebol dos gramados reais está sendo cada vez mais substituído pelo gramado dos games quando olha para os filhos. Neste gramado existem dois lados bem claros e distintos, como água e óleo: Pro Evolution Soccer, também conhecido pela velha guarda como Winning Eleven ou simplesmente PES. E Fifa Soccer, que já abandonou o "soccer" para ser apenas Fifa.

Em muitas situações, é possível enxergar mais paixão e fidelidade por quem prefere um ou outro game do que pelo próprio time do coração. Discussões acaloradas, defesas e ataques veementes com golpes abaixo da linha da cintura são comuns para louvar seu game favorito e desmerecer o rival.

Neste duelo, PES carece das licenças mais populares? Já Fifa sofre com o estigma de game feito por quem não entende nada de futebol.

Seu sucesso comercial é baseado na chancela da Fifa - que intitula o game -, e por pagar fortunas por licenças como a Premier League Inglesa, (hoje a mais popular do mundo), e a Bundesliga alemã (a segunda na preferência dos fãs), além de impedir por cláusulas para lá de discutíveis que a rival as obtenha.

O fair play passa longe dos produtores de Fifa. Enquanto PES tem em sua maioria fãs acima dos 25 anos de idade - algo em torno de 80% de seu mercado -, Fifa arrebanha a quase totalidade da molecada que ainda não passou dos 18 anos.

Fifa domina 3/4 do mercado europeu e quase 100% do mercado nos EUA, que se não tem o "soccer" ainda como paixão nacional, garante ao menos 3 milhões de unidades vendidas a cada título anual. Na parte latina das Américas e na Ásia, assim como em alguns rincões do velho mundo - como Turquia, Grécia e mais da metade do leste europeu-, PES é quem dita o ritmo do jogo.

Ainda que a balança comercial pese a favor de Fifa nos últimos anos, destronando PES e tomando-lhe uma coroa que era ostentada com glória e sem questionamentos na geração do Playstation 2, a franquia japonesa ainda é uma rival imbatível quando o assunto é emoção, jogabilidade, diversão e a reprodução de uma imagem mais realista e justa do jogo bonito.

Em muitos aspectos, Fifa parece um game sem alma e totalmente mercantilista, no qual vence quem pode pagar por conteúdo do game que irá inevitavelmente anabolizar seu elenco e, por tabela, seu clube.

Pay to Win: Pague para Ganhar!

Se a intenção de quem desenvolve ambos os games é tornar seus produtos o mais realista possível, há de prevalecer a lei do mais forte financeiramente. Mas a realidade de magnatas russos, árabes ou do Azerbaijão não deve ser parâmetro para a confecção de um game de futebol.

E é justamente neste aspecto que PES sai vitorioso do gramado virtual. Ao dar a chance do melhor vencer pelas suas habilidades, não pela facilidade em usar o cartão de crédito do pai.

PES 6, produzido no longínquo ano de 2005 continua a ser a autoridade quando o debate é qual é o melhor game de futebol da história. Não à tôa, é o jogo que marcou uma geração inteira pela diversão que proporcionava, e proporciona até hoje aos saudosistas.

A uma certa altura Fifa quis seguir por esse caminho, mas o espírito empreendedor americano não permite disputas leais em nenhum segmento de sua sociedade de consumo.

Não seria com a indústria de games, a mais lucrativa do mercado de entretenimento digital atualmente que a história seria outra.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br