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Trabalhar em casa melhora qualidade de vida e diminui o trânsito

Especial para o UOL

10/08/2014 06h00

A movimentação viária e sua convivência com o transporte público é um dos principais desafios que integram a agenda atual das grandes cidades. Nos últimos dez anos, a frota de automóveis e motocicletas praticamente quadruplicou no Brasil. Por outro lado, o transporte público não evoluiu no mesmo ritmo, e hoje não é capaz de atender satisfatoriamente as demandas da sociedade.

Apesar dos esforços e iniciativas governamentais para a melhoria do trânsito, muitas cidades vivem hoje no limite da mobilidade. São Paulo, por exemplo, possui uma frota de 7,4 milhões de veículos, 15 mil ônibus, 74,3 km de linhas de metrô e 252,1 km de linhas de trem. Os 8,7 milhões de trabalhadores paulistanos gastam, em média, 46 minutos no trajeto para o trabalho.

Quem vive na Grande São Paulo e trabalha na capital gasta o dobro de tempo. Os dados são resultados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) conduzida pelo IBGE em 2012.

As perdas não se resumem ao desperdício de tempo. Segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os custos das horas em que as pessoas deixam de produzir por estar no trânsito passaram de R$ 10,3 bi para R$ 30,2 bi, entre 2002 e 2012. Apenas no Estado de São Paulo, os congestionamentos causam anualmente prejuízos de R$ 4,1 bilhões.

Excesso de veículos e altos índices de poluição não são problemas exclusivamente nossos. Paris, como qualquer outra grande metrópole, também possui sérios problemas de trânsito. Para melhorá-los, a prefeita Anne Hidalgo anunciou uma proposta, no mínimo, curiosa: reduzir a velocidade máxima de todas as vias para 30 km/h.

Para Hidalgo, ao tornar o tráfego de carros mais lento, outros meios de locomoção seriam privilegiados. Os ciclistas, por exemplo, teriam mais segurabnça para pedalar.

Obviamente, a realidade francesa é diferente da nossa, e reduzir a velocidade máxima não resolveria por completo a questão da mobilidade nas principais capitais brasileiras.

Mas a proposta apresentada pela prefeita de Paris explicita dois pontos fundamentais relacionados à mobilidade urbana: o uso pouco racional do automóvel prejudica a mobilidade (quando não integrado a outros meios de transportes) e seu uso em excesso piora a qualidade de vida da população.

Uma solução realmente eficiente, sustentável e de longo prazo deve vir da priorização de modalidades alternativas de locomoção, como o transporte coletivo e as bicicletas. Por isso, a mudança desse cenário é, em certa medida, responsabilidade do Estado.

Responsabilidade empresarial

Mas cabe também a nós, como representantes da iniciativa privada, contribuir para a construção de uma nova realidade. Isso porque em nosso dia a dia impactamos diretamente o processo de mobilidade urbana, seja com a locomoção de nossos funcionários, de nossas frotas ou com o transporte de produtos.

E, nesse ponto, as empresas têm papel fundamental, ao apresentar soluções que favoreçam o deslocamento de funcionários em favor do trânsito. O trabalho remoto é uma iniciativa com impacto relevante na mobilidade dos grandes centros por contribuir com a redução dos carros em circulação e da demanda por transporte público. 

Para as empresas, os benefícios vão além da redução de despesas com espaço físico, uma vez que o trabalho remoto incentiva o aumento de produtividade, a redução de faltas e a melhoria na atração e retenção de talentos.

Para os trabalhadores, os benefícios são a melhoria substancial da qualidade de vida, maior disponibilidade de tempo para outras atividades  e para o convívio familiar. 

O trabalho remoto é apenas uma de uma série de ideias e ações que podem ser adotadas para contribuir com a mobilidade nos grandes centros. Se desejamos efetivamente criar as condições para o surgimento de cidades mais sustentáveis, iniciativas como essa podem ser o primeiro passo na busca por soluções que contribuam para aprimorar a mobilidade urbana. A responsabilidade de construir um ambiente urbano mais sustentável é de todos. As vantagens, também.

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