Identidade brasileira é invejada e desejada por qualquer estrangeiro
Assim que pisa em solo estrangeiro, todo turista logo é descoberto. Suas roupas, seus gestos, e, principalmente, sua fala e sotaque revelam. Só poucos minutos de convivência com os nativos e o estrangeiro é abordado e questionado: “De onde vem? Onde nasceu? O que veio fazer aqui?”.
Essa recepção é tão usual que qualquer curso de línguas inclui em suas primeiras aulas um treino de perguntas e respostas dessa conversa entre estrangeiros chegando a um país e os locais.
Nós, brasileiros, conhecemos bem esta história. O brasileiro que viaja ao exterior está acostumado a ouvir: “É brasileiro? Gosto muito dos brasileiros! Vejo um brasileiro e lembro do samba, do Carnaval, e do futebol. Que coisa linda!”.
Com orgulho, o brasileiro sorri e confirma: “Sim, sou brasileiro!”. E esse diálogo abre as portas lá fora, rendendo diversas perguntas sobre futebol, carnaval e samba, e abrindo chance para bons relacionamentos com os locais.
Por outro lado, esta mesma conversa no exterior é tão repetida que incomoda muitos de nós. Entre os turistas que se sentem assim, é consenso que a visão do Brasil pelo estrangeiro como o país do Carnaval, samba e futebol é muito pequena (e até ofensiva) para um país grande e diverso.
Como solução, pensam: “Não faria mal aos estrangeiros conhecerem o Brasil antes de falarem sobre nós; se querem saber quem somos, visitem o Rio de Janeiro, mas conheçam também Manaus, São Paulo, Salvador, Porto Alegre e compreenderão nossa dimensão e riqueza. Quero ver se repetiriam para mim este papo furado sobre brasileiro depois de nos visitar!”.
O fato é que, agradando ou incomodando, sabemos que a identidade do brasileiro é inevitavelmente ligada a esta trinca. E isto não é tão mau assim. Se os estrangeiros tocam neste assunto é porque pensam em um mar de emoções positivas. Felicidade, descontração, relaxamento, enfim, tudo o que um ser humano sonha de bom para a vida.
Não é para menos que, ao nos conhecer, muitos se abrem em um grande sorriso, e procuram prolongar ao máximo a conversa com um brasileiro na tentativa de se manter alegres. Nossa identidade é invejada e desejada por qualquer estrangeiro!
Seleção e identidade nacional
Estou preocupado com nossa identidade. Depois de sonhar com o hexa investindo 25 bilhões de reais em estádios para garantir o hexa campeonato, e ganhando uma Copa das Confederações em 2013 vencendo cinco seleções que não iriam além das oitavas na Copa de verdade, acordamos há quase duas semanas em meio a um pesadelo. As manchetes do mundo inteiro estamparam: “Vergonha”, “Humilhação”, “Vexame” e “Tragédia”, depois dos 7 X 1 que a Alemanha nos aplicou.
Mas Felipão me tranquilizara: foram apenas “seis minutos de pane“, um acaso para a nossa “competente“ seleção brasileira. As manchetes passaram, confiei no “Felipão”, mas a realidade voltou. Perdemos de novo. É, nosso futebol vai mal mesmo. Não fazemos mais gols e não encantamos o mundo com nossos craques como fizemos em 58, 62, 70 e 82.
Também não somos capazes de nos defender dos ataques da Alemanha e Holanda (tomamos dez gols em dois jogos) como nas últimas décadas aprendemos a fazer. Agora, sofremos também com nossos colegas sul-americanos que outrora não nos traziam medo (foi de matar ver uma bola no travessão nos estertores do jogo com o Chile !). Vejam, falo em primeira pessoa do plural (nós), pois não é a seleção parte da nossa identidade?
Para piorar, o momento nos força lembrar apenas de tudo em que o Brasil costuma fracassar: falhamos como gestores na entrega dos 12 estádios da Copa, nossos jovens carecem de uma educação de qualidade (o desempenho de alunos brasileiros nos rankings de educação é pior do que dos nossos companheiros argentinos e chilenos), e os serviços públicos são um desastre (desnecessário explicar).
O que nos parece é que não temos alternativas para manter nosso orgulho. Neste instante, é o futebol que nos traz ainda memórias fortes e positivas para servirem de pilar à nossa identidade.
Falhando por não criar alternativas para uma nova identidade, o Brasil dos brasileiros ficou nesta Copa ainda menor. Eu, que me gabava de discutir com estrangeiros sobre dribles, passes em profundidade, defesas milagrosas - arrotando Pelé, Gerson, Ronaldo, Romário, Leão, e até os gols do Rogério Ceni -, agora terei que conjugar os verbos deste discurso no passado. Ainda mais, preciso, com urgência, encontrar uma escola de dança para aprender samba.
Apanhamos, “perdemos o rumo”. O que respondo para o argentino que me pergunta em espanhol onde está o futebol brasileiro? Quem somos nós, brasileiros? Respondemos só com o hexa?
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