Empresas tentam ajustar salários inflacionados e baixa produtividade
O mercado de trabalho no Brasil seguiu nos últimos dez anos uma trajetória alinhada às expectativas formuladas nacional e internacionalmente sobre a economia brasileira. A equação subjacente a essa trajetória foi definida com base num PIB que cresceu significativamente até 2010, atingindo 7,5% naquele ano. Nesse percurso, a taxa de desemprego recuou de 12,4%, em 2003, para 5,5%, em 2012.
Com a não concretização, no período decorrido, de investimentos estruturantes capazes de garantir o continuado desenvolvimento do país, a economia, que até então apresentara bons resultados derivados do aumento do poder de compra via consumo interno, esgotou a sua capacidade de crescimento.
O mercado de trabalho, que segue sempre a performance econômica, apresentou um período de inflação e pressão salarial e passamos a assistir uma verdadeira guerra sobre os melhores talentos do mercado. Podemos dizer até que o clima chegou a ser de euforia, ocorrendo inclusive algumas movimentações de carreira prematuras e irrefletidas.
Desde 2011, o PIB apresenta uma trajetória inversa, regredindo ao patamar de 2,3% em 2013 e um número final previsto para 2014 muito perto de 0%. Essa realidade reflete-se nas prioridades das empresas que atuam no Brasil. Na tentativa de ajustar a sua produtividade, travam uma luta muitas vezes inglória, pois a velocidade com que esse ajuste precisa ser feito não encontra sintonia com a natural progressão dos fatores envolvidos numa mudança de modelo.
Para alavancar a performance do mercado de trabalho brasileiro, são necessárias ações corretivas sobre alguns fatores estruturais. A flexibilidade do mercado de trabalho hoje é determinante para o desenvolvimento do Brasil. É preciso avaliar as barreiras legais e de burocracia apresentadas às empresas quanto às decisões sobre o seu contingente laboral.
O cenário atual também reflete um desalinhamento de qualificações profissionais. O hiato entre as qualificações necessárias nas empresas e as disponíveis no mercado é um dos fatores restritivos a um mercado mais equilibrado, e por consequência, salários mais ajustados às produtividades das empresas.
Neste quesito, é essencial a colaboração e planejamento conjunto entre instituições acadêmicas e empresas. Na Alemanha, por exemplo, existe uma forte sinergia entre essas duas áreas, com um papel determinante na produtividade daquele país.
Opinião - Carla Rebelo
O hiato entre as qualificações necessárias e as disponíveis é um dos fatores restritivos a um mercado mais equilibrado
Retomando o tema central de qualquer debate sobre mercado de trabalho – a produtividade – verificamos que, nas empresas no Brasil, estão já em curso alguns ajustes que, de um modo ou outro, refletem o cenário criado por variáveis desreguladas.
Salários inflacionados e carreiras prematuramente aceleradas nos fazem constatar que o desenvolvimento econômico jamais estará dissociado de uma mudança de base nos fundamentos principais.
Por meio do Guia Salarial 2014/2015, elaborado pela Hays em parceria com o Insper, chegamos à conclusão que o número de empresas que realizaram demissões passou de 61% em 2013 para 48% em 2014. Por outro lado, a estagnação de salários praticada por 18% das empresas em 2013, afetou 26% das empresas em 2014 e por último, a rotatividade de profissionais desacelerou de 63% em 2013 para 36% em 2014.
A confiança na economia piorou, mas parece evidente que as empresas começaram o seu trabalho de preparação já no ano passado e que esse ritmo vem demonstrando agora uma tendência de menor agravamento das condições.
Não obstante, assistimos este ano a uma preocupação das empresas em avaliar e substituir, se necessário, pessoas em cadeiras de gerência e média gerência que não estejam devidamente gabaritadas e preparadas para lidar com o novo paradigma: resiliência, polivalência, sentido de dono e orientação para resultados.
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